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Abril 21, 2022

Não, o centrão não é de centro.

por Lucas D. M. dos Santos

Lapso Trivial

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Por Lucas D. M. dos Santos


Oi, tudo bem?

Por aqui tá mais ou menos, uma dor de garganta e a correria do trabalho resultaram em um lapso requentado, porém aprimorado, digamos que remasterizado. Ao menos o tema permanece, e infelizmente vai permanecer por um bom tempo, atual.
 
O nosso assunto é o Centrão, esse bloco político que vive na mídia e serve de base para o governo atual. Então, apesar do nome, esse grupo não é de centro, é de direita.

Pode parecer uma constatação óbvia, mas a repetição do termo pela mídia, somada a uma "terceira via" formada majoritariamente por políticos - também de direita - envolvidos em traições e chantagens explica um pouco as dificuldades encontradas por um projeto moderado, como é, por exemplo, o de Marina Silva, para crescer nesse país.
 
Longe de mim querer aderir à bobagem de que há uma polarização entre dois extremos. O único campo extremista no Brasil de 2022 é o atual governo de extrema-direita que não apenas nasceu em um partido do Centrão como é sustentado pelo bloco.

"Centrão" é um termo que surge durante a assembleia constituinte de 1988 para definir o grupo ideológico formado em torno das políticas conservadoras de José Sarney, cuja agenda se opunha às propostas mais progressistas de Ulysses Guimarães.
 
À época o Centrão era formado por PFL, PL, PDS, PDC e PTB, a maior parte destes partidos ainda é parte do bloco, mesmo que com outros nomes ou após divisões.
 
PFL, PL e PDS possuíam orientação conservadora e se formaram a partir da ARENA, o partido cenográfico criado para dar um verniz republicano à ditadura militar, enquanto os porões do regime se ocupavam de torturar e matar homens, mulheres e crianças. Sim, até crianças.
 
Quanto aos demais, PDC foi um partido cristão e conservador, já extinto. E PTB é até hoje uma mera sombra fisiológica do antigo partido de Getúlio Vargas.

Ao analisar com os olhos de hoje podemos estranhar que partidos conservadores, ou abertamente reacionários, tenham adotado nomes como: “Liberal” ou “Progressista”. Estes grupos, porém, foram criados no fim da ditadura militar, após a dívida externa do país crescer mais de trinta e vezes e o poder de compra do salário mínimo chegar ao menor patamar em vinte anos, além de ser corroído mês a mês por uma inflação absurda.

Toda essa herança do regime – deixada para ser resolvida por governos democráticos –- tornava tóxica qualquer associação ao conservadorismo militar. O que também sugere uma possível explicação para o nome do bloco.
 
Claro, não dá para ignorar que boa parte do Centrão veio a aderir futuramente a estes mesmos governos democráticos. Lula teve como vice-presidente José Alencar, do PL e o bloco ainda fez parte da base do primeiro governo Dilma, embora tenham sido a força motora de sua destituição em 2016. Também é um fato que eventuais políticos ou partidos de esquerda já tenham apoiado ou aderido às pautas do bloco, em especial alas regionais do PDT e PSB.

Apesar disso, grupos ligados à esquerda jamais chegaram a ter mais do que uma pequena relevância regional no Centrão. Enquanto este, por sua vez, nunca aderiu a políticas progressistas, salvo apoios tardios a pautas já consolidadas e com inegável respaldo popular.

Para além da atuação conservadora e raízes cravadas em uma ditadura sanguinária, as características mais marcantes do Centrão são fisiologismo e clientelismo, o que aliás explica sua adesão a todo governo disposto a pagar seu preço. Vale qualquer negócio em troca de cargos e alianças regionais, ou, mais recentemente, das polpudas verbas do orçamento secreto.
 
Características estas que não possuem lado político, mas tampouco tornaram o grupo moderado. Pelo contrário, permitiram sua sobrevivência na nova república e a manutenção de pautas retrógradas sustentadas por figuras ignóbeis em cantos obscuros do congresso. E agora que uma figura destas enfim chegou ao poder, o grupo teve a chance de aderir a um governo que combine com sua natureza.

Como eu já disse, nada disso é exatamente novidade, analistas políticos e intelectuais lembram diariamente seu público, assinante de jornais, de que o centrão não é de centro. Enquanto o grosso da população, deixada de fora dos paywalls dos portais, lê apenas as manchetes estampadas com o nome do bloco.

Para tornar clara a natureza do Centrão é preciso dar a ele um novo nome. Os participantes do Foro de Teresina, podcast da revista Piauí, cunharam o termo Arenão, para remeter ao regime militar, de onde vem sua ideologia e a prática de trocar apoio por dinheiro e cargos em estatais.
 
Mas este ainda me parece um termo intelectual demais, ótimo para o público da revista, mas com pouca aderência popular. Na verdade termino sem ter qualquer sugestão de nome, mas com uma certeza: Enquanto “centro” for sinônimo de fisiologismo, clientelismo e corrupção, uma plataforma política abertamente moderada não corre o menor risco de dar certo.
 
Até semana que vem!

Aliás, aproveita e me diz aí que nome você daria ao centrão.
 



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