dentesguardados #22 Enceradeira
#22 Enceradeira
Eu estava pronto pra pular a edição de abril porque estou precisando dedicar cada minuto de tempo livre a revisar a tradução de Suttree quando de repente me dei conta do que devia fazer.
Comecei a traduzir esse romance em janeiro do ano passado. Já contei em algum lugar que quando me mudei pra Garopaba em 2008 uma das coisas que fiz foi levar as obras completas de Cormac McCarthy e ler/reler tudo, até as peças de teatro. Suttree foi uma influência importante para escrever Barba ensopada de sangue. E em algum momento do segundo semestre daquele ano decidi que ia tentar traduzir o livro aos poucos, só pela satisfação pessoal, aproveitando a fartura de tempo livre e liberdade que tinha à disposição.
Não passei da primeira página. Lembrou de ficar algumas tardes enfileiradas refazendo as frases, trocando vocábulos, lendo em voz alta, até perceber que não estaria à altura da tarefa.
Quinze anos depois, o Marcelo Ferroni, que edita tanto o McCarthy quanto euzinho, me propôs traduzir o livro, que segue inédito no Brasil. Hesitei bastante, não somente por conhecer a dificuldade da empreitada, mas porque desejava priorizar o desenvolvimento do meu próximo romance. Além disso, traduzir livros difíceis é uma tarefa notoriamente ingrata do ponto de vista financeiro, pois se avança necessariamente aos poucos. Sabemos também que nos últimos vários anos o valor da lauda de tradução não acompanhou a inflação do supermercado, do plano de saúde, da escola. Era irracional de muitos pontos de vista. Mas duas considerações me levaram a aceitar. Uma delas foi o prazer de encarar o trabalho e vencer as dificuldades com passo de formiga, de mergulhar de novo nesse romance extraordinário, o deleite estético prometido. E dessa vez eu me sentia mais pronto: ao reler pedaços do livro conseguia narrá-lo a mim mesmo em português de maneira convincente. A outra se baseava na constatação particular de que me comprometer com uma tradução longa e exigente já havia me ajudado a sair de impasses criativos no passado. Ficar aprisionado num projeto desses por vários meses poderia acionar o diabólico mecanismo psicológico que faz brotar ideias mediante a impossibilidade prática de desenvolvê-las.
Desse ponto de vista, então, posso dizer que foi um sucesso. Em agosto do ano passado, apavorado com a voracidade da tradução por engolir todo meu tempo e energia criativa em troca de faturamento insuficiente (saliento que a editora me paga bem, acima da média do mercado, e é tolerante com meus atrasos; mas pra um trabalho assim fazer sentido a pessoa precisa de salário e CLT, ou não ter família e morar de graça num hotel; de qualquer outro jeito a conta não fecha), tive uma ideia para um novo romance. Bacana. Era só terminar a tradução!
Bom, aqui estou eu, 7 de abril, apanhando pra passar dos 3/5 da revisão. Falta pouco, sprint final, vejo a linha de chegada. Mas nem a analogia de uma ultramaratona funciona, pois nesse último quilômetro não tem adrenalina nem superação, é trabalho minucioso, obsessivo, sempre insuficiente, em busca de um "melhor possível" para o qual não há índice ou critérios objetivos.
Estou bem orgulhoso do que fiz e logo estarei livre.
Compartilho abaixo com os e as assinantes um trechinho da tradução de Suttree que em breve entregarei para a Alfaguara. Não é uma cena essencial do romance. Nenhuma é. Escrito em 1979, este é um romance quase picaresco, um acúmulo de episódios e anedotas que acompanham a vida do pobre-pescador-de-origem-abastada Cornelius Suttree -- o mais próximo que McCarthy produziu de um alter-ego -- nos recantos marginais de Knoxville nos anos 1950. O estilo mistura gótico sulista, a Bíblia, Joyce, Faulkner, velhas lendas irlandesas, crônicas surreais de jornalecos sensacionalistas.
O trecho escolhido, que está mais ou menos na metade do livro, não é particularmente complicado e narra uma briga de bar. Uma briga horrível, na qual nosso herói é atingido por uma enceradeira. Nem sempre dá pra saber direito o que está acontecendo. Às vezes o que acontece é de uma nitidez aterrorizante. Um detalhe cômico narrado à la Hemingway pode ser logo sucedido por um delírio grotesco em fluxo de consciência. O autor faz o que quer. Às vezes parece que algo estaria errado se estivesse nas páginas de qualquer outro livro. Não aqui. McCarthy levou quase duas décadas pra escrever Suttree. Em seguida escreveria Meridiano de sangue. Eu acredito que mesmo aquilo que soa obscuro, ofensivo ou desleixado em sua escrita resulta do mais absoluto rigor, e que o atestado disso é o assombro provocado pela leitura, e que esse assombro, em termos literários, basta. É por isso que a revisão vai levar o tempo que levar. A cena abaixo poderá ter passado por modificações no livro impresso que virá este ano ou no ano que vem (pelo que me disseram; logo não dependerá de mim).
