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Junho 30, 2022

Inovação e Zona de Conforto

por Lucas D. M. dos Santos

Lapso Trivial

Inovação e Zona de Conforto

Por Lucas D. M. dos Santos

 
Oi, tudo bem?
 
Se a resposta for sim, é possível que você esteja em sua zona de conforto neste momento. Pois fique bem aí, estique os braços, respire fundo e mantenha-se cômodo, afinal, essa zona não tem esse nome a toa, então aproveite.
 
Apesar do que é dito pela maior parte dos blogs de tecnologia e um monte de influenciadores que nunca inovaram na vida, é justamente na zona de conforto que a inovação acontece. Aliás, esse ponto não é meu, a primeira vez que li algo do tipo foi em um texto do @startupdareal, mas eu nunca mais consegui encontrar.
 
Pois bem, sabe quem vivia fora da zona de conforto? O Homo Sapiens, ao menos durante a maior parte da sua existência. Vivemos cerca de 150.000 anos como grupos nômades de caçadores/coletores ocupados apenas em encontrar alimento suficiente para sobreviver. Com tanto esforço investido na própria subsistência, passamos todo esse tempo sem criar cultura, estruturas sociais complexas ou tecnologia. As poucas ferramentas que utilizávamos eram praticamente iguais às das espécies que nos antecederam.
 
Porém, há uns 10.000 anos o jogo virou. De um jeito meio acidental criamos a agricultura. E a partir desse momento – ou destes momentos, pois a mesma descoberta aconteceu em várias partes do mundo – não foi mais necessário que todos os indivíduos dos grupos humanos se envolvessem na busca por alimento. Melhor alimentados e com tempo livre, adotamos atividades até então supérfluas, como questionar de onde viemos, desenvolver funções especializadas, estruturas sociais, além de inventar formas de passar tudo isso para as próximas gerações. Ou seja, se você hoje vive em sociedade é porque em algum momento nossa espécie alcançou uma zona de conforto.
 
De volta aos dias atuais, poucas vezes quem fala em sair da zona de conforto de fato o faz. Iniciar uma startup (com investimento familiar) ou adotar um estilo de vida minimalista (deixar apenas seu MacBook Pro de R$27.000,00 em cima da mesa) não são formas de sair da zona de conforto. Qualquer um que tenha garantidas suas refeições pelos próximos meses está bem mais confortável do que a imensa maioria da população brasileira.
 
Isso não quer dizer que há algo de errado em se desafiar, testar seus limites e buscar novas formas de viver. Passar um ano no exterior, dedicar seu tempo a aprender uma linguagem de programação, escrever um livro ou iniciar uma newsletter são ótimas formas de investir seu tempo livre. Mas estar bem alimentado, e abrigado para investir seu tempo livre em alguma atividade é essencialmente usufruir da sua zona de conforto.
 
Fora dessa zona está o motorista ou entregador de aplicativo que trabalha 12 horas aterrorizado, pois se sofrer um acidente não terá qualquer amparo legal. É gente que acorda sem saber se conseguirá se alimentar, ou alimentar seus filhos, naquele dia. Pessoas que em pleno século XXI precisam se dedicar apenas à própria subsistência e, assim como nossos antepassados, não encontra tempo para criar ou inovar. É bem mais difícil inventar um APP disruptivo em sua garagem quando você não possui uma garagem, ou qualquer teto, sobre a cabeça.
 
Sim, existem exceções, gente que apesar de todas as dificuldades persevera e encontra uma forma de superar sua situação precária através da arte ou da inovação. Porém, por mais valor que tenham suas trajetórias, eles continuam a ser um e milhões. As maiores descobertas da humanidade continuam a ser feitas por pessoas que possuem o básico para sobreviver e apoio para desenvolver tecnologia e arte.
 
Ou será coincidência que o desenvolvimento científico mais avançado esteja em países com os mais altos índices de desenvolvimento humano e, é claro, investimento em ciência? Lugares em que pesquisadores vivem em situação muito mais confortável que qualquer bolsista de pós-graduação brasileiro e para onde boa parte dos nossos cérebros tem migrado.

Para sermos um país de inovação, precisamos da universalização de uma mínima zona de conforto e investimento adequado em ciência e tecnologia. Ou continuaremos a perder nossas mentes inovadoras para o exterior, ou pior, para a fome e falta de educação adequada.
 
O resto, me desculpem, é papo furado de youtuber de investimento e conversa de quem quer te convencer a mergulhar em um tanque de tubarões. O que, convenhamos, só favorece os próprios tubarões.
 
Até semana que vem!

* Se você tem a impressão de que já leu esse texto, não é coincidência, uma versão anterior dele já havia sido publicada por mim em um blog obscuro, de qualquer forma, obrigado por ler novamente!
 



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