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Outubro 9, 2022

Ou a direita reage, ou pode desaparecer.

por Lucas D. M. dos Santos

Lapso Trivial

Ou a Direita reage, ou pode desaparecer

Por Lucas D. M. dos Santos


No ano de 1964, Juscelino kubitschek, já ex presidente do Brasil, e Carlos Lacerda, então governador do estado da Guanabara, estavam entre os civis apoiadores do golpe militar que depôs João Goulart da presidência nacional e jogou o país em duas décadas de ditadura. Com a promessa de novas eleições para o ano seguinte, aquele parecia a eles, assim como a outros políticos de direita, o caminho perfeito para o retorno ao poder.

Passados três anos sem eleições, Juscelino e Carlos Lacerda passaram a denunciar a ditadura e se aliariam a João Goulart para combater o regime, era tarde demais, ambos acabaram com seus direitos políticos cassados, Juscelino ainda seria morto pelo regime. A sedução de um atalho para o poder estimula o oportunismo de políticos e apoiadores que se julgam capazes de moderar um aliado autoritário, mas a ascensão do autoritarismo mais do que enfraquecer a oposição, costuma engolir parte dos seus próprios apoiadores.

Após sobreviver aos 21 anos da ditadura na clandestinidade, a esquerda brasileira chegou aos anos 80 mais viva do que nunca, já a direita teve de se esconder. Após anos de torturas e arbitrariedades, além de uma inflação nunca antes de vista e a dívida externa multiplicada em 30 vezes, os governos militares tornaram vergonhoso se dizer de direita no país. Seus antigos apoiadores criaram partidos que até hoje se chamam "Progressistas", "Liberais" ou adotam alguma nomenclatura vazia como "União Brasil".

Quem acabou por tomar para si o papel de direita na Nova República foi o PSDB, um partido originalmente de centro-esquerda, mas que abrigou economistas liberais a partir dos anos 90 e tornou-se o contraponto ao maior partido de esquerda do período, o Partido dos Trabalhadores.

Com a chegada do partido dos trabalhadores ao poder em 2002 o PSDB migrou cada vez mais para a direita, a ponto de questionar o resultado das urnas em 2014 e apoiar a destituição de Dilma Roussef dali a dois anos. Atos que o Senador Tasso Jereissati atualmente reconhece como erros do partido.

O PSDB, assim como outros partidos de direita, percebeu no crescente antipetismo e nos avanços da operação lava-jato uma forma de enfraquecer o PT e seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva, para assim chegar com facilidade ao poder. Mas ao apoiar atitudes arbitrárias da justiça, acabaram por dar força a uma direita extremista, pautada pelo moralismo e pelo discurso de ódio, erguida em torno de um deputado medíocre, famoso pelas declarações absurdas.

O resultado todos conhecemos, Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, o PSDB perdeu muitas cadeiras na câmara e no senado, além de eleger poucos governadores, apenas aqueles que apoiaram diretamente o presidente eleito, como João Doria e Eduardo Leite.

Quatro anos depois, Bolsonaro fez o que se esperava dele: Desmontou o sistema de proteção ambiental e ajudou a predar os biomas brasileiros, em especial a Amazônia, liberou agrotóxicos a rodo, provocou a morte de centenas de milhares de brasileiros com sua gestão negacionista da pandemia e, apesar disso, através de medidas populistas e com mais de sessenta bilhões de reais despejados no orçamento secreto, elegeu muitos apoiadores para o legislativo e chegou ao segundo turno da eleição presidencial.

Políticos do PSDB - e todo eleitor de direita que se enxerga democrático - estão em uma encruzilhada. Ir contra Bolsonaro pode provocar o retorno de um líder de esquerda ao poder - Lula ainda é o favorito para levar estas eleições - mas apoiar o presidente, ou se acovardar na neutralidade, podem não apenas aprofundar o autoritarismo no país, como fazer com que partidos e pautas caras à direita liberal e conservadora sumam, ao menos por um bom tempo, da agenda nacional.

Quando o filósofo Bernard-Henri Lévy diz que é papel da direita conter o fascismo (assim como é papel da esquerda conter seu próprio extremismo), ele não fala de um dever moral, mas de sobrevivência. O Extremismo sempre vai engolir quem nele embarcar. O resultado do primeiro turno das eleições demonstra: O PSDB virou um partido nanico, o Novo - partido que mais votou junto com o governo na legislatura atual - sequer superou a cláusula de barreira e a própria bancada evangélica - apoiadora incondicional do presidente - teve sua eleição mais fraca desde 2006, após ver as pautas morais serem apropriadas por candidatos mais próximos à figura de Bolsonaro.

Diversos economistas liberais, entre eles: Armínio Fraga, Edmar Bacha, Pedro Malan, Persio Arida e Elena Landau, já perceberam isso e declararam apoio a Lula. O mesmo fizeram adversários históricos do PT, como Marco Antonio Villa, Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati, Geraldo Alckmin - candidato a vice na chapa de Lula - e Simone Tebet, terceira colocada nas eleições presidenciais.

Entretanto ainda há quem se enxergue democrático e perceba um mau menor na vitória de Bolsonaro, que já prometeu alterar as regras da democracia como Hugo Chavez fez na Venezuela. Talvez estes, como Juscelino e Carlos Lacerda, percebam tarde demais que apoiaram o seu algoz.

Até a próxima.
 



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