*
[trecho de "Suttree" (1979), Cormac McCarthy, tradução em progresso]
Às nove horas da noite eles já eram doze ou mais, só gente boa de McAnally. Uma hora depois chegaram a um bar de estrada chamado Indian Rock.
Costuraram caminho entre as mesas e Billy Ray Callahan tomou o cuidado de passar pelo lugar das garotas que tinham ido dançar deixando para trás as bolsas no meio das bebidas. Callahan entornou os copos e pegou o dinheiro das bolsas e seguiu em frente, sorrindo e acenando para amigos e desconhecidos, até passar por uma mesa perto da qual estava sentado um jovem grandalhão a quem Callahan dirigiu um sorriso convidativo.
E aí, grandalhão.
O grandalhão desviou o olhar.
Juntaram mesas e pediram Cocas e sacaram do bolso garrafas de uísque. Dançarinas rodopiavam na fumaça vacilante e a música com batida country acelerada era como um prelúdio à violência que se acumulava logo abaixo da superfície, as sutis interações na atmosfera excitada. Suttree e J-Bone abriram caminho até o banheiro masculino. O Repolho já dançava descontrolado na pista, a garota dava risada. Kenneth Tipton numa mesa próxima oferecendo a mão.
A gente tem que dar um jeito nesses cuzões, disse J-Bone.
Vamos cuidar pra não beber demais.
Quando voltaram a sua mesa havia sumido. As bebidas estavam derramadas sobre uma pilha de vidro e cubos de gelo no chão de concreto molhado e a mesa estava destroçada em outro canto. Suttree viu uma das pernas da mesa na mão de alguém. A área se esvaziava rapidamente, as pessoas circulavam rente às paredes. Suttree viu o Cabeça de Porco se aproximar furtivamente por trás de uma falange de combatentes e armar um golpe e acertar um rapaz atrás da orelha e cair fora. Earl Solomon saiu pedalando em marcha ré da frente de batalha e se chocou contra a parede. Paul McCulley estava trocando socos com três rapazes sozinho perto da entrada do banheiro feminino e a porta ficava abrindo e fechando com as garotas espiando em turnos.
É melhor a gente tirar alguns de cima do Hulley Babe, disse J-Bone.
Começaram a atravessar o salão mas não tinham ido muito longe quando alguém veio para cima de J-Bone. J-Bone empurrou o sujeito e ele se virou e desferiu um golpe e os dois se atracaram. Suttree conseguiu chegar ao local em que Paul estava e prendeu um rapaz pelo pulso e o subjugou e o arremessou de encontro a uma mesa cheia de bebidas cheias pela metade. Ele berrou alguma coisa para Suttree mas as palavras se perderam na refrega. Paul atingiu um dos outros rapazes e ele caiu e levantou e se retirou. O terceiro golpeou Suttree no lado da cabeça. Suttree ficou em posição de briga e se esquivou e o rapaz viu McCulley vindo para cima dele e disse: Não vou brigar com os dois ao mesmo tempo.
Mas é um cagalhão mesmo, disse McCulley. Quando era três contra um não tinha problema né. Ele empurrou o rapaz contra a parede mas o rapaz se virou e fugiu.
Segura esse merdinha aí, Ruivo, McCulley gritou.
Callahan estava parado olhando em volta com a cabeça ensanguentada no meio de uma pilha de corpos caídos. Esticou o braço e segurou o rapaz pelo ombro quase com delicadeza. Pof, ele disse. Suttree se virou para olhar. McCulley o envolvera com o braço e o abraçava e ria enquanto o conduzia de volta para o meio da briga.
Contra quem a gente tá brigando hein caralho?, disse Suttree.
Que se foda, quem se importa? Se não for de McAnally, porrada nele.
E submergem no tumulto sombrio no salão fumoso que é uma terra de ninguém cheia de bêbados de aparência mortífera cambaleando com olhos injetados e fedendo a uísque caseiro. Um rebuliço de pés, a pancada surda dos punhos. O longo e infindável estilhaçar de vidros e cadeiras e sobre as cabeças o silvo intermitente de garrafas de uísque varando o recinto como morteiros até explodir nas paredes de pedra. Uma vaga de corpos passou por cima de Suttree. Levantou a muito custo. No meio de tudo daquilo encontrou Kenneth Tipton aparentemente enclausurado em um nimbo de paz, segurando o pulso e abrindo e fechando a mão. Fodi a minha mão, ele disse. E então foi arrastado.
