Fábrica Sombria - Limbo e Pós- no TBA
Limbo de Victor de Oliveira (estreia hoje no TBA) e Pós- de Xavier de Sousa (estreia na quinta que vem) são espectáculos autónomos que, primeiro por feliz coincidência e depois deliberadamente, se foram convertendo num par: as peças dos "estrangeirados", onde quem fala está fora e olha cá para dentro.
Victor nasceu em Maputo, cresceu em Portugal e trabalha em França sobretudo como actor, com encenadores como Wajdi Mouawad e Stanislas Nordey; em Lisboa já encenou Pessoa, Mouawad e Rambert. Xavier é de Montemor-o-Velho e emigrou para o Reino Unido, onde fez um percurso como artista, curador e produtor, próximo de artistas que já por cá andaram, como Deborah Pearson e Rosana Cade. Há anos que conversamos (em longos emails, mensagens e telefonemas, ou numa esplanada qualquer quando estão por Lisboa). Agora vieram de propósito para falar convosco.
Formalmente, os espectáculos serão objectos muito distintos: a estilização do monólogo do Victor, plantado numa caixa branca que a música e o vídeo transfiguram, pouco tem a ver com a convivialidade procurada pelo Xavier, num solo muito bem acompanhado onde se bebe e come, entre o pub e a casa de fados. Mas o lugar de que falam é mais ou menos o mesmo: ideias de Portugal, feridas do colonialismo e do racismo estrutural, fronteiras atravessadas para a frente e para trás, política e autobiografia indestrinçáveis.
Ambos estão duplamente descentrados, não só pela sua história de emigração mas também por questões de identidade: mestiça no caso do Victor, queer no caso do Xavier. A sua voz é portanto feita de muitas vozes, o lugar de onde falam não é só deles: é um espaço e um tempo de questionamento e desconforto necessários, e isso vê-se nos títulos. "Limbo" é um território intermédio (mas entre quê?), "Pós-" é o que vem a seguir (mas depois de quê?).
Venham ouvi-los aqui e agora, vai valer a pena. Bilhetes neste link.
Um abraço, Francisco
Limbo de Victor de Oliveira
Pós- de Xavier de Sousa