dentesguardados #11 Continuidade
Continuidade
Nunca me envolvi em um acidente automobilístico sério. Mas já me contaram que, após uma colisão violenta, da qual não obstante se sai aparentemente ileso, surgem nos dias seguintes dores intensas nos músculos, articulações, cabeça. O impacto gera estresse e tensão no corpo, mas os efeitos só se fazem sentir depois, em casa, quando a vítima finalmente consegue relaxar.
Lembrei disso muitas vezes nesse ano de 2022. O ano em que estávamos vacinados, vivos; com sequelas e perdas que variam muito de uma pessoa a outra, mas vivos. O ano da retomada das atividades, das possibilidades de convívio presencial e deslocamento, dos reencontros, mas também do processamento físico e emocional das perdas, dos lutos, das consequências físicas e psicológicas do isolamento social, da inflação, da difícil projeção do futuro, da luta por um resultado eleitoral que virasse a página (não vou dizer "de vez") dos quatro anos tenebrosos de governo bolsonarista. Um ano em que o alívio veio misturado à dificuldade de encontrar cadências novas que substituíssem os modos de defesa ou o puro e simples pânico dos dois anos anteriores. Relaxamento dolorido.
Na edição #7 dessa newsletter, que enviei em 10 de fevereiro de 2021, escrevi:
É enjoativo viver esse intermédio entre a eclosão da crise sanitária e o desenlace da sua superação ou de uma eventual derrota da humanidade. Enjoativo porque o que vamos testemunhando sugere que nossa capacidade para se adaptar ao pior é mais forte que nossa capacidade de enterrar o velho e instaurar o novo, abrir as fronteiras do possível para práticas mais solidárias, comedidas, integradas ao mundo natural, a uma técnica voltada ao bem-estar de todos sem distinção e à beleza da experiência da vida, e não ao cumprimento burro e supostamente inevitável de toda profecia que a própria técnica se apressa em apresentar.
Quase dois anos depois, superamos a crise sanitária em muitos sentidos, e uma eventual derrota da humanidade é um desenlace em cujo caráter meramente admonitório ainda nos autorizamos, nos melhores dias, acreditar. Mas algo do enjoo persiste. Hoje, ele depende um pouco daquilo em que decidimos prestar atenção em cada momento. Nos livramos de coisas terríveis, mas nada está garantido. Aprendemos coisas importantes, mas parece que há outras que nunca aprendemos.
Ano passado foi estranho porque olho pra trás e não consigo lembrar muito bem do que aconteceu. Lembro da colisão melhor do que dos momentos que a sucederam, esses meses em que saí relativamente ileso, meio incrédulo, aliviado em grande medida, mas assombrado por algum ferimento invisível. Pode ser cedo demais para pensar diferente, ou tarde demais. Realmente não sei. Tive boas experiências e alegrias. Nunca perdi de vista a sorte que tenho em tantas frentes da minha vida. Gritei e cantei com amigos quando a vitória do Lula se confirmou -- para no momento seguinte, quando desci à rua para buscar algo no carro estacionado, ser ameaçado por um bolsonarista que, da sacada do prédio em frente, disse que ia me "dar um tiro porque a partir de agora não teria ninguém pra me defender", e me convidou a subir até seu apartamento "pra matar uns fetos na barriga". Fugi, enquanto ele me chamava de cagalhão. Mas nas semanas seguintes dividi em casa, e com amigos e conhecidos, a sensação de poder respirar de novo, de acordar e tentar tocar a vida num mundo em que premissas básicas de dignidade e de restauração estavam restabelecidas. Comecei a fazer planos. Comecei a pensar de novo, aos poucos, em escrever.
Porque em 2022 não escrevi nada. Publiquei O deus das avencas em junho de 2021, e é normal demorar um tempo pra encontrar as sementes da próxima ideia, os assuntos ou situações dos quais podem se ramificar um novo mundinho imaginado. Mas lá pelas tantas começou a me incomodar. Estava demorando mais que o normal. Em março, passei um mês numa residência para escritores em Montricher, na Suíça. Li em trinta dias o que não tinha lido nos últimos doze meses, rascunhei meia dúzia de ideias para um novo livro, mas voltei pra casa sem fé em nenhuma daquelas ideias. E então se abriu um vazio criativo que passei o resto do ano tentando mapear -- e sei bem do absurdo que é o conceito de mapear o vazio, mas é exatamente esse o sentimento que encontrei e que estou tentando compartilhar. É bem possível, sabendo do quão obscuras podem ser as engrenagens da imaginação, que esse período tenha fertilizado ideias que só germinarão no ano que agora inicia. Me lembro a todo momento de acreditar nisso, pois não quero nem sei fazer outra coisa.