O piso estava escorregadio de sangue e uísque. Alguém o acertou embaixo do olho. Tentou enxergar J-Bone mas não conseguiu. Viu Callahan passar, um olho roxo e reluzente, sorrindo, os dentes rebocados de sangue. Os punhos sardentos ocupados em colocar oponentes para dormir. Viu uma garrafa empunhada por alguém elevar-se acima da peleja e desfazer-se num crânio desconhecido.
A luta avançou contra a parede do banheiro feminino e a estrutura rangeu e vacilou. Suttree viu uma cabeça cair para trás e afundar um disco rachado na superfície do tapume. Alguém ajudava um sujeito mais velho no canto com lenços tentando estancar um sangramento na orelha e o velho fazia de tudo para esmurrar seu enfermeiro e retornar à briga. Dava tapas na mão que o acudia, a orelha meio pendurada. O segurança abria caminho como um ceifeiro através da massa humana aglomerada junto à parede, abatendo gente com um porrete. Quando chegou perto de McCulley, McCulley o acertou um direto no queixo. O segurança tropegou para trás e sacudiu a cabeça e investiu outra vez com o porrete. O golpe produziu um som horripilante na lateral da cabeça de McCulley. McCulley deu mais um soco e acertou o rosto do segurança. O sangue jorrou. O segurança caiu para trás e se recobrou. Os dois estavam se preparando para atacar ao mesmo tempo quando as pernas de McCulley bambearam e ele caiu de joelhos no vidro e no sangue. O segurança passou por ele e foi em direção a Callahan. Um homem chegou por trás dele empunhando uma enceradeira.
Era uma máquina pesada, ele a mantinha erguida a muito custo. Quando atingiu o segurança com ela, o segurança desapareceu.
Suttree tentou abrir caminho até a parede mas um braço pesado se atravessou em seus olhos. Saiu girando. Cercado por estranhos agora. O homem com a enceradeira foi se aproximando. A enceradeira se ergueu instável acima da multidão. Ao descer não atingiu nenhuma outra cabeça senão a de Suttree.
Sentiu estalarem as vértebras do pescoço. O salão e tudo que continha ficaram brancos como o meio-dia. Seus olhos se reviraram e seus intestinos se soltaram. Ouviu nitidamente a mãe chamando seu nome.
Estava em pé com os joelhos travados e as mãos pendendo ao lado do corpo e o sangue escorrendo pelos olhos. Não conseguia enxergar. Disse a si mesmo: não caia no chão.
Vacilou. Deu um passo curto, entesada sondagem. Não era a escuridão do nada que o aguardava e sim uma bruxa pestilenta sorrindo com gengivas desdentadas e não havia madona do desejo ou mãe do eterno amparo para além da chuva escura com lâmpadas sobressaindo na noite, o vale suave entre seios empoados e as frágeis clavículas alabastrinas em cima do veludo exuberante do vestido. A bruaca rebolava como se zombasse dele. Que homem seria covarde a ponto de preferir balançar para sempre em vez de cair logo de uma vez?
Tombou como um zumbi no meio de todo aquele clamor e estrebucho, o rosto branco, os olhos chapados ante a enormidade da dor subjacente. Alguém pisou na sua mão enquanto se arrastava. Tentou levantar de novo mas o salão tinha se convertido em um túnel no qual voltava sempre a cair. Não sabia o que tinha lhe acontecido e seus olhos não paravam de encher de sangue. Pensou que tinha levado um tiro e ficava dizendo a si mesmo que o estrago poderia ser consertado se nada mais o afligisse antes que pelo amor de Deus pudesse sair para sempre daquele lugar.
Levantou buscando apoio numa parede bamba e tentou enxergar. Toda aquela arruaça frenética em seu entorno parecia ter amenizado e cada rosto em turbilhão passava flutuando numa paralaxe perfeita como duplos de guerreiros com seus mentores, um salão repleto de siameses maníacos e hostis. Ahhh, disse Suttree. Rumando em direção à porta percebeu, tomado de leve por aquela sensação de conto de fadas trazida pelas maravilhas da infância, que o rosto de olhos arregalados que tinha acabado de ver ao lado de uma mesa virada pertencia a um homem morto. Alguém que vinha a seu lado reparou no que ele viu. Que coisa horrível, disse. Suttree sangrava pelas orelhas e não conseguiu ouvir direito mas pensava o mesmo. Foram avançando trôpegos como os amaldiçoados pelas planícies de Gomorra. Antes de alcançarem a porta alguém lhe acertou uma garrafada na cabeça.
