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Maio 22, 2025

#3 A história de Bharcchū e os obstáculos ao conhecimento

Quando abrimos os olhos, nossa visão – que é o pramāṇa para formas e cores – funciona imediatamente e enxergamos, sem qualquer demora. Igualmente, na parábola do décimo menino, quando escuta a frase “você é o décimo”, o jovem imediatamente adquire o conhecimento direto “eu sou o décimo” e se torna livre do sofrimento.

Então, por que quando um buscador se expõe a Vedānta – o śabda-pramāṇa na forma das frases “você é Aquele” etc. – aparentemente nada acontece de imediato? Por que a necessidade do estudo de Vedānta, que geralmente leva longo tempo? Já deveríamos ter entendido o ensinamento ao escutar a primeira aula – ou nem isso, ao escutar o primeiro mahāvākya¹1.  Vedānta parece não estar funcionando tão bem quanto deveria e em alguns casos parece nem mesmo funcionar. 

Essa objeção parece validar a atraente e popular ideia de que, por meio das escrituras, primeiro adquirimos um conhecimento meramente teórico acerca do eu ilimitado, para só posteriormente, por meio de alguma prática meditativa, sermos capazes de experienciá-lo diretamente. Soa como uma explicação convincente para o problema. Mas já vimos em outro artigo que essa ideia, por mais popular que seja, não é correta de acordo com nossa tradição.

Então, qual a resposta? Na verdade, o mahāvākya funciona de imediato, como outros pramāṇas, e uma pessoa com a mente relativamente qualificada pode adquirir o conhecimento direto “eu sou Brahman” ao escutar Vedānta pela primeira vez ou, ao menos, logo no início do estudo. No entanto, o que ocorre praticamente na totalidade dos casos é que esse conhecimento direto nasce junto com certos obstáculos que impedem a pessoa de usufruí-lo. E a existência de tal conhecimento com obstáculos é semelhante à sua ausência no que diz respeito ao seu fruto, mokṣa. É como se a pessoa não o tivesse.

Assim, o longo, consistente e sistemático estudo de Vedānta, chamado śravaṇam [escutar], e também o mananam [refletir] e o nididhyāsanam [contemplar], na verdade, não servem para a aquisição do conhecimento, mas sim para a eliminação desses obstáculos ao conhecimento direto já adquirido por meio do mero contato inicial com o mahāvākya. Quando esses obstáculos são removidos pelas práticas de escutar, refletir e contemplar, temos o que é chamado de conhecimento firme, dṛḍha-jñānam. 

O conhecimento é considerado “não firme” quando não está disponível para a pessoa o tempo todo. Num momento calmo e solitário de contemplação ou estudo, há a visão clara sobre sua identidade com Brahman, o livre de limitação, mas, no dia a dia, parece que esse conhecimento escapa. Em contrapartida, o conhecimento é considerado “firme” quando está presente sem os referidos obstáculos e, por consequência, passa a estar disponível em todos os momentos, mesmo nos mais críticos, refletindo-se plenamente na vida da pessoa. A pessoa que obtém esse conhecimento firme é chamada jīvanmukta: livre em vida. 

Há uma história que ajuda a explicar isso.

A história de Bharcchū²2

Conta-se que na Índia antiga um rei governava junto de vários conselheiros. Dentre esses, seu favorito chamava-se Bharcchū. Ele detinha a posição de conselheiro principal e era seu grande amigo. Diante desse cenário, todos os outros conselheiros começaram a sentir inveja e se juntaram num plano contra ele.

Eles armaram para que ladrões invadissem o reino e que o rei convocasse uma assembleia e determinasse que alguns dos conselheiros fossem até o local da invasão. Como Bharcchū não estava entre os escolhidos, os outros imediatamente questionaram por que o conselheiro favorito não havia sido convocado. Bharcchū então se pronunciou, dizendo que estava pronto para ir naquele instante se fosse necessário. O rei assentiu, e Bharcchū partiu sozinho em sua missão.

Poucos dias depois, ele já havia cumprido sua tarefa e resolvido o problema. Mas, antes que retornasse, os outros conselheiros, sabendo do seu sucesso, inventaram que ele fora assassinado pelos ladrões. O rei acreditou e, com muita tristeza, designou outra pessoa para o cargo de conselheiro principal.  O novo encarregado arquitetou inúmeros planos para que Bharcchū fosse impedido de entrar novamente no reino e para que o rei não pensasse no seu “falecido” conselheiro nem em sonho.

