Haibun sobre os meus vizinhos

§ Casal de velhos na porta da casa. Passo, do outro lado da rua, e seu Reinaldo me cumprimenta, diz meu nome; também dona Elisa, em seguida. Vocalizo, estendo a mão, retribuo. Como lembram do meu nome? Foi tão pouco nosso contato. O fato de eu saber o nome deles não conta: só minhas amizades sabem sobre minha paixão por velhinhos — até mais do que por crianças —, que decoro seus nomes, os espio, escrevo crônicas, haicais e haibuns como inspiração. Dona Elisa e seu Reinaldo estão de braços dados: que coisa mais terna, meu deus. Ela usa grampos nos cabelos; ele tem um bigode inteirinho branco; perderam um filho jovem, perseveraram juntos; cultivam um jardim simples, porém impecável, o mais bem cuidado da rua Ana Maria Nunes. Proprietários da casa onde moro, me cobram, além do mais, um aluguel baratíssimo, num lugar digno, agradável. Sigo meu passo, o coração cheio. A pichação no muro me comunica: Jesus te ama. Me sinto amado, e amo: seu Reinaldo e dona Elisa, especialmente — como se fossem meus avós. Nada a reclamar, tudo de bom a sentir. Um gato sobe no portão, mia baixinho, vem me pedir carinho. Essa vida que levo: meu deus, que dádiva.
começa a chover
tão fino, não me recolho —
sigo a céu aberto
A farfalhada niusleter é o meio mais livre e satisfatório por onde espalho, na internet, meus escritos fragmentários de muitos temas e tons: dos arranhões filosóficos e políticos baseados, quase sempre, no debate sobre civilização e ecologia, aos meus haicais, haibuns e zuihitsus da vida cotidiana. Alguns dos textos que compartilho aqui estão presentes no meu último livro, um miscelânea fragmentária chamada O clarão das frestas. Atrair inscritos é sempre uma alegria, mas dá trabalho. Se você acompanha e aprecia esta niusleter, e conhece gente que também faria o mesmo, compartilhe, indique.

Abraços e até a farfalhada #99,
Felipe Moreno
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