O que aconteceu de mais concreto no ano que passou, em termos do meu trabalho como escritor, foi a celebração dos dez anos de lançamento do meu romance Barba ensopada de sangue. Em fevereiro, realizei um grupo de leitura online em que vasculhei a fundo, com os cerca de 40 participantes, o processo de criação do livro. Percorremos a obra página a página, revisitando a história, as intenções, as escolhas técnicas e temas. Compartilhei fotos, anotações e informações que nunca tinha dividido com ninguém -- e não voltarei a fazê-lo. Em dezembro, a Companhia das Letras lançou uma esplêndida edição comemorativa em capa dura, com novo projeto gráfico, apresentação da Carol Bensimon (amiga e escritora que admiro, leiam seu mais recente Diorama, um tremendo romance, e assinem sua newsletter Nevoeiro [https://carolbensimon.substack.com/]) e um posfácio instigante do crítico Julio Pimentel.
Vampirizar uma obra anterior me pareceu plenamente justificado, tendo em vista que o romance segue muito vivo na imaginação e no interesse dos leitores, mas também porque foi crucial, no ano que passou, me reencontrar com o senso de realização e potência que o livro representa pra mim como autor. Celebrar esse aniversário de Barba ensopada de sangue foi uma maneira, entre outras, de reafirmar a noção de continuidade -- como autor, nesse caso, mas dentro de um esforço geral de atentar para as continuidades que constituem a experiência vivida, como indivíduo, cidadão, parente, companheiro de quem me ama e conta comigo.
Pois nada termina, é claro. Tudo que acontece -- mesmo os términos, as repetições, os impasses, os vazios -- se inicia. Atentar para a continuidade -- dos fenômenos e eventos, mas também a continuidade entre nós mesmos e os outros, entre os outros entre si e de novo com nós mesmos -- é justamente o que é exigido de nós nesse mundo que, acredito, é feito de pura positividade. Tudo nasce a todo instante e nada não existe. As dores após o acidente, a esterilidade da imaginação, o que deixou de acontecer e o que torço para que aconteça: aguardo, expectante, por suas irradiantes e inevitáveis reverberações.
Ano passado foi estranho porque olho pra trás e não consigo lembrar muito bem do que aconteceu. Lembro da colisão melhor do que dos momentos que a sucederam, esses meses em que saí relativamente ileso, meio incrédulo, aliviado em grande medida, mas assombrado por algum ferimento invisível. Pode ser cedo demais para pensar diferente, ou tarde demais. Realmente não sei. Tive boas experiências e alegrias. Nunca perdi de vista a sorte que tenho em tantas frentes da minha vida. Gritei e cantei com amigos quando a vitória do Lula se confirmou -- para no momento seguinte, quando desci à rua para buscar algo no carro estacionado, ser ameaçado por um bolsonarista que, da sacada do prédio em frente, disse que ia me "dar um tiro porque a partir de agora não teria ninguém pra me defender", e me convidou a subir até seu apartamento "pra matar uns fetos na barriga". Fugi, enquanto ele me chamava de cagalhão. Mas nas semanas seguintes dividi em casa, e com amigos e conhecidos, a sensação de poder respirar de novo, de acordar e tentar tocar a vida num mundo em que premissas básicas de dignidade e de restauração estavam restabelecidas. Comecei a fazer planos. Comecei a pensar de novo, aos poucos, em escrever.
Porque em 2022 não escrevi nada. Publiquei O deus das avencas em junho de 2021, e é normal demorar um tempo pra encontrar as sementes da próxima ideia, os assuntos ou situações dos quais podem se ramificar um novo mundinho imaginado. Mas lá pelas tantas começou a me incomodar. Estava demorando mais que o normal. Em março, passei um mês numa residência para escritores em Montricher, na Suíça. Li em trinta dias o que não tinha lido nos últimos doze meses, rascunhei meia dúzia de ideias para um novo livro, mas voltei pra casa sem fé em nenhuma daquelas ideias. E então se abriu um vazio criativo que passei o resto do ano tentando mapear -- e sei bem do absurdo que é o conceito de mapear o vazio, mas é exatamente esse o sentimento que encontrei e que estou tentando compartilhar. É bem possível, sabendo do quão obscuras podem ser as engrenagens da imaginação, que esse período tenha fertilizado ideias que só germinarão no ano que agora inicia. Me lembro a todo momento de acreditar nisso, pois não quero nem sei fazer outra coisa.