Tomando conhecimento de tudo que havia acontecido, Bharcchū passou um tempo a sós na floresta a refletir e descobriu vairāgyam, o desapego: “Não é apropriado que eu volte ao reino! Como fui tolo de viver imerso numa vida mundana de prazeres e frivolidades cortesãs, afastado do caminho de mokṣa, a liberdade. Aqui na floresta há tudo de que preciso. Estive nutrindo essa língua com todo tipo de iguarias no palácio. Mas não mais farei isso. Não há aqui na floresta todo tipo de raízes, folhas e frutos para matar a minha fome? Não há água pura para matar minha sede? E não há cavernas que me protejam do frio, do calor e da chuva? Por que viver no reino uma vida de cão, servindo ao rei apenas para encher este estômago? A partir de agora, a terra será minha cama; meus braços, o travesseiro; raízes e frutas, o meu alimento, e como copo terei minhas mãos em concha”.

Refletindo dessa maneira, apreciando as várias limitações dos prazeres sensórios, Bharcchū entende que uma vida de renúncia e simplicidade é o melhor meio para a felicidade verdadeira e passa a se dedicar ao estudo e à contemplação vivendo sozinho na floresta. Ele se torna um sādhu.

Seu substituto no reino, sabendo que agora Bharcchū se tornara um sādhu, discute com os outros acerca do perigo que corriam caso o rei recebesse notícias sobre seu antigo amigo ou mesmo o encontrasse pessoalmente numa de suas caçadas na floresta. Eles então inventam que Bharcchū, depois de assassinado pelos ladrões, havia se tornado um piśāca, um espírito maligno, que vagava pelas florestas com o corpo coberto de cinzas brancas. Além disso, contam que ele atacava qualquer um que visse e que somente aqueles que fugiam assim que o encontravam sobreviviam. O rei, acreditando em seus conselheiros, se convence da história inventada.

Alguns anos depois, caçando na floresta nos arredores do reino, o rei vê, com seus próprios olhos, Bharcchū em carne e osso, meditando embaixo de uma árvore, e o reconhece. Mas, devido à sua crença preestabelecida, acha que é o fantasma de seu querido antigo conselheiro e foge sem pensar duas vezes. 

A história mostra como até mesmo um conhecimento direto, como aquele produzido pela visão, pode ser impedido por obstáculos – no caso, uma convicção prévia contrária.

 

Os três obstáculos e seus antídotos

Da mesma maneira, em nossa vida, o conhecimento direto “eu sou Brahman” que nasce das frases de Vedānta tais como “tat tvam asi” etc. pode ser impedido por alguns obstáculos. Eles são conhecidos como pramāṇa-saṁśaya, prameya-saṁśaya e viparītabhāvanā: a dúvida com relação ao pramāṇa, a dúvida com relação ao prameya, e, por fim, a noção habitual oposta. Para neutralizar esses três obstáculos temos, respectivamente, śravaṇam, mananam e nididhyāsanam: o escutar, o refletir e o contemplar³3.

Pramāṇa-saṁśaya e o escutar

Pramāṇa-saṁśaya, a dúvida com relação ao pramāṇa, é o primeiro obstáculo e se refere à dúvida acerca da real mensagem das Upaniṣads. Ou seja, todas essas frases dos Vedas, muitas vezes aparentemente contraditórias, querem revelar o quê como mensagem central? Vedānta fala sobre a identidade entre jīva e Brahman, ou fala sobre a dualidade entre os dois? Pois encontramos frases que parecem suportar tanto uma visão quanto a outra. Então, quando Vedānta fala sobre a identidade entre os dois, deve ser levado a sério ou entendido num sentido meramente poético? 

