Naves espaciais são as vassouras das Bene Gesserit
Aliste-se na irmandade e domine habilidades como controle corporal completo, combate avançado e persuasão total. O custo? Ser responsável pela ruína da humanidade!
Olá! Chegamos à reta final de 2024, e este ano trouxe muitas profissões imaginárias que alimentaram minha inveja ou meu desdém. Contudo, nenhuma delas me intriga tanto quanto a que encerra os trabalhos de dezembro: a das Bene Gesserit no universo de Duna, criado por Frank Herbert e expandido por departamentos de marketing até os dias de hoje.
Desde novembro, com a estreia de Duna: A Profecia na Max, as bruxas do Imperium estão sendo exploradas em suas origens. Antes mesmo de serem chamadas de Bene Gesserit, elas aparecem na série como Truthsayers — conselheiras das famílias nobres, treinadas no planeta úmido Wallach IX. Até agora, o programa apresenta a irmandade das Truthsayers como uma combinação de escola e culto. O treinamento inclui artes marciais, técnicas de interrogatório, autocontrole corporal e estranhas aulas de meditação

Em um universo onde inteligências artificiais quase aniquilaram a humanidade, essas mulheres precisam dominar mente e corpo com a precisão de máquinas. Isso atrai, inclusive, a atenção da filha do imperador, que demonstra grande interesse no treinamento oferecido pelas irmãs Valya e Tula Harkonnen (interpretadas por Emily Watson e Olivia Williams, respectivamente).
Sabemos que os planetas do Imperium foram devastados recentemente pela guerra contra as máquinas, mas vemos poucos deles além de Lankiveil — onde os Harkonnen parecem exilados devido ao seu desempenho decepcionante na guerra — e Salusa Secundus, a capital original do Imperium, que mantém toda a pompa digna de seu título. Isso levanta uma questão: se você não está na capital, provavelmente vive em um planeta em reconstrução. E, se é uma mulher sem posses, tornar-se uma Truthsayer não é apenas um caminho bem-sucedido; pode ser sua única chance de algum conforto na vida.
Mas que tipo de conforto é esse? Ignorando o fato de que, nos próximos 10 mil anos do universo de Duna, todas as Bene Gesserit desenvolverão poderes especiais — como domínio completo do corpo e a famosa "Voz", capaz de subjugar outras pessoas —, o trabalho de uma Truthsayer não parece atraente de forma alguma. Os uniformes são pretos e pesados, as aulas são cruéis e pouco recompensadoras, e o ambiente de trabalho é asséptico, frio e solitário. A escolha, então, é entre não ter nada além de sua autonomia ou ter pouco, mas estar conectada aos poderosos e influenciá-los.
Em Duna, a metáfora é clara: aquelas que se unem à irmandade das Bene Gesserit são as verdadeiras detentoras do poder, manipulando forças políticas e linhagens familiares através de um índice genético. Esse índice que serve de base para um programa eugênico obscuro, alimentado por sonhos provocados pela substância mística spice, culminará em uma revolução sem vencedores óbvios.
Não parece uma profissão agradável nem no curto nem no longo prazo.
O aspecto mais interessante, até agora veladamente revelado pela série, é que a influência das máquinas pensantes parece similar à do ChatGPT nos dias de hoje. Todos — famílias nobres, rebeldes e até mesmo as Bene Gesserit — têm acesso a elas e, pontualmente, as utilizam para planejar suas ações. No entanto, ninguém fala sobre o assunto. Além de ser um crime de guerra (com impactos consideráveis), o uso dessas máquinas é um tabu.
O que isso significa para o universo de Duna, cujo futuro já conhecemos? Eu ainda não sei. Mas, se esse elemento for plenamente explorado, podemos imaginar que o poder manipulador das Bene Gesserit talvez tenha nascido das máquinas inteligentes. Isso sugere que a humanidade, de fato, perdeu a guerra e está condenada a viver os próximos 10 mil anos em um plano traçado por seus adversários supostamente derrotados.
É interessante? Talvez. Mas ainda não me convenceu.
Duna: A Profecia está disponível na Max.
Na próxima newsletter (em 2025): Por quanto tempo um matador de aluguel consegue se manter na profissão?