Somos uns ignorantes

Somos uns ignorantes
Por Lucas D. M. dos Santos
Oi, tudo bem?
Bom, eu acabei de te chamar de ignorante no título, então talvez seja melhor nem perguntar.
Mas aí é que tá, né? Ignorância não é ofensa, todo mundo é ignorante sobre muita coisa. Essas ignorâncias falam mais sobre nossos interesses e as oportunidades que tivemos na vida do que sobre um eventual valor pessoal.
O termo se torna ofensivo pelo seu uso. Pois ignorante, para nós, é sempre quem não sabe algo que, de acordo com o nosso juízo, deveria saber. Parece mesmo imperdoável ser ignorante sobre qualquer coisa em plena era da informação. Com dados a um clique de distância, mas em níveis aleatórios de confiabilidade, a roleta russa do conhecimento.
Não a toa, a cada dois dias uma discussão surge na internet e torna obrigatória a emissão de alguma opinião a respeito. Nem que seja só para retweettar a visão de outra pessoa ou repassar o que veio pelo Zap. A gente até tenta se informar e entender minimamente o assunto do momento. Mas não dá. Não há tempo em uma vida para estudar tanta coisa. Então absorvemos o que for possível em alguma matéria superficial e seguimos para o próximo tópico.
Por isso, na política dos anos 20, manda quem é capaz de controlar a pauta e ter sempre algum absurdo na manga para abafar notícias desfavoráveis. Os adversários perseguem o assunto como insetos em volta da luz e os seguidores são alimentados com a informação conveniente, mesmo que falsa.
Você deve ter pensado na famosa tia do Whatsapp, mas não se faça de bobo, todos já caímos em boatos ou notícias falsas, talvez a gente ainda acredite em alguma até hoje. Fazer o quê? É um risco da ignorância. Sempre vai ter algum assunto em que nos falta o contexto necessário para entender.
Esse, aliás, talvez seja o aspecto mais perverso da ignorância, não sabemos o quanto não sabemos. E eventualmente nos julgamos conhecedores de algo de que entendemos apenas uma pequena parte. Não a toa, todo curso superior começa com aquelas matérias básicas que a gente mata por achar inúteis.
É dessa ignorância que se aproveitam gurus de investimento, coachs motivacionais, revisionistas do holocausto ou da ditadura, supostos filósofos e “teóricos” terraplanistas. O truque dos canalhas é sempre o mesmo, ensinar uma fração de conhecimento que justifique sua crença dentro de uma lógica circular – isto é, que valida a si mesma – enquanto omite o contexto necessário para entender as falhas de seu pensamento.
Aos seguidores não é encorajado o estudo, mas a repetição e assim, ao invés de aprendizes, tornam-se acólitos de uma seita. Em troca vem o sentimento de pertencer ao grupo e a sensação de deter um conhecimento além da capacidade dos demais.
Resgatar parentes e amigos de grupos assim não é simples e se eu disser que sei como fazer, será mentira. Estou certo, porém, de que o confronto não é o caminho. Chamar o “iniciado” de ignorante (ou burro, ou otário), lembrar cada posicionamento que se provou errado e arrotar nele as nossas verdades não serve para nada e provavelmente até reafirme suas crenças.
Eu sei, é tentador demais. A gente vê o número de mortos na pandemia, os preços descontrolados no mercado e automaticamente quer descarregar nossa raiva sobre os seguidores (até mesmo os arrependidos) da seita responsável pelo desastre. O problema é que essas porradas morais só servem mesmo para alimentar o nosso ego de quem "sabe" estar certo.
Pode parecer ingênuo da minha parte, mas a única forma possível de criar algum entendimento mútuo é através do diálogo. Sim, isso aí mesmo, conversa, sabe? Não é fácil e o risco é alto. O confronto é simples, é correr em linha reta, bater de frente, atropelar. Já o caminho do diálogo é tortuoso e incerto. É dar um passo atrás e outro à frente em uma dança desconfortável e as vezes esquisita.
Mas a vida, assim como a política, é isso aí mesmo, a arte do possível, não do ideal.
Conversar é foda. Diálogo exige humildade, admissão da própria ignorância e vontade de ouvir. Vivemos o século da informação excessiva e dos algoritmos capazes de fraturar a realidade e esticar o abismo entre gerações dentro de uma mesma família. Em um momento como este, conversar é um ato de resistência bem maior do que qualquer troca de xingamentos no grupo de zap da prédio.
E gente, pelo amor de deus, eu não tô falando para dialogar com supremacista racial, eugenista, defensor de tortura, entre outros cretinos, ok? É preciso escolher suas lutas, então escolha também suas conversas.
Até a próxima!
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