Eliminar essa dúvida é o propósito de śravaṇam, que é definido em termos práticos como: o estudo consistente e sistemático das escrituras (i.e. Vedānta) sob orientação de um guru durante certo tempo. A definição técnica de śravaṇam, em termos de seu resultado, pode ser dada da seguinte maneira: 

श्रवणं नाम युक्त्या षड्विधतात्पर्यलिङ्गैः वेदान्तवाक्यानाम् अद्वितीये प्रत्यगभिन्नब्रह्मणि तात्पर्यनिर्णयानुकूलचेतोवृत्तिविशेषः

śravaṇaṁ nāma yuktyā ṣaḍvidhatātparyaliṅgaiḥ vedāntavākyānām advitīye pratyagabhinnabrahmaṇi tātparyanirṇayānukūlacetovṛttiviśeṣaḥ (Vicārasāgaraḥ 1.24)

Śravaṇam é a atividade mental que conduz – com a ajuda dos seis indicativos⁴4 – à averiguação de que o tātparya [mensagem central] de (todas) as frases das Upaniṣads está em comunicar a realidade não dual, Brahman, que não é diferente da verdadeira natureza do indivíduo.

Prameya-saṁśaya e o refletir

Em seguida, prameya-saṁśaya é a dúvida com relação ao prameya [aquilo que é revelado pelo pramāṇa]. Ou seja, a pessoa pensa: “Tudo bem, me convenci de que as Upaniṣads estão de fato falando sobre a identidade entre o indivíduo e o absoluto como mensagem central, esse é o tātparya, mas será que é verdade? Ou será que não é verdade?”  Muitas vezes a mensagem de Vedānta parece estar em contradição com a lógica, com a nossa experiência ou com a doutrina de grandes filósofos de outras linhagens. 

Para eliminar esse obstáculo, temos mananam, que é definido da seguinte maneira: 

मननं नाम प्रत्यग्ब्रह्मैक्यसाधक तद्भेदबाधकयुक्तिभिः सदा अद्वितीयब्रह्मात्मैक्यानुसन्धानम्

mananaṁ nāma pratyagbrahmaikyasādhaka tadbhedabādhakayuktibhiḥ sadā advitīyabrahmātmaikyānusandhānam

Mananam é a constante reflexão sobre a identidade entre o indivíduo e o absoluto com a ajuda de raciocínios lógicos que auxiliam na demonstração dessa identidade e que refutam sua ausência. (Vicārasāgaraḥ 1.26) 

Em outras palavras, certos argumentos lógicos, juntamente com exemplos, nos auxiliam a eliminar o senso de impossibilidade e, por consequência, a assimilar com a racionalidade aquilo que é revelado pelo śāstra. Porém, é  importante saber que a mensagem central de Vedānta não é algo lógico, isto é, não pode ser provada pela inferência lógica, pois não é acessível por esse meio de conhecimento. (No contexto de Vedānta, usamos a palavra “lógica” com um significado bastante específico. Se refere à inferência lógica [anumānam], um dos seis meios de conhecimento. Então dizemos que algo é “lógico” quando se trata de algo que pode ser estabelecido por tal meio de conhecimento). Por outro lado, é igualmente importante saber que Vedānta não é ilógico, isto é, não pode ser refutado por qualquer filosofia ou argumento lógico. Portanto, qualquer argumento que tente refutar a realidade não dual revelada por Vedānta será falso. E usamos a lógica para provar essa falsidade.   

Viparītabhāvanā e o contemplar

Tendo eliminado esses dois obstáculos, não há mais qualquer dúvida. Intelectualmente tudo está resolvido. Ainda assim, o conhecimento de Vedānta tem um último obstáculo chamado viparītabhāvanā (ou viparyaya), a noção habitual oposta. As conclusões que uma pessoa cultivou ao longo desta vida (e de outras) sobre si mesma e sobre o mundo permanecem arraigadas em seu inconsciente e não vão embora de um dia para o outro. A noção de que sou este corpo, sujeito a envelhecimento, morte etc.; a noção de que o universo está separado de mim e é intrinsecamente real, e de que igualmente real é a diferença entre o indivíduo e o absoluto – todas essas noções são contrárias ao que Vedānta revela e impedem que o conhecimento seja prontamente assimilado. 

Imagine que uma pessoa tenha em casa um interruptor de luz no mesmo local por muitos anos. Se um dia ele é mudado de lugar, mesmo sabendo da mudança, a pessoa vai demorar certo tempo até se acostumar com o novo local. Por força do hábito, não por ignorância, sua mão vai se dirigir ao local antigo. Da mesma maneira, ainda que alguém tenha entendido Vedānta de forma clara, é possível que esse entendimento não se reflita em sua vida plenamente por força das antigas noções habituais opostas.

