Um pouco sobre Super Mario RPG e as estrelinhas lá do céu

Eu gosto de historinhas simples. Aventuras bobas e cheias de sinceridade emocional onde o bem vence o mal e afasta o temporal. Veja bem, não é o único tipo de coisa que eu gosto! Gosto de histórias feias sobre gente feia que fazem coisas feias. De histórias feias que colocam em cheque nossa tão rasa visão do que é certo e errado. De histórias tristes sobre o vazio voraz que devora os nossos corações desde que gente é gente. Gosto de muita coisa! Mas no final das contas, sou uma pessoa simples. E na minha condição de pessoa simples, é inevitável que o simples fale forte comigo.
Esse tipo de joguinho bobo é algo que eu devoro quando estou na mentalidade certa. E como vocês podem perceber pela simples existência desse textinho, eu estava! Quando eu vi que o primeiro membro da sua party é uma nuvenzinha antropomórfica que passou a vida inteira acreditando ser um girino, já era. Acabou pra mim. Receita de sucesso para o meu coração. Mas logo em seguida você recruta um guardião mágico das estrelas lá do céu que adotou a forma do bonequinho de madeira favorito de uma criança! Aí já é demais! Não tinha como eu ignorar o resto desse joguinho. Feito pra mim. Pro meu coração simples.

Gosto tanto desses dois carinhas que eles praticamente nunca saíram da minha party. E isso não chegou a ser um problema em momento algum, esse jogo é um tanto que bem fácil na maior parte do tempo. Meio que pra bebês. E eu até gosto dessa leveza dele! Eu gosto do grinding sem lá muita dor de cabeça. É algo um tanto que relaxante pra mim, sabe? Poderia grindar nesse joguinho por horas. E fiz isso! Se tornou quase terapêutico no meio da ansiedade patológica que eu estava sentindo nessas últimas semanas.
É um joguinho doce! Não apenas na sua historinha e na sua estética, mas até nos seus sisteminhas. Seus carinhas são curados de graça múltiplas vezes, dinheiro é abundante e com o mínimo de esforço você encontra segredos que te recompensam de mão aberta. Alguns chefes podem ser mais casca grossa, mas nada que um pouquinho de determinação e preparo não resolva. E é aquela coisa, um pouco de atrito é bom! Faz parte do chame. Torna tudo um pouquinho mais engajante. Evita que tudo se torne inofensivo demais.

Não gosto de reduzir arte a puro escapismo, mas eu ando precisando justamente de coisinhas assim. De um mundo bobinho e mágico onde os desejos e sonhos sempre vão se realizar enquanto as estrelas lá do céu brilharem, bastando apenas um pouco de determinação. Porque eu voltei a ser criança nos últimos anos. Me tornei simples. Eu vivo com sonhos pequenos, ambições pequenas, insignificantes demais para Deus agradar. Mas pra me agradar, basta apelar justamente para esses pequenos desejos.
Eu era uma adulta funcional, empregada moderadamente bem e com a capacidade de resolver a imensa maioria dos meus problemas sozinha, mas isso já se foi. Minha agência foi aos poucos roubada de mim. Doença, desemprego, violência, morte, ódio e descaso. Não me resta muito exceto o amor de poucos. Só me resta o querer de poder olhar o céu e enxergar estrelas, mas mal vejo uma Lua em meio a luz abundante de uma cruel cidade grande. Ver o verde e o marrom e o amarelo e o azul do mundo natural, mas só me resta um monte de cinza. Só me resta a nostalgia de tempos que nunca me pertenceram, seja de um passado próximo ou distante.
Olho para a janela do meu quarto, e só consigo ver um prédio em construção há mais de quatro anos. Uma mancha cinza na pouca paisagem que me restava. Minha vó ainda estava viva quando começaram a subir esse negócio. Maluquice. Muita coisa era diferente, mas em retrospecto nem sei se eram tão melhores? Não sei se ser uma adulta funcional era melhor. Se sonhar grande era melhor.

Talvez boa parte disso não passe de pretensão. Se eu sonho pequeno agora, talvez sejam só os reais desejos do meu coração. Alguma bobagenzinha assim. Se eu voltei a ser criança, pelo menos existe uma honestidade maior nessa coisa toda. Não que criança não minta, principalmente pra si mesma, mas adultos mentem bem mais. E acho que viver desse jeito deixa qualquer um doente.
Não restam lá muitas estrelas no meu céu pra realizar qualquer desejo meu. Estou aprendendo a viver com isso. Mas ao menos, nesse joguinho lindinho e bobinho, posso realizar o desejo dessa nuvenzinha antropomórfica engraçadinha de reencontrar sua família. E isso é o suficiente pra me fazer ter uma noite feliz.
Um sonho simples pra um coração simples!
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Screenshots tiradas pela Juia!