O que aconteceu de mais concreto no ano que passou, em termos do meu trabalho como escritor, foi a celebração dos dez anos de lançamento do meu romance Barba ensopada de sangue. Em fevereiro, realizei um grupo de leitura online em que vasculhei a fundo, com os cerca de 40 participantes, o processo de criação do livro. Percorremos a obra página a página, revisitando a história, as intenções, as escolhas técnicas e temas. Compartilhei fotos, anotações e informações que nunca tinha dividido com ninguém -- e não voltarei a fazê-lo. Em dezembro, a Companhia das Letras lançou uma esplêndida edição comemorativa em capa dura, com novo projeto gráfico, apresentação da Carol Bensimon (amiga e escritora que admiro, leiam seu mais recente Diorama, um tremendo romance, e assinem sua newsletter Nevoeiro [https://carolbensimon.substack.com/]) e um posfácio instigante do crítico Julio Pimentel.
Vampirizar uma obra anterior me pareceu plenamente justificado, tendo em vista que o romance segue muito vivo na imaginação e no interesse dos leitores, mas também porque foi crucial, no ano que passou, me reencontrar com o senso de realização e potência que o livro representa pra mim como autor. Celebrar esse aniversário de Barba ensopada de sangue foi uma maneira, entre outras, de reafirmar a noção de continuidade -- como autor, nesse caso, mas dentro de um esforço geral de atentar para as continuidades que constituem a experiência vivida, como indivíduo, cidadão, parente, companheiro de quem me ama e conta comigo.
Pois nada termina, é claro. Tudo que acontece -- mesmo os términos, as repetições, os impasses, os vazios -- se inicia. Atentar para a continuidade -- dos fenômenos e eventos, mas também a continuidade entre nós mesmos e os outros, entre os outros entre si e de novo com nós mesmos -- é justamente o que é exigido de nós nesse mundo que, acredito, é feito de pura positividade. Tudo nasce a todo instante e nada não existe. As dores após o acidente, a esterilidade da imaginação, o que deixou de acontecer e o que torço para que aconteça: aguardo, expectante, por suas irradiantes e inevitáveis reverberações.
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A edição comemorativa de Barba ensopada de sangue inclui também um breve comentário escrito por mim. Para quem não vai adquirir essa edição -- ou, quem sabe, para ainda incentivar alguém a adquiri-la -- reproduzo aqui aquelas palavrinhas finais:
Em 2007, quando morava em São Paulo, após uma conversa com um primo que vive nos Estados Unidos e uma temporada de alguns dias numa praia isolada do litoral potiguar, decidi que tinha chegado o momento propício de concretizar uma fantasia que alimentava desde a juventude: viver um tempo sozinho perto da natureza, numa cidade pequena onde eu não conhecesse ninguém. Nada me prendia onde eu estava, e queria ver onde isso ia dar. Meu gosto pela natação em águas abertas me fez pensar em Garopaba, Santa Catarina, que eu conhecia como turista ocasional. Queria poder acordar certas manhãs e nadar no mar.
É claro que essa fantasia incluía escrever um livro. Quando folheio minhas anotações daquela época, verifico que meses antes de me mudar eu já tinha na cabeça alguns elementos do que viria a se tornar um romance: o protagonista que sofre de prosopagnosia, o avô assassinado no apagar das luzes de um baile comunitário, o acerto de contas verbal com uma paixão perdida.
Já em Garopaba, construí minha vivência pessoal ao mesmo tempo que construía a história. O que me interessava podia interessar ao meu personagem, e vice-versa. Emprestei a ele certas facetas da minha experiência na mesma medida em que ele me levou a certos lugares, visões, criaturas, conhecimentos e pessoas. Eu sabia que tipo de romance queria escrever e me sentia capacitado para tanto. Foram quase dois anos de pesquisa, anotações e inumeráveis horas de ruminação silenciosa até eu escrever o primeiro capítulo, que saiu praticamente pronto.
Vivi dezoito meses em Garopaba e então me mudei para Porto Alegre. Com a vida organizada na cidade de onde havia saído anos antes, comecei a escrever o manuscrito propriamente dito. Um ano e meio depois, eu tinha algo para mostrar aos editores, que até então não faziam muita ideia do que eu andava produzindo. Apesar de satisfeito com o texto, eu temia que o livro só fizesse sentido para mim mesmo. Era meu livro mais ambicioso, mas também o mais caprichoso, um aglomerado autoindulgente de registros sensoriais, conversas imaginárias, ideias que me instigavam e coisas que eu achava bonitas ou incômodas.