Para eliminar este último obstáculo, o śāstra prescreve nididhyāsanam, o contemplar. 

Essa contemplação (ou simplesmente meditação) é diferente da meditação que é prescrita como prática para preparar a mente. Nididhyāsanam é para a pessoa que já preparou sua mente por meio de karmayoga e upāsanam, e, além disso, que já adquiriu o conhecimento livre de dúvidas por meio de śravaṇam e mananam. O objetivo de nididhyāsanam não é preparar a mente nem adquirir o conhecimento. Também não é sentir alguma coisa ou alcançar experiências místicas prazerosas. É simplesmente eliminar um obstáculo: viparītabhāvanā. 

Como essa eliminação ocorre? A prática da contemplação consiste em saturar a mente com a visão de Vedānta por certo tempo, seja formalmente no assento de meditação ou em outras situações ao longo do dia. Pense em como o solo saturado pela água da chuva permite que ela passe naturalmente ao subsolo. Da mesma maneira, a mente encharcada com a visão de Vedānta dia após dia permite que essa visão seja integrada de forma mais profunda, desalojando pouco a pouco as noções habituais opostas. Essa mesma prática, quando alcança a maturidade, é chamada samādhi, o estado de absorção da mente, no qual não há mais esforço.

Nididhyāsanam pode ser feito formalmente no assento de meditação, recolhendo-se todos os indriyas e a mente, mas também informalmente ao ensinar ou ao assistir uma aula de Vedānta, ao conversar sobre o assunto ou pensar sobre ele. Não é preciso esperar a hora da contemplação formal diária para trazer à mente o mahāvākya. Para essa forma de meditação não há restrição de horário, lugar, direção, postura, roupas específicas, preparativos etc. A única condição é que se esteja, ao menos relativamente, livre de pramāṇa-saṁśaya e prameya-saṁśaya. Senão, a pessoa imaginará estar fazendo nididhyāsanam quando na verdade estará apenas afirmando “eu sou Brahman” etc. como uma espécie de autosugestão ou pensamento positivo. É preciso primeiramente estar convencido do significado dessa afirmação. Uma definição clássica é: 

विजातीयदेहादिप्रत्ययरहित अद्वितीयवस्तुसजातीयप्रत्ययप्रवाहो निदिध्यासनम्

vijātīyadehādipratyayarahita advitīyavastusajātīyapratyayapravāho nididhyāsanam

Nididhyāsanam é o fluxo de pensamentos similares – sobre a realidade que é um sem segundo – e não interrompido por pensamentos dissimilares tais como sobre o corpo etc. (Vedāntasāraḥ 192) 


Conclusão

Apesar de geralmente afirmarmos que o śravaṇam etc. é antaraṅga-sadhāna [o meio imediato] para o conhecimento de si, ao ver a questão em maior profundidade, devemos entender que o verdadeiro antaraṅga-sadhāna para esse conhecimento são os próprios mahāvākyas, as frases de Vedānta. Isso porque qualquer conhecimento só pode ser gerado por um pramāṇa, e a atividade de śravaṇam etc. no sentido convencional (i.e. processo de averiguação do tātparya pelo estudo sistemático) não é pramāṇa. O pramāṇa é o mahāvākya. Por isso, para uma rara pessoa de mente preparada em alto grau basta o śravaṇam em seu sentido primário, ou seja, meramente escutar a frase “você é Aquele” ou outras equivalentes. Para ela, basta ouvir o ensinamento uma vez e imediatamente nascerá o conhecimento de Vedānta, que faz o oceano do saṁsāra – a vida de constante transformação e sofrimento –  secar como uma miragem. 

Para uma pessoa comum, esse conhecimento nasce da mesma maneira, porém, vem acompanhado dos referidos obstáculos, que a impedem de usufruí-lo. É preciso o escutar, o refletir e o contemplar para removê-los e, assim, tornar o conhecimento firme. A história de Bharcchū nos ajuda a entender essa situação. 