Deve ter apanhado ainda mais de outros depois disso pois quando acordou no hospital tinha um dedo quebrado, três costelas quebradas, a boca cheia de dentes soltos e um faltando. Tentou se mover mas as pontas de osso serrilhadas em seu peito eram como tesouras. Sua cabeça latejava e sua visão parecia distorcida e ele se sentia vagamente surpreso por continuar vivo e sem muita certeza de que valia a pena. Virou os olhos para cima e sentiu o sangue seco rachando na testa. Luzes subiam aos céus uma atrás da outra e após um certo tempo entendeu que eram lâmpadas no teto de um corredor e que o rangido periódico era uma roda solta na maca em que o carregavam. A sala de emergência estava lotada de pessoas ensanguentadas. Combatentes recobertos de coágulos, com as cabeças desfiguradas. Todos vigiados por hordas de policiais. Continuaram empurrando a maca de Suttree. Levando seus ossos doloridos em sua nau de carne. Até a escuridão onde a carroça dos mortos aguarda. Quem sabe a ira de Deus no fim das contas.
Amigos em fileira acompanhavam a sua passagem e acenavam com os dedos e sussurravam entre si. Eles que haviam se pronunciado sobre as moléstias da alma e as novidades da noite. Quando você mandou chamar o farmacêutico do coração pensamos que estava louco. Vimos você ser levado às catacumbas do neurocirurgião, para as profundezas do porão, embaixo da rua. Lá onde os serrotes assoviavam nos crânios esfacelados e uma tubulação expelia pó de osso molhado no beco. Na rua sob o luar azul o cadáver esbatido de uma mulher foi colocado dentro de uma caminhonete. Que arrancou e sumiu na noite. Menestréis com trombetas e cachorrinhos dançarinos em trajes de arlequim foram atrás saltitando.
A noite é fria e continua esfriando, uma neblina ameaçadora toma conta das ruas. Frêmitos maléficos abaixo da superfície, um hálito empesteado escapando visivelmente da tampa entreaberta dos bueiros. O caminhão de limpeza se arrasta como uma besta noturna, a escova em forma de tambor retine. Poças negras como tinta no meio da rua replicam as lâmpadas dos postes em rosetas dardejantes que se concavam e deslizam na torrente como radiolários de pálida fosforescência no mar noturno. Os varredores varrem o lixo das sarjetas alagadas e a água faz brilhar suas capas de chuva amarelas. Eles pulam no caminhão e pegam carona com as vassouras erguidas parecendo bonecos de cera laqueada, gnomos hortativos. As luzes noturnas do hotel cintilam por trás das venezianas fechadas e o padrão das ripas de madeira que se reflete nos carros estacionados perto da calçada lhes confere o aspecto de pequenas embarcações de casco trincado. Lá fora nas ruas hibernas uns poucos antroparianos destintos já zanzavam na garoa fuliginosa. Acima deles a cidade parecia uma horda colossal de retortas e alambiques silhuetados contra o firmamento sem estrelas. Em seu sono agitado você viverá para ver a cidade em que nasceu arrasada até a última pedra.
Suttree ouviu pessoas falando do seu crânio. Se ao menos pudesse se ver. Metade da cabeça raspada e cadavérica e anestesiada de novocaína. Um médico idoso suturava seu couro cabeludo com pinça clampe e agulha. Suttree ainda com as roupas que vestia na rua, uma das mangas recortada, sujo e fedendo a sangue e cerveja e merda. Uma enfermeira sentada ao lado com o cotovelo dele no colo removendo cacos de vidro com um fórceps e depositando-os numa bandeja de metal.
Acordou numa salinha branca. Cair da noite. Sombras oblíquas de pássaros na parede. Levantou a cabeça e olhou em volta. Dois pombos sacudiam as penas no peitoril. Vista para o oeste, luz gelada de inverno. Por trás do ruído do tráfego o ribombo constante de ondas quebrando. Sua cabeça estava envolta em ataduras e sua mão doía. Trouxe a mão até perto dos olhos. Um dedo dentro de uma tala com suporte de alumínio. A mão dividida em duas mãos feridas lado a lado. Piscou e elas se reuniram. Callahan, seu desgraçado, disse. Deitou a cabeça e dormiu.
*
Na próxima edição espero poder contar que o texto está nas mãos dos editores. E falar sobre o que vem pela frente. E talvez comentar algumas leituras recentes que fiz (é justamente pra esse tipo de coisa que não tem sobrado tempo). Enquanto isso, obrigado novamente aos leitores e leitoras que chegam ou seguem aí e que têm enviado contribuições pra newsletter. Cada uma, independentemente do valor, é um upa nas costas e um incentivo precioso pra mim. Aproveito pra lembrar que sigo realizando leituras críticas de manuscritos, um trabalho a que me dedico de corpo e alma e me traz enorme satisfação. Pra quem quiser saber mais, tem um FAQ no meu site.
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