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June 23, 2025

O supremacismo como praga proliferante

As fundações do pensamento europeu? Sim, existe uma frase, uma frase curta e simples, de apenas três ou quatro palavras, que resume toda a nossa história do mundo, toda a nossa história da humanidade, toda a nossa história da biosfera, do Holoceno ao Holocausto.

Exterminem todos os malditos, Sven Lindqvist

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O Estado sionista de Israel é o resíduo do supremacismo branco europeu que, pós-Segunda Guerra, deslizou e se incrustou no Oriente Médio. Resíduo abominável, nefasto e pegajoso que se expande, criminosamente, à revelia da soberania de outros povos e nações — sobretudo o palestino, o mais castigado no processo de invasão e limpeza étnica promovidos pelo sionismo.

Existe uma nítida conexão — apenas os carrascos e deturpadores da história que não a enxergam — entre a invasão, o extermínio e a colonização europeia no sul global, que teve início no século 16, com a invasão, o extermínio e a colonização sionista sobre a Palestina. Este segundo evento é, simplesmente (e apenas mais um dentre tantos), a linha de continuidade do primeiro.

Destruir o sionismo racista, colonialista e genocida é, em ordem mais profunda, atacar o projeto hediondo do supremacismo branco que, há quinhentos anos, a tudo invade, rouba, escraviza, extingue e tiraniza.

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Sobre o mal inato que os críticos e pessimistas europeus julgam ser do “homem”, falta sempre a correção: do homem branco. O “homem está podre até a raiz”? A civilização da supremacia branca é que, apodrecida por dentro, ainda se esforça a espalhar, à força, sua podridão para outros povos, outras vidas, para a biosfera. Se o mal é ontológico, a ontologia desse grande mal está restrita a uma origem, a um território específico — e a uma ideia religiosa fanática, aberrante (inaugural, aliás), que extermina a diferença e se coloca em superioridade cósmica.

Nenhum povo é santo, nunca foi. Mesquinharias, abusos de poder, conflitos, guerras e atrocidades de todo o tipo vicejam a constelação dos incontáveis grupos humanos que habitaram o planeta, ao longo de centenas de milhares de anos. Mas a barbárie tinha limite e havia, quase sempre, alternativas, maneiras de fugir do terror. No entanto, de qual cosmovisão saiu esse projeto de mundo (e de escala estratosférica) tiranizador, assassino e esterilizante que nos levou à beira da ruína?

Especificar é fazer justiça, restaurar a verdade sobre o que aconteceu nos últimos quinhentos anos e redimir a história dos dizimados e sobreviventes: o “homem” que insiste constar nos livros de teoria é o homem branco. Pois o iorubá não é homem, o guarani não é homem, o quilombola não é homem, sequer o chinês é homem.

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Não seria o fascismo a versão explícita, o paroxismo de um terror que compete à base da cosmogonia do supremacismo europeu? Nesse sentido, Churchil não está tão distante de Hitler: a noção de quem são os escolhidos para viver e reinar na Terra do primeiro é apenas um pouco menos seletiva (porque contempla toda a Europa, mas pouco importa o extermínio e a colonização do povo indiano) do que o do segundo — que restringiu a ideia de superioridade e triunfo cósmico a apenas uma única nação.

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Assim como o europeu fez com praticamente todos os povos e todas as culturas (inclusive dos inúmeros que ele exterminou), falta aos outros povos e culturas, numa perspectiva de fora, desenvolver as antropologias do povo europeu. Responder, por que não?, na mesma moeda: enxergá-lo como exótico e, com base nas barbáries que provocou, em continentes inteiros, nos últimos cinco séculos, taxá-lo, categoricamente (como um axioma das antropologias dos sobreviventes), de legítimo povo bárbaro.


A farfalhada niusleter é o meio mais livre e satisfatório por onde espalho, na internet, meus escritos fragmentários de muitos temas e tons: dos arranhões filosóficos e políticos baseados, quase sempre, no debate sobre civilização e ecologia, aos meus haicais, haibuns e zuihitsus da vida cotidiana. Alguns dos textos que compartilho aqui estão presentes no meu último livro, um miscelânea fragmentária chamada O clarão das frestas. Atrair inscritos é sempre uma alegria, mas dá trabalho. Se você acompanha e aprecia esta niusleter, e conhece gente que também faria o mesmo, compartilhe, indique.


Abraços e até a farfalhada #100,
Felipe Moreno

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