Há outro exemplo que ilustra bem essa questão. No Mahābhāratam, Kuntī revela ao guerreiro Karṇa que ele é seu filho. Ela diz claramente a frase: “você é meu filho”⁵5. Mas Karṇa havia passado a vida inteira pensando que sua mãe era outra. Ele nem de longe imaginava essa possibilidade. Então, ainda que tenha entendido imediatamente o que ela disse, vários obstáculos podiam impedi-lo de usufruir desse conhecimento. Mesmo confiando em Kuntī, ele poderia estar pensando: “Será que ela realmente disse isso?” Depois de averiguar positivamente, poderia ainda pensar: “Será que ela quis dizer isso que entendi ou falou apenas em sentido figurado?” Finalmente, poderia haver a dúvida: “Como é possível que eu seja seu filho?” Por isso, Kuntī continua a lhe falar por um longo tempo e conta a história completa de como tudo aconteceu, eliminando todas as possíveis dúvidas, ainda que sua mensagem principal já houvesse sido comunicada na primeira frase.

Essas duas histórias nos ajudam a entender como um conhecimento direto adquirido por um pramāṇa – tal como a visão ou as frases de alguém confiável – pode ser impedido de gerar o seu benefício devido a dúvidas e noções preestabelecidas.

De forma semelhante, devido a pramāṇa-saṁśaya, prameya-saṁśaya e viparītabhāvanā, a mensagem de Vedānta, que é tão simples, se torna ao mesmo tempo tão difícil de assimilar. Por essa razão, precisamos continuamente estudar o śāstra em profundidade, refletir e contemplar. Além disso, para que a assimilação seja possível, precisamos viver uma vida que esteja em harmonia com o ensinamento. Assim, por meio de śravaṇam, mananam e nididhyāsanam, o longo estudo de Vedānta se completa e o conhecimento se torna firme – aquele conhecimento sobre si mesmo que escutado lá no início já se sabia ser verdade. 

ओं तत् सत्
oṁ tat sat

Vedāntabindu © 2025 CC BY-NC-ND 4.0

Notas

  1. Mahāvākya, [literalmente “grandiosa frase”] é um termo que se refere às frases mais importantes das Upaniṣads. Nelas o ensinamento da identidade entre jīva e parameśvara é claramente revelado. Tat tvam asi [Você é Aquele] é o mais conhecido, mas há centenas de frases como essas espalhadas pelas Upaniṣads. Muitos mantras encontrados na Kaṭha, na Muṇḍaka, na Chāndogya etc. são mahāvākyas, ainda que não sejam tão curtos quanto os mais conhecidos.

  2. A história contada aqui se baseia no texto Vicārasāgaraḥ, seção 230. A mesma história é mencionada no Saṁkṣepaśārīrakam, verso 14.

  3. Esses três termos – escutar, refletir e contemplar –aparecem originalmente na Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad no diálogo entre Yājñavalkya e Maitreyī:

आत्मा वा अरे द्रष्टव्यः श्रोतव्यो मन्तव्यो निदिध्यासितव्यो मैत्रेयि
आत्मनि खल्वरे दृष्टे श्रुते मते विज्ञात इदं सर्वं विदितम् ॥ ४.५.६ ॥

ātmā vā are draṣṭavyaḥ śrotavyo mantavyo nididhyāsitavyo maitreyi ātmani khalvare dṛṣṭe śrute mate vijñāta idaṁ sarvaṁ viditam|| 4.5.6 ||

Minha querida Maitreyī, o Ātmā realmente deve ser reconhecido, escutado, refletido, contemplado. De fato, minha querida, quando o Ātmā é reconhecido, tendo sido escutado, refletido, contemplado, tudo isto é conhecido.

  1. O seguinte verso com os seis indicativos é aparece em alguns textos e talvez originalmente pertença ao texto Bṛhatsaṁhitā.

उपक्रमोपसंहारावभ्यासोऽपूर्वता फलम्।
अर्थवादोपपत्ती च लिङ्गं तात्पर्यनिर्णये॥
upakramopasaṁhārāvabhyāso'pūrvatā phalam |
arthavādopapattī ca liṅgaṁ tātparyanirṇaye ||  

As indicações para a determinação do tātparyam [foco principal] são: (1) o início e o fim, (2) a repetição, (3) a originalidade, (4) o resultado, (5) o elogio e (6) a lógica.

