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Novembro 3, 2023

[Abas Abertas #2] Jabutis, lesmas do mar, gorilas, homens de meia idade

Após uma primeira existência como jabuti no PL 2630, a proposta de obrigar plataformas digitais como Google e Facebook a remunerarem empresas jornalísticas pelos excertos de texto e imagens usados em publicações nas redes sociais ou resultados de buscas reencarnou no ambiente mais apropriado do PL 2370, no qual a deputada Jandira Feghali (PCdoB) apresenta uma consolidação das normas que regem os direitos autorais.

O quelônio se manifestou em cima de uma jabuticabeira em novembro de 2021, quando o relator do projeto de Lei das Fake News, deputado Orlando Silva (PCdoB), apresentou seu parecer preliminar ao plenário da Câmara contendo o artigo 38º. Na época, critiquei na rede social anteriormente conhecida como Twitter a inclusão do tema no PL 2630, em lugar de seu tratamento em um projeto de lei específico, que permitisse maior detalhamento dos mecanismo e discussão mais ampla com a sociedade civil. O contexto era de apreensão com os possíveis efeitos da desinformação nas eleições de 2022 e o clima em Brasília incentivava a aprovação de qualquer lei que permitisse combater as táticas usadas pela extrema direita em 2018. O lobby das emissoras de televisão, capitaneado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), se aproveitou do momento para tentar passar a remuneração junto com o restante da boiada.

Ironicamente, o ardil das emissoras acabou por condenar o PL 2630 como um todo, porque o lobby das plataformas digitais respondeu desproporcionalmente, chegando ao ponto de se aliar à extrema direita e à bancada da Bíblia. O resultado foi o pior possível para o cidadão brasileiro, porque, excetuando o artigo 32º e alguns outros detalhes, a Lei das Fake News traria avanços importantes quanto à transparência e responsabilização dos serviços de redes sociais e mensagens instantâneas.

Caso a remuneração de conteúdo jornalístico pelas plataformas digitais se mantenha quando o PL 2370 se tornar lei, os profissionais, empresários e pesquisadores do setor estarão diante de um desafio complexo: onde traçar a linha entre jornalismo e a merda produção de conteúdo?

Neste post em meu weblog, faço uma análise da proposta de remuneração e seus pontos fracos.

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Em um evento raríssimo, um juiz determinou a demolição de um prédio de luxo, por ter sido construído sobre uma Área de Proteção Ambiental sem a devida análise e as autorizações necessárias. E isso em Blumenau, capital de Sankt Katarreich, onde quem anda pela floresta só vê lenha para fogueira. Infelizmente, é provável que a decisão seja derrubada em instâncias superiores, porque, afinal, como dizia o poeta coreano, no Brasil "crime ocore nada acotece feijoada!".

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Enquanto isso, em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo quer privatizar um viaduto após o Paço Municipal ter investido dinheiro do contribuinte na reforma do mesmo.

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Quem acha pouca a quantidade de babacas ao volante de carros ou ao guidão das bicicletas em Porto Alegre vai ficar feliz em saber que em breve os quadros da babaquice voltarão a contar com os babacas do patinete.

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Sete coisas que garantem vendas quando estão na capa de um gibi, segundo Carmine Infantino, diretor da DC entre o final dos anos 1960 e o início dos 1970:
  1. Gorilas
  2. Dinossauros
  3. Motocicletas
  4. Um fundo roxo
  5. A cidade em chamas
  6. O herói chorando
  7. Uma pergunta direta ao leitor (qual é o segredo assustador do sétimo herói? Etc.)
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Em janeiro, resolvi aproveitar o fato de que muitos farialimers acreditam nas mentiras que eles mesmos contam aos clientes sobre os governos petistas e investi algumas economias em ações da Petrobras e outras empresas menos cotadas. Até o momento, o patrimônio investido já aumentou 30% e, levando em conta apenas PETR4, bateu em 60%. Esse é o momento em que muito sujeito de meia idade se perde e começa a operar a bolsa como se fosse um cassino.

Olhando os números, a sensação é de que deveria ter vendido minha alma imortal e colocado tudo em Petrobras, porque tinha certeza de que o preço baixo era fruto de preconceito contra Lula. É claro, eu provavelmente só tive muita sorte, porque a coisa poderia facilmente ter ido por água abaixo em 8 de janeiro. Outro risco é o sujeito se achar um gênio ainda não descoberto do mercado financeiro. Neste vídeo, Ellen Colbert relata como perdeu todo o seu dinheiro quando começou a investir em ações, justamente por ter se deixado levar por uma espécie de falácia do jogador.

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Há muito tempo não me acontecia de ler algo e me identificar imediatamente com o autor, querer sentar num bar com ele para tomar umas cervejas e virarmos melhores amigos. Uma amiga recomendou este texto do romeno Cristian Lupșa e sinto como se pudesse bater na porta da casa dele amanhã, ir sentando no sofá e pedindo um café. Ambos somos jornalistas, ambos somos professores, ambos estamos na casa dos 40, ambos somos brancos meio gordos, ambos sofremos para entender onde traçar a linha entre sermos amigáveis com os estudantes e os constranger inadvertidamente porque, queiramos ou não, somos figuras de autoridade.

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Recentemente, um amigo me lembrou das tirinhas Wagner e Beethoven. Nunca soube quem era o autor destes que talvez tenham sido os quadrinhos mais engraçados já publicados no Brasil. O boato era de que trabalhava na Playboy. Talvez por ser jornalista, gostava especialmente da série Conan, Repórter Investigativo.

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É possível que a Costasiella kuroshimae, conhecida como ovelha de folhas apesar de ser uma lesma do mar, seja o animal mais fofo do mundo.

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Um leitor me perguntou por que o TinyLetter em vez do Substack. O TinyLetter oferece menos recursos e esta é justamente a razão de ter optado por este serviço. Por um lado, me força a investir no texto. Por outro, a ausência de funcionalidades avançadas evita todo o aviltamento que costuma acompanhar os likes, as recomendações e a monetização. Isso dito, o TinyLetter está de fato em clima de fim de feira. O botão de conexão com o Twitter não funciona mais e ninguém se deu o trabalho de retirar da interface. Na primeira edição do Abas Abertas, não consegui fazer upload de uma imagem ‒ uma vantagem, no fim das contas, porque me levou a decidir fazer algo o mais próximo possível do que fazíamos nos anos 1990. Caso o TinyLetter vá fazer companhia ao Orkut no cemitério da Web 2.0 e a quantidade de leitores justifique, talvez migre para o Mailchimp no futuro.

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ERREMO: Daniel Pellizzari me alertou que, ao contrário do relatado no Abas Abertas #1, o CardosOnline nunca teve circulação diária, mas inicialmente saía duas vezes por semana com todos os COLunistas e, mais tarde, se estabeleceu um rodízio de metade dos titulares por edição.

Abas Abertas

Por Marcelo Träsel

Rua Ramiro Barcelos, 2705 - Porto Alegre, Brasil

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