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Abril 14, 2022

Sim, estamos no Instagram

por Lucas D. M. dos Santos

Lapso Trivial

Sim, estamos no Instagram

Por Lucas D. M. dos Santos

Oi, tudo bem?
 
Com o Mark Zuckerberg talvez nem tanto. Histórias complicadas marcaram a operação recente de sua empresa que até mudou o nome para Meta após os escândalos. São acusações de pagamento para difamar concorrentes, negligência com negacionismo climático, racismo e exploração sexual infantil em suas plataformas, entre outros vazamentos.
 
Se não fosse suficiente, a empresa teve redução no número de usuários pela primeira vez na história e consequente desvalorização de 26%, ou US$251 bilhões, em 3 de fevereiro desse ano. Enquanto vê crescer a ameaça chinesa do Tik Tok, preferida entre os mais jovens.
 
Apesar disso, como alguns de vocês já perceberam, agora o Lapso Trivial, esse correio eletrônico semanal, possui uma página no Instagram, uma das redes da Meta. Pode até parecer hipócrita, após um texto crítico aos algoritmos de seleção de conteúdo, em especial de redes sociais.
 
E talvez seja mesmo.
 
Confesso, a escolha não me deixa especialmente feliz e me faz lembrar do Rodrigo Ghedin, do Manual do Usuário, ao falar de seu retorno ao Instagram. Ele compara a rede àquele bar sujinho, com música ruim e cerveja quente, mas que seus amigos insistem em frequentar.
 
Como eu tenho um apreço pessoal por bares “sujinhos”, minha analogia para a rede seria um pouco diferente. Vejo o Instagram como aqueles estabelecimentos conceituais em que desde a mobília até a decoração são pensadas para emular a atmosfera de outro local no tempo e espaço. Pode ser aquele bar Viking do interior de São Paulo, a lanchonete americana dos anos 50 no oeste catarinense ou o clássico pub inglês presente em toda cidade média que se preze.
 
A gente sabe, este tipo de estabelecimento raramente acerta na atmosfera que alega proporcionar. Falha por mirar em uma idealização e se perde entre a realidade que tenta simular e aquela da qual busca escapar. Porém, acertam, assim como o Instagram, em criar uma estética saturada, com mais brilho, movimento e cor. Frente a simulacros a vida sempre parece banal.
 
Das ruas da cidade aos móveis da sua casa, em comparação à idealização, tudo que é comum se torna pouco. Sua cara no espelho ao acordar não se parece em nada com o rosto daquele, ou daquela, influencer em sua foto à beira da piscina, com iluminação ideal, cenário montado e uma taça de Chandon. Tudo isso antes de passar pelos filtros da plataforma.
 
A comparação entre bares conceituais e a famigerada rede social acaba por aí, enquanto o impacto de um se encerra em preços potencialmente abusivos e proibitivos para imensa parcela da população, o Instagram cobra sua atenção, quanto mais compulsiva melhor, para revender a anunciantes às custas da saúde mental de seus usuários, em especial adolescentes.

Não foi a plataforma quem inventou os padrões de beleza ou a manipulação de imagens, seu papel foi massificar uma prática que até então exigia algum conhecimento técnico. Permitiu e impeliu cada usuário a criar e exibir sua própria realidade idealizada, estética ou de desempenho.
 
O desgaste é o fator comum entre os usuários. Há quem se compare aos padrões da plataforma e sofra por não atingir os parâmetros desejados de beleza ou performance, seja por falta de tempo, vontade ou recursos. Já quem alcança tais padrões encara, para isso, uma segunda jornada de trabalho em academias, procedimentos estéticos, busca por cenários entre outras ações capazes de tornar sua realidade mais atraente. Talvez uma consequência do que Byung Chul Han chamou de Sociedade de Desempenho no livro Sociedade do Cansaço.
 
Ainda assim, é esse estabelecimento problemático que nossos amigos resolveram frequentar. E com eles é possível encontrar alguma graça por lá. Há artistas, escritores (como eu), criadores de memes e gente que compartilha sua vida sem (tantos) filtros assim. Páginas e pessoas que até fazem a rede valer a pena por alguns instantes.

Eu não aprovo o funcionamento da rede, mas se o público se encontra por lá, o jeito é ir onde ele está. Mesmo se for o jardim murado do Instagram, com suas poucas saídas escondidas no famigerado link da bio, ou em efêmeros stories. É o jogo que tem para jogar, especialmente para quem tem o quadril duro demais para dançar no Tik Tok.
 
Talvez no futuro eu descubra que posso abandonar a rede, até lá tentarei utilizar para divulgar textos como este, mas também compartilhar lapsos ainda mais triviais, conversar sobre o que leio, ouço ou assisto. Quem sabe até aquele bar caro e pretensioso seja um bom lugar para começar um papo. Te aguardo por lá!
 
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Até semana que vem!
 



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