Um pouco sobre Haruki Murakami e mulheres
Mulheres são feitas de mistérios e pequenas excentricidades
Tenho tentado recuperar o hábito de ler. Você também, provavelmente! Muita gente gente da minha idade costuma soltar um papo parecido. Foi algo meio que roubado da gente, quando nossa psique coletiva foi aniquilada pelos altos níveis de dopamina e cortisol dos horrores do mundo digital. Cabecinha fritada, uns mais que os outros.
O problema é que depois que você frita um bife, não tem como voltar atrás. Não existe maneira de desfritar algo. É um ato transformador. Destruidor, até. A coisa é aprender a lidar com a sua nova cabeça. Entender como ela funciona, e tentar criar novos hábitos a partir daí. Meus hábitos de leitura nunca serão os mesmos de quando eu tinha 17 anos, e isso não é exatamente um problema. As vezes é bom recomeçar algo do zero. Reaprender certas coisas. Reviver outras.
E nessa de reviver, tenho lido novamente Haruki Murakami. Meu autor favorito nesse finalzinho de adolescência, é meio que doido pensar que passei anos sem ler nada dele. Tinha sido algo tão formativo pra mim, sabe? Seria uma pessoa diferente sem ter lido Caçando Carneiros no momento certo, com aquele particular sentimento de vazio que permeia o comecinho da nossa vida adulta. Eu acho que eu seria um tanto que menos introspectiva. Eu talvez viesse a ter outras sensibilidades. Acho que eu seria uma pouco mais azeda. Mais imatura. Doideira!
Ler Murakami novamente tem sido como reatar uma velha amizade. Uma sensação prazerosa, confortável. Levemente melancólica também, mas tudo bem! Um pouco de melancolia faz bem pra gente. Alimenta a alma. Mas o mais interessante nessa revisitada é que eu tenho olhada certos aspectos da sua escrita sob novos olhos. Por uma nova perspectiva até que bem positiva!
Eu gosto do jeito que ele escreve mulheres. Eu achava que seria o extremo oposto, que seria algo que eu teria que aguentar com desagradado pra aproveitar sua escrita. No máximo ele talvez passe tempo demais descrevendo seios, mas acho que não consigo me lembrar de um único cara que já li que não tenha feito algo parecido pelo menos uma vez. Faz parte da coisa, acho! Mas a questão é que isso tem sido um aspecto até que prazeroso da sua prosa. O Murakami ama mulheres. E eu amo apreciar o seu amor.
Acho muito gracioso a maneira como todas as suas personagens femininas tem sempre algum pequeno mistério escondido dentro de si. Elas sempre são mais complexas do que aparentam ser, e do que as pessoas as reduzem. Todas tem uma interioridade bem particular. Cheias de excentricidades que expõem um pouco daquilo escondido bem lá no fundo, onde ninguém consegue alcançar. Onde ninguém um dia irá entrar.
Talvez eu apenas gostaria de ser escrita de uma maneira tão interessante. De ser apreciada pelos meus pequenos atos, pela minha simples maneira de ser. Gostaria de ser vista de uma maneira tão bela. Acho que talvez haja algo de meio psicológico nisso, mas isso não importa! É só meio lindo alguém escrevendo sobre a gente desse jeitinho. E talvez um dia eu queria fazer algo parecido, e apreciar nossas excentricidades em prosa. Expressar amor desse maneira não é fácil.
Obrigada pela leitura!