Educandário Esotérico Dr. J.S.

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June 10, 2025

Episódio IX - Voltando a estudar violão

Tem umas semanas que eu voltei a estudar guitarra e violão.

Era um rolê que eu já estava querendo fazer desde que eu mudei, mas sempre postergava. Boto fé que parte disso era algum resquício de personalidade que faz a gente se auto sabotar nos nossos próprios projetos. Mas a outra parte era a vida real mesmo e seu número infinito de coisas que precisa resolver. Uma união e tanto.

Daí que eu aproveitei o horário que antes era das aulas de alemão e dei um novo destino a esse tempo, antes que outra coisa o fizesse.

Um idoso de manto vermelho anda com uma lanterna na mão esquerda. Essa lanterna emite raios de luz em direções diversas. Abaixo, um cachorro preto de três cabeças acompanha o eremita.
O Eremita do tarô de Thot

Na política, dizem que não existe vácuo de poder. Acho que esse raciocínio também pode ser transposto ao tempo: não existe vácuo de tempo. Se a gente não ocupa o tempo livre, alguma coisa vai lá e preenche, ainda mais em tempos de capitalismo tardio. Ou você faz o esforço de ocupar esse tempo de alguma forma (mesmo que seja como tempo ocioso mesmo, para passar não fazendo nada), ou alguma outra coisa vai tentar se instalar ali.

Para me motivar e sair da inércia, montei um “método” (ênfase nas aspas porque ainda é algo meio solto, não muito estruturado) que consiste em estudar as lições de instrumento nas revistas de guitarra que eu ando lendo. Tudo em alemão. Meia hora lendo texto, uma horinha no instrumento por dia.

Queimo a mufa duas vezes de uma tacada só. Se a sessão de estudo não for muito boa, ao menos o alemão eu garanto. E não deixa de ser um alento ler algo que me deixa feliz, perante o oceano de notícias ruins que aparecem nos feeds da vida todo o santo dia.

Um idoso de manto cinzento, capuz e barba branca segura uma lanterna na mão direita e um cajado na esquerda. Ele olha para a esquerda e para baixo, como se estivesse numa montanha nevada. Dentro da lanterna, uma estrela de seis pontas brilha. Ainda assim, o céu está claro.

A última lição que eu li (e que eu parei, preciso voltar) foi uma lição de blues e uma transcrição de solo. Vai ser legal pra eu dar uma guaribada na leitura, ainda que eu esteja começando devagar. Longo prazo, paciência, etc.

Nesse meio tempo, chegou também um livro de condução de vozes e enarmonias de acordes. Bem legal, tá me ajudando bastante a desenvolver agilidade nos dedos pra treinar mudanças de acorde com tensões. É uma sonoridade muito comum no jazz, na bossa nova e no city pop (especialmente o japonês) e que não é óbvia. Precisa de estudo pra saber tocar.

É um livro que me lembra de longe os livros de tarô, porque no começo parece que é uma infinidade de acordes e no final nem é tanta coisa assim.

Também peguei pra estudar essa lição de um canal do YouTube que eu amo, o Curious Guitarist, do Chris Sherland. Queria dar uma lembrada no repertório e tirar a ferrugem dos dedos. Ainda não estou tocando tão bem quanto eu queria, mas achei que o resultado foi melhor do que o pior cenário possível. Sabe aquele papo de que depois que ninguém esquece a andar de bicicleta depois que aprende? Vale pra instrumento musical também.

O rolê é me manter motivado e manter a regularidade dos estudos.

Um homem com cajado e manto azul segura uma lanterna colorida na mão direita.
O Eremita do tarô de Marselha

Tem horas que bate aquela sensação de arrependimento retrospectivo, de como hipoteticamente seriam as coisas hoje se no passado eu tivesse feito diferente.

Se, sei lá, eu tivesse estudado mais horas em 2009 ao invés de jogar mais horas de World of Warcraft. Se eu tivesse saído da orquestra nos primeiros meses e procurado outro emprego. Se tivesse começado um canal de Youtube antes. Se eu tivesse feito um curso de alemão antes em algum momento da vida. Essas coisas.

Eu sei das escolhas que eu fiz. Elas tiveram seus motivos e não foram aleatórias. E seus desdobramentos contribuiram para criar a minha atual realidade, que me permite estudar, refletir e escrever sobre esse processo.

Já fui mais encucado com isso, e talvez parte do processo de amadurecimento implique em fazer as pazes com os acidentes e contratempos do percurso. Sem aquele papinho meio auto ajuda "cada percurso é único" que enxerga toda e qualquer particularidade como uma espécie de dádiva imaculada, e não como uma contradição, um paradoxo ou mesmo como um problema real oficial.

Em retrospecto é tudo sempre muito fácil. Teria dado tudo certo se não fosse um pequeno detalhe.

E sempre tem um detalhe.

A gente sempre pensa que poderia estar melhor, mas a possibilidade de estar pior, retrospectivamente, também existe. Pode ser que aquele plano que você abortou lá atrás foi justamente o que te impediu de ficar ainda mais tempo na merda. Ou aquele rolê que você largou sem pensar duas vezes foi o que te salvou de uma roubada muito pior. Aquele relacionamento merda que graças aos deuses você terminou, etc.

O futuro hipotético em retrospecto costuma ser uma armadilha. Não tem como competir com o cenário imaginário perfeito, em que absolutamente todas as variáveis se alinham perfeitamente. Só não deu certo porque você não se mexeu o suficiente ou não fez as coisas segundo o jeitinho certinho do manual.

Às vezes os ajustes são de longo prazo mirando no futuro. Só que às vezes são ajustes mirando no passado mesmo. E eles incluem limpar as lentes que a gente usa pra olhar o passado.

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