Episódio 20 - Sobre curvas de aprendizado, espirais e sobre deixar as coisas assentarem
Daí que eu estou fazendo um curso de alemão A2. E o curso está nos finalmentes, com a data final para o dia 25 de dezembro.
Faltam dez aulas divididas em três unidades. Se eu fizer uma aulinha por dia a partir de amanhã, termino tudo no dia de natal. É bem no limite do prazo, em cima do laço, mas (teoricamente) de uma forma mais leve, fazendo menos aulas por dia.
Se eu fizer duas por dias, fica um pouco mais puxado mas me garante que eu me livre de vez desse curso no sábado. Três aulas por dia está fora de cogitação: toma muito tempo e me deixa exausto. E sim, já testei essa estratégia antes. Foi muito sofrido e não quero mais isso pra mim.
”Me livrar do curso” talvez não seja a expressão apropriada, por não fazer justiça ao curso (que é legal), mas faz ao meu sentimento: estou bastante cansado, rodando no vapor e ansioso pela pausa do natal e do ano novo. Estou aprendendo menos do que eu acho que seria possível e curtindo bem menos do que eu gostaria.
E assim: o curso é legal. Pra mim é bastante divertido quando eu consigo, digamos, “fazer o meu passeio” e tornar o processo todo mais divertido.
Assim: pra uma plataforma de e-learning do it yourself, o negócio é bem OK. Não é o ideal, mas é o que cabe no meu bolso por hora, pois os cursos presenciais do Goethe Institut ainda estão fora do meu orçamento e da minha logística. E confesso que está sendo melhor do que os presenciais da VHS que eu fiz ano passado.1
Baixo orçamento por baixo orçamento, o Goethe Institut se saiu melhor. Modelaram direitinho pro tipo de aluno que toparia esse investimento: gente que tem pouco tempo, sabe das manhas de aprender por conta própria e consegue se organizar pra fazer acontecer.
Infelizmente não é o perfil de todo mundo. Quer dizer, não tem nada de errado com outros estilos de aprendizagem, de pegar um ônibus até o curso, ir pra sala de aula, cumprimentar as pessoas do curso, esperar o professor etc. Inclusive curto e tenho amigos que são.
Só que o curso adequado pra esse tipo de perfil de aluno sai substancialmente mais caro, fora o tempo de deslocamento. É o preço que se paga por ser menos flexível nesse aspecto e funcionar enquanto aluno somente naquele curso estilão clássico.2
Parte da tarefa de ser aluno é sacar o que funciona e não funciona pra você. Era o que eu dizia pros meus alunos de música (quando eu tinha alunos) e o que eu digo quando me perguntam sobre estudar os oráculos que eu jogo.
É um testemunho de algum grau de auto conhecimento e de diligência nos estudos, porque só quem tá se engajando no aprendizado acaba sabendo o que serve e o que não serve. E o que vai servir pra você pode não servir para outra pessoa e vice versa. Mas, novamente, só quem estuda direito descobre esse “detalhe” que é só a parte mais crítica de todo o processo de ensino e aprendizagem.
Daí pra frente, é escolher as batalhas nos termos que te favoreçam.
Eu preciso de tempo pro aprendizado se consumar e se manifestar do jeito que eu quero que se manifeste, pro curso fazer sentido e ir virando as chavinhas3 todas. E eu sinto que esse atropelo de final de ano, de curso e de vida estão me prejudicando. Depois lá na frente eu vou ter que desfazer esse nó.
Mas essa correria toda também é aprendizado, e eu já cheguei ao entendimento de que em 2025 eu preciso pisar menos no acelerador. Até porque o próximo curso que eu quero fazer é o B1, e eu sinto que eu ainda não estou muito seguro no A2.
Estudo é isso: ir lá, ler, tentar entender, praticar, corrigir, tentar de novo, quebrar a cara algumas vezes, voltar e refazer. Parece um andar em círculos, mas na real é uma espiral cheia de turbulências.
E se a gente for espertinho, a cada volta a gente aprende uma coisinha nova sobre nós mesmos.
Já gastei muito tempo e muito dinheiro nessa vida com professor e curso ruim. No momento preciso de algo que resolva.
Assim, se pudesse, faria. Mas é caro e as aulas são numa cidade próxima a quarenta minutos de trem. Bota duas aulas de duas horas por semana com mais noventa minutos de trajeto. Dá umas três ou três horas e meia fora de casa. E esse tempo por hora também tá fazendo falta.
Virar chavinhas é um processo mais alheio do que nosso, porque a gente não tem muito controle quando elas vão virar e se vão virar. Mas se a gente não se mexe, aí é que elas não viram nunca.