Lagom Insights: notas da comunidade do X funcionam?
Uma ronda por várias coisas que ando fazendo, inclusive a análise das notas do X
por MARCELO SOARES
Nas últimas semanas, andaram saindo várias coisas que fiz nos últimos meses e até dei entrevistas sobre o que fiz há muitos anos. Uma coisa bacana que fiz nos últimos meses foi colaborar com análises para um estudo do Digital Democracy Institute for the Americas (DDIA) sobre as Notas da Comunidade do X, antigo Twitter. Como apresentamos os resultados hoje, vou deixar pra falar dele por último.
Antes, topa assinar esta newsletter?
Redação do Repórter do Futuro - Congresso da Abraji
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo está organizando seu vigésimo congresso anual. O primeiro foi no Rio de Janeiro, quando eu ainda era o gerente (e único funcionário) da Abraji. As coisas mudaram bastante desde então. Desta vez, vou participar como editor da cobertura que os estudantes do Repórter do Futuro farão sobre o evento. O relacionamento entre a Abraji e a Oboré, que promove o Repórter do Futuro, remonta ao meu tempo como gerente: meu escritório era num canto da sede da Oboré, na rua Rego Freitas, centro de São Paulo. Gosto tanto deles que o Serjão Gomes foi meu padrinho de casamento. Se você for estar pelo congresso da Abraji no sábado à tarde, visite a redação do Repórter do Futuro e venha bater um papo comigo por lá!
Entrevista sobre o Excelências - Transparência Brasil
O pessoal da Transparência Brasil está fazendo uma série de matérias especiais sobre os 25 anos da organização. Um ponto muito interessante de que tive a honra de participar, em 2006, foi a criação do Excelências, banco de dados que reunia informações públicas sobre todos os deputados que concorriam à reeleição naquele ano. Naqueles primeiros anos do século, o Brasil estava numa espécie de “primavera da transparência”, e todas as brigas em que a sociedade civil entrava para abrir mais dados acabavam sendo ganhas. O Excelências acho que foi um dos pontos altos dessa fase, que acabou popularizando o que virou nos anos seguintes o clamor pela lei da ficha limpa. Participei dos primeiros meses do projeto. Há muitas histórias bacanas sobre ele, mas a mais divertida é a que abre o artigo, de quando um deputado me ligou chorando e esse telefonema acabou levando uns 20 parlamentares a pagar multas eleitorais que passaram anos esquecendo de pagar.
Anatomia de uma investigação malfeita - Mark Lee Hunter
Em dezembro, foi publicada na França uma reportagem que acusava o OCCRP, uma das mais interessantes organizações de jornalismo investigativo do mundo, de ser subordinado aos interesses dos EUA. A reportagem estava muito malfeita, como mostra meu amigo Mark Lee Hunter nesta análise aprofundada que ele escreveu, e ainda por cima acabou servindo de argumento para desmantelar o sistema de financiamento de causas sociais no mundo inteiro. Colaborei com o Mark para lançar sua newsletter (assine-a!) e desde então temos colaborado em outros trabalhos.
Laboratório de audiência ambiental - Ajor
Sou um grande entusiasta do trabalho da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), da qual a Lagom Data foi associada enquanto pude ter uma estagiária trabalhando comigo. Agora, continuo colaborando com eles, desta vez coordenando uma equipe de mentores que vão trabalhar com organizações jornalísticas da Amazônia Legal e do Matopiba na criação e distribuição de reportagens ambientais. Teremos muito trabalho pela frente nos próximos meses, mas terei uma turma ótima ao meu lado, começando pela equipe fixa que faz funcionar a Ajor.
Entrevista sobre como as big techs usam dados - revista Cultura Científica
Conversei com a jornalista Ana Paula Morales sobre como as redes sociais, anunciantes e operadores políticos usam dados que deixamos dando sopa pela internet para tentar nos fazer a cabeça. Espero que tenha ficado esclarecedora, passamos por diversos assuntos. A Cultura Científica foi criada por um dos intelectuais mais estimulantes que conheço, o Carlos Vogt, ex-reitor da Unicamp e atual diretor da Fundação Conrado Wessel. Em 2019, a convite dele, coordenei um incrível grupo de debates sobre os impactos sociais, econômicos, políticos e culturais da inteligência artificial, no Instituto de Estudos Avançados da Unicamp. Eu era o mais bobinho ali, a mágica era ver os colegas de grupo conversando. Dar esta entrevista foi, de certa forma, uma retomada daquelas conversas.
Analisando as notas da comunidade do X - DDIA
Desde o começo deste ano, com a posse do Donald Trump nos EUA, as big techs começaram a reduzir seus mecanismos de moderação e proteção dos usuários. A Meta, do Facebook e do Instagram, anunciou que vai fazer como fez o X, do Kiko do Foguete, e instituir “automoderação” dos usuários, por meio de notas da comunidade. Mas isso funciona? É o que a equipe do DDIA quer fazer neste projeto em que eu colaboro, que mal está no início. Nesta primeira análise publicada, mostramos que:
- A maior parte das notas da comunidade, votadas pelos usuários, não chega a obter um consenso
- Pode dermorar até 14 dias para obter um consenso e uma correção ficar permanentemente anexada ao final de uma postagem enganosa
- Não é garantido que as postagens que mais precisem de correção fiquem com notas anexadas; não é garantido que as postagens que fiquem com notas anexadas sequer estejam entre as que mais precisam de correção
- A maior parte das notas, quase dois terços, é em inglês. Português é uma língua marginal
O meu resumo é: “too little, too late”. As notas fazem muito pouco e chegam tarde demais. Não deveriam ser o único ou sequer o principal mecanismo de moderação.
Para os próximos passos, vamos entrar mais a fundo em questões temáticas. Clique no link acima e leia o relatório.

“Limite de Caracteres: Como Elon Musk destruiu o Twitter”, de Kate Conger e Ryan Mac. Os repórteres do New York Times contam os bastidores de como a rede social que já foi um dos maiores centros de bate-papo do planeta se tornou um antro de tudo o que há de pior no ser humano. Ontem mesmo até o robô gerador de lero-lero da rede, o Grok, resolveu fazer com palavras o gesto que o Kiko do Foguete fez na posse do Trump.
“Invisible Rulers: The people who turn lies into reality”, de Renèe DiResta. Acho que já indiquei este livro numa edição anterior. A autora fez parte do Stanford Internet Observatory, um importante projeto acadêmico de análise dos padrões usados pelas redes sociais para proteger os usuários. Esse centro foi atacado pela extrema-direita dos EUA e acabou sendo asfixiado até fechar. Neste livro, ela descreve com muita propriedade como funcionam as dinâmicas das redes que facilitam a multiplicação de discursos odiosos e perseguição a minorias.
“Emergência Climática: o aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor”, de Matthew Shirts. Embora não tenha nascido no Brasil, o Mateus é certamente mais brasileiro do que eu. Veio como historiador, virou jornalista, editou a National Geographic e há mais de duas décadas explica tintim por tintim, em claríssimo português, como é que a humanidade está escangalhando o clima no mundo. Logo que me mudei, trombei com ele na esquina e de vez em quando vamos tomar um café. Amanhã é dia!