Newsletter BaixaCultura #75: Oprimidos em rede contra o colonialismo digital

Buenas,
Segundo boletim enviado de um novo serviço - o Buttondown, serviço de código aberto que conheci através do Manual do Usuário. Ainda em caráter de teste, mas gostamos, viu?
A ideia comentada aqui na última edição (#74, 27/9/25) era enviar newsletters menores e mais frequentes, com o mesmo tipo de conteúdo que fazemos até aqui. Mas é claro que nem tudo é conforme o planejado, e cá estamos enviando esta edição mais de um mês depois da última. Outubro e novembro costumam ser meses puxados demais, onde mal consigo parar para sistematizar tudo. Mas aqui vai uma tentativa.
Leonardo Foletto
São Paulo, 8/11/2025

Conversa sobre Informática do Oprimido na íntegra
No dia 1 de outubro de 2025 reunimos Rodrigo Ochigame (Universidade de Leiden), autor de “Informática do Oprimido”, junto com Paola Ricaurte (Tecnológico de Monterrey), Rafael Grohmann (Universidade de Toronto) e Leonardo Foletto (Universidade de São Paulo) para discutir o livro, publicado pela Funilaria em parceria com Baixa Cultura neste 2025. O diálogo explorou as experiências históricas de informática na América Latina – desde a biblioteconomia revolucionária cubana até as redes de intercomunicação da teologia da libertação – e suas conexões com as lutas contemporâneas por infraestruturas digitais mais democráticas e justas. Abordamos também questões de memória, documentação, soberania digital e a urgência de imaginar e construir alternativas tecnológicas a partir do Sul Global.
"Uma das histórias que menciono um pouco mais brevemente no livro é que a primeira equipe que tentou criar o primeiro computador em Cuba, e foi bem-sucedida no fim da década de 60, não conseguiu comprar alguns dos componentes eletrônicos necessários na Europa por causa do embargo, mas acabou conseguindo comprar no Japão com ajuda de um militante cubano de ascendência japonesa que trabalhava como comerciante em Tóquio e apoiava a revolução." Rodrigo Ochigame
"Las infraestructuras de la información, los mecanismos a través de los cuales esa información fluye, quiénes controlan esos flujos y para qué propósitos sirven, siguen siendo absolutamente vigentes como Rodrigo lo muestra en este libro. Y además hoy en particular, pienso, son todavía más visibles cuando vemos regímenes autoritarios, en particular ahora, queriendo controlar estos regímenes de información. Y también asociados con una política de exportar este tech stack para que sea dominante para todo el planeta. Eso siempre ha ocurrido, pero creo que hoy en particular es mucho más visible. Esto también permite pensar estas necesidades de pensar alternativas, de las que Rodrigo habla en el libro, para que no nos casemos con la idea de que lo que tenemos hoy es inevitable y no hay ninguna posibilidad de transformar la realidad hacia el mundo que queremos ver. Y lo veo ahí en el chat, hay personas que están participando en esas iniciativas. Veo que está Tierra Común, aquí en México, una cooperativa. Veo personas aliadas que están trabajando desde sus distintas trincheras en distintas partes del mundo, apostando por esos otros proyectos alternativos." Paola Ricaurte
Fizemos uma transcrição editada da conversa e publicamos no site.
* E por falar em “Informática do Oprimido”, uma entrevista dada por Rodrigo em agosto de 2025 finalmente foi publicada na Folha de S. Paulo, impressa e online, na edição de 7 de novembro. Renderia uma boa aula no jornalismo sobre como a edição da Folha (internalizada nos valores-notícia do repórter) chancela Rodrigo a falar sobretudo a partir de sua experiência nos EUA e na Europa, tirando parte de sua radicalidade (onde está Cuba, tema central do livro?) para adequar a um discurso agora status quo da mídia tradicional contra as big techs. Ainda assim, Rodrigo deu bem seu recado.

O colonialismo não é um período histórico que acabou, mas um sistema de dominação que continua operando no presente, tanto por práticas extrativistas, como pela maneira como formas de conhecimento, corporalidades e territórios diferentes da visão daqueles que tentam dominar são inferiorizados. Por isso, preferimos “estender o conceito de colonialismo de dados para a ideia de colonialismo digital, porque o colonialismo, aqui, vai além de dados: ele se manifesta na extração de minérios para dispositivos tecnológicos, no consumo predatório de água e energia para datacenters, na precarização do trabalho de moderação de conteúdo no Sul Global, na imposição de valores corporativos através de algoritmos que decidem o que merece visibilidade, entre outras tentativas de submissão.
Países como China, Rússia, Índia e nações europeias têm construído legislações e infraestruturas próprias, como demonstram estudos diversos. A China, por exemplo, colocou em prática em 2017 sua Lei de Segurança Cibernética exigindo localização de dados em território nacional, enquanto a Índia expande agressivamente sua infraestrutura de datacenters próprios. O Brasil tem potencial para buscar soberania tecnológica, alinhada com outros valores, como governança democrática, gestão comunitária e promoção de infraestruturas autônomas. Modelos alternativos existem, baseados em dados curados comunitariamente, infraestruturas descentralizadas e federadas. Essas alternativas, porém, não recebem o mesmo investimento nem visibilidade que as soluções corporativas.
Organizamos (eu e Joana Varon, da Coding Rights) algumas ideias sobre colonialismo digital e sugestões concretas para poder minimizar seus efeitos na América Latina, em especial no caso brasileiro. Publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, republicado no BaixaCultura.

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ENTREVERO
O Rede das Redes aconteceu nos dias 13 e 14 de outubro, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, no Rio de Janeiro, com mais de 50 pesquisadores e ativistas da América Latina para discutir e imaginar quais futuros tecnopolíticos são possíveis materializar diante de um cenário de multi-crises. Ao final, cada um dos 5 eixos - Autonomia, comunalidade e soberania digital; Imaginários e futuros decoloniais; Pedagogias, epistemológicas e educação crítica; Materialidades, extrativismos e regeneração; “Fazer com”: resistências do território - produziu um relato/documento sobre os temas, que compilaram diversas ações e ideias para os próximos anos. Na próxima newsletter trazemos o documento com a sistematização dessas discussões. Enquanto isso, um relato breve no site do LAVITS.
“Optar por alternativas é um ato de responsabilidade e autonomia. Migrar gradualmente para serviços que respeitam a privacidade e funcionam de forma aberta e independente ajuda a recuperar o controle sobre os próprios dados, fortalecer o software livre e construir um ecossistema digital mais ético e sustentável”. Este guia, proposto pelo Movimento do Software Livre Brasil, propõe um plano prático de cinco semanas para reduzir sua dependência do Google de forma segura, consciente e organizada.
“Buscamos propostas para co-criar, na prática, modelos alternativos de IA que promovam igualdade de gênero interseccional, justiça socioeconômica e ambiental para melhorar a qualidade de vida de todes. São elegíveis solicitações da comunidade acadêmica, sociedade civil e movimentos sociais nos países da região, desde que proponham projetos centrados em e desenvolvidos com comunidades da região. Cada equipe deve ser liderada por mulheres ou pessoas de gênero diverso, que também devem ter papéis-chave nos processos de tomada de decisões.” Chamada da Rede de Inteligência Artificial da América Latina e Caribe;