  1. कौतेयस्त्वं न राधेयो न तवाधिरथः पिता।
    नासि सूतकुले जातः कर्ण तद् विद्धि मे वचः॥

kauteyastvaṁ na rādheyo na tavādhirathaḥ pitā |
nāsi sūtakule jātaḥ karṇa tad viddhi me vacaḥ || (udyogaparva 145.2)


  1. Mahāvākya, [literalmente “grandiosa frase”] é um termo que se refere às frases mais importantes das Upaniṣads. Nelas o ensinamento da identidade entre jīva e parameśvara é claramente revelado. Tat tvam asi [Você é Aquele] é a mais conhecida, mas são centenas de frases como essas espalhadas pelas Upaniṣads. Muitos mantras encontrados na Kaṭha, Muṇḍaka, Chāndogya etc. são mahāvākyas, ainda que não sejam tão curtos quanto os mais conhecidos. ↩

  2. A história contada aqui se baseia no texto Vicārasāgaraḥ, seção 230. A mesma história é mencionada no Saṁkṣepaśārīrakam, verso 14. ↩

  3. Esses três termos – escutar, refletir e contemplar –aparecem originalmente na Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad no diálogo entre Yājñavalkya e Maitreyī:

    आत्मा वा अरे द्रष्टव्यः श्रोतव्यो मन्तव्यो निदिध्यासितव्यो मैत्रेयि
    आत्मनि खल्वरे दृष्टे श्रुते मते विज्ञात इदं सर्वं विदितम् ॥ ४.५.६ ॥

    ātmā vā are draṣṭavyaḥ śrotavyo mantavyo nididhyāsitavyo maitreyi ātmani khalvare dṛṣṭe śrute mate vijñāta idaṁ sarvaṁ viditam|| 4.5.6 ||

    Minha querida Maitreyī, o Ātmā realmente deve ser reconhecido, escutado, refletido, contemplado. De fato, minha querida, quando o Ātmā é reconhecido, tendo sido escutado, refletido, contemplado, tudo isto é conhecido. ↩

  4. O seguinte verso com os seis indicativos aparece em alguns textos e talvez originalmente pertença ao texto Bṛhatsaṁhitā.

    उपक्रमोपसंहारावभ्यासोऽपूर्वता फलम्।
    अर्थवादोपपत्ती च लिङ्गं तात्पर्यनिर्णये॥
    upakramopasaṁhārāvabhyāso'pūrvatā phalam |
    arthavādopapattī ca liṅgaṁ tātparyanirṇaye ||  

    As indicações para a determinação do tātparyam [foco principal] são: (1) o início e o fim, (2) a repetição, (3) a originalidade, (4) o resultado, (5) o elogio e (6) a lógica.

    ↩

  5. कौतेयस्त्वं न राधेयो न तवाधिरथः पिता।
    नासि सूतकुले जातः कर्ण तद् विद्धि मे वचः॥

    kauteyastvaṁ na rādheyo na tavādhirathaḥ pitā |
    nāsi sūtakule jātaḥ karṇa tad viddhi me vacaḥ || (udyogaparva 145.2) ↩

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Augusto Mascarenhas
26º de May. de 2025, noite

Namaste , Mais um texto que esclarece bastante sobre a metodologia em Vedanta. Muito obrigado Professor!

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Maurício Bahia
22º de May. de 2025, tarde

Obrigado! Om

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Lidia Castro
22º de May. de 2025, noite

Achei maravilhoso o texto, e muito boas as histórias para exemplificar. E assim, me sinto mais confiante no estudo, pois o tempo de maturação para o entendimento vi que pode ser demorado. Mas vou seguindo sem pressa e com vontade de aprender. Obrigada Professor.

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Deise Fauvel
22º de May. de 2025, noite

De lição em lição, de leituras e aulas, aos poucos entendendo a prática da contemplação ! Gratidão Professor Henrique!🪷

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Maurício Bahia
22º de May. de 2025, tarde

Esqueci de comentar que o texto ficou muito claro e evidente, no meu entendimento. Mais uma vez, obrigado.

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Vedāntabindu
24º de May. de 2025, noite

Que bom! Fico feliz de saber que gostaram do texto.

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