Pra que politizar tudo?

Pra que politizar tudo?
Por Lucas D. M. dos Santos
E aí, tudo bem?
Em meio às centenas de discussões que se iniciam e encerram (ou não) diariamente nas redes, uma resposta aparece com frequência: A reclamação de que atualmente se "politiza tudo". Essa ideia costuma sustentar que comportamentos pessoais não devam ser parte do debate público ou que possuam motivação pública.
A afirmação se sustenta em uma superioridade moral apolítica, sem a suposta contaminação ideológica, que se conecta também à percepção de que o meio político é inevitavelmente sujo e ineficiente, aquela ideia de que “todo político é corrupto”, para a qual a única solução é um grande expurgo. Discurso que favorece apenas as soluções autoritárias e é claro, os próprios corruptos, que dividem em paz sua culpa com outras centenas de congressistas e governantes, enquanto decidem o que fazer com as verbas bilionárias do orçamento secreto.
Vamos combinar, também, que essa conversa muitas vezes parte de alguém que só está mesmo interessado em “não politizar” fatos que contradigam seu lado político. Mas há sim quem realmente acredite que determinadas questões não sejam políticas e portanto não devam ser debatidas.
Mas o que é, afinal, uma questão política?
A origem da palavra nos dá uma pista. Política vem do grego politikos, ou “relativo ao cidadão ou ao estado”, e tem sua raiz nos temos Polites (Cidadão) e Polis (Cidade). Ou seja, "político" é tudo que diz respeito ao cidadão enquanto parte da sociedade. Se uma decisão minha só afeta a mim mesmo, ela não é política, mas se ela afeta outros membros da sociedade, é.
Sendo assim, só se pode ser realmente apolítico ao abdicar da sociedade. Enquanto vivemos coletivamente, todas as nossas decisões são políticas, seja doar para a caridade, furar um sinal vermelho, ou divulgar notícias sem confirmar sua veracidade. Isso inclui, é claro, o ato símbolo de nossa cidadania: O voto e suas consequências.
Essa ideia de que comportamentos não devem ser politizados parte de uma noção que tem feito um certo sucesso em nosso país nos últimos anos. De que políticos devem se ater à administração da máquina pública e portanto, priorizar quadros técnicos a partir de uma noção idealizada de eficiência econômica, custe a quem custar.
Somados, o ideal tecnocrata e a negação das ideologias (como se fosse possível não possuir uma) tentaram dar origem a candidaturas de empresários, apresentadores de TV e até juízes, mas acabaram por eleger um deputado ineficiente com quase trinta anos acumulados – sem qualquer produtividade – no congresso nacional, mas que ainda assim se vendeu como negação ao sistema político.
Desta forma, a ideia ingênua de que os efeitos políticos de uma sociedade devam se limitar à gestão favoreceu um presidente que costumeiramente sugere fuzilar seus adversários ou enviá-los para uma área de desova de corpos. Suas palavras podem ser apenas um péssimo gosto para metáforas (eu não acredito nisso), mas é impossível dissociá-las da ação do seu apoiador que invade uma festa para assassinar um opositor a tiros.
Viver em sociedade é ser político, fazer escolhas (eventualmente desagradáveis) enquanto cidadão e arcar com seu resultado. Se isso nos impede de sermos apolíticos, ao menos garante o direito a nos omitirmos do debate público. E, convenhamos, nosso sistema político costuma dar motivos para tanto.
Porém, também não custa lembrar. Enquanto vivemos em uma democracia, a omissão é uma escolha, se entrarmos em uma ditadura, será uma imposição.
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