Um pouco sobre Silent Hill e sua reconfortante melancolia

Os últimos dias foram um tanto que conturbados. Muitas ansiedades, muitas situações desagradáveis. Eu ando cansada. Um cansaço quase debilitante. Viver na base de sonhos cada vez mais distantes e incompletos tem sido exaustivo. Tem acabado comigo. Minha cabeça anda tão vazia, meu corpo mais fragilizado e dócil. Tenho me entregado completamente as forças do destino. Até raiva tem sido difícil de alimentar, sabe? Costuma ser a coisa mais fácil do mundo. Sentir raiva. É a coisa do momento! As pessoas amam sentir raiva. E cá estou eu. A pessoa mais zen do mundo, vencida pela canseira.
Mas pelo menos tenho jogado muitos videogames. É um escapismo de boa digestão. Não gosto de reduzir os pequenos prazeres dessa vida a escapismo, engajar com arte faz parte dessa coisa de viver! Mas nesse caso é meio difícil não tacar um rótulo como esse. Tenho precisado escapar. Ocupar a cabeça com qualquer coisa que não seja o futuro e o inevitável. Encontrar conforto em pequenos espaços digitais cheios de regrinhas arbitrárias e narrativas interessantes.
Encontrar conforto em até Silent Hill! Nos seus puzzles fora da caixinha, nos seus espaços hostis e cruéis. Eu já tinha jogado Silent Hill 2 e tinha algumas expectativas de como seria o tom da coisa toda, mas eu adorei como a hostilidade aqui cresce de uma maneira bem mais gradual. Eventualmente o jogo nem te dá mais espaço para respirar. Sem mais normalidade, sem mais um único resquício do mundano.
Acaba sendo um tanto que difícil pra mim não escrever sobre um sem fazer comparação com o outro. Silent Hill 2 foi uma experiência bem marcante! Me fez criar uma certa apreciação por um gênero com o qual eu sempre tive uma certa dificuldade de engajar. Mas esse joguinho aqui tem tantos méritos e se sustenta tão bem por si só! A maneira como ele brinca com as limitações técnicas do PS1 pra criar cenas tão impactantes só com a luz. Com pequenas brincadeiras de câmera tão criativas e legais!

Aquela cena do beco, logo no comecinho, é um dos momentos impactantes de qualquer videogame que eu já joguei. É real arte, unindo todos esse pequenos elementos que alimentam a atmosfera de Silent Hill de uma maneira tão certeira. Gostaria de ser um pouco mais eloquente aqui, mas esse joguinho é cheio de momentos assim. Cheios de momentos onde ele consegue se elevar tanto com tão pouco. E essa é a minha coisa! É justamente por isso que sou tão apaixonada por essa era. Por esses joguinhos pequenos e simples.
Mas não posso mentir aqui. Mentir é feio! Esse jogo já me filtrou no passado. Algumas vezes. Perdi até a conta. É um tanto que engraçado como o cenário da escola talvez seja o mais difícil do jogo inteiro. Não difícil de arrancar os cabelos, mas é fricção demais praquele momentinho em particular, logo depois de uma introdução tão icônica. Quebra um pouco o ritmo sendo contruído até então. Uma freada meio brusca.

As coisas demoram um tico pra ganharem velocidade de novo. Mas depois que ganham, é real meio que acerto atrás de acerto. É difícil não me apaixonar por essa narrativa simples, mas apresentada de uma maneira tão particular. Nebulosa e cheia de pequenas camadas, aberta a diferentes interpretações. Com cenas tão cruéis, de uma humanidade estarrecedora. Humanidade que eleva essa mesma crueldade.
É uma história sobre violência, no final das contas. Esse é o tema central de todo Silent Hill. O tipo de violência que te marca pra sempre. Que se torna parte de você. Entre as sinapses do seu cérebro, nas entranhas de seu estômago, podridão que vai permanecer contigo pra sempre. Mofo preto na parede. Traças na cortina. Vermes no prato. Violência capaz de alterar a realidade, que rouba da gente tudo que nos faz ser.
Todos esses monstros, criaturas rastejantes e cruz-credos que permeiam essa cidade nesses joguinhos não passam de um grito de socorro de toda a huminadade roubada pela violência de pessoas vís e cruéis. Junto a névoa densa, úmida e gelada que permeia a melancolica história dessa cidade, tudo se torna tão belo? Tudo se torna estranhamente reconfortante.
Talvez tudo que a gente precise seja meter bala na cara do capeta até dizer chega!

Muito obrigada pela leitura!