Mas Barba ensopada de sangue fez sentido para outras pessoas. O livro se tornou o meu grande sucesso e conquistou prêmios e edições estrangeiras. Dez anos depois, segue me recompensando, sobretudo com as leituras surpreendentes e com o carinho que continuo recebendo dos leitores. Tomei um pequeno susto quando alguém me avisou do iminente aniversário de dez anos da obra. Mudamos muito nessa década: eu, os leitores, o mundo. Muda também o livro?
As palavras seguem rigorosamente as mesmas, mas sua interação com o mundo, seus possíveis significados e efeitos, se transformam como qualquer outra coisa. Na época em que foi escrito e na qual se passa a narrativa, o iPhone era uma novidade, não tínhamos passado pelos protestos de 2013, pelo impeachment, pela eleição da extrema direita. A inocência política do romance, sua disposição em se engajar voluntariamente apenas com o plano estético, é algo que me chama a atenção hoje, sendo também, arrisco dizer, a sua deficiência virtuosa ou virtude deficiente, aquilo que pode torná-lo atraente para o leitor atual.
Não posso e tampouco desejaria fornecer aos leitores uma chave de leitura para este livro. Como leitor do meu próprio texto dez anos depois, entretanto, me salta aos olhos o quanto ele é movido por um punhado de perguntas intelectuais ou existenciais que eu me fazia constantemente na época da sua escrita. Os personagens discutem essas coisas o tempo todo.
De um lado há a convicção, mais racional do que instintiva, de que o mundo é regido por uma causalidade determinista em que tudo está interligado e é inevitável; do outro existe a crença, mais instintiva do que racional, de que mesmo assim somos radicalmente responsáveis pelo que fazemos, que as escolhas importam. Meu personagem se debate com esse paradoxo, lhe faltam palavras na maior parte do tempo, seja dialogando com os amigos budistas, trovando com os pescadores ou discutindo com a ex-namorada, mas perto do fim consegue afirmar: não temos livre-arbítrio, mas é essencial viver como se tivéssemos. Por quê? O que isso pode significar?
Talvez uma resposta definitiva seja impossível, mas espero que o livro sempre possa carregar essa pergunta de uma maneira envolvente e intrigante. Minha temporada em Garopaba me forneceu uma resposta que eu procurava: sim, sou capaz de viver sozinho, de ser solitário. Sou - ou pelo menos fui - páreo para os meus fantasmas. E assim me fortaleço na direção oposta: na minha necessidade dos outros, no convívio e amor da família, dos amigos, dos leitores. Nas escolhas que levam ao encontro deles.
Na apreciação serena da causalidade inexorável por trás de cada fenômeno do mundo, encontramos o conhecimento valioso de sabermos nos portar melhor - com menos sofrimento, com mais solidariedade - diante do inevitável e das escolhas aparentes. Liberdade é esse conhecimento. O mundo assim entendido muitas vezes parecerá estranho e misterioso - nem divindades nem leis da física o elucidam. Nas águas previsíveis do hábito, ondulam perturbações: sonhos revelam tesouros enterrados, homens se recusam a morrer, matilhas de cães enormes cruzam a noite levantando o véu dos sentidos. É mais ou menos o que eu queria mostrar.
Setembro de 2022
*
A edição anterior dessa newsletter -- contendo um excerto da novela Bugônia, que seria incluída em O deus das avencas -- foi enviada em maio de 2021. Entre as metas para 2023 que provavelmente não cumprirei -- terminar de ler a Ética; acordar às 5h pra escrever; escrever -- está também a de tentar retomar essas missivas, após quase dois anos de hibernação. As coisas têm seu tempo, essa newsletter tem entre seus objetivos ser um contraponto à velocidade nociva dos meios digitais et cetera, mas tudo tem limite, eu sei. Não posso garantir que esta edição é um reinício, talvez seja um soluço. Mas a palavra-chave hoje é continuidade, e prometo tentar. Tomara que seja um boa surpresa pra maioria de vocês.
A tradicional seção de links -- sem descrição nem contexto -- segue abaixo.
Obrigado a quem leu, hoje e sempre.
Que seja um ano com mais lucidez e serenidade para todos nós. -- DG
*
Seção de links
- https://56k-modem.online/post/171743979695
- https://criticalposthumanism.net/
- https://www.nature.com/articles/s41599-020-0494-4
- https://www.nature.com/immersive/d41586-022-03810-5/index.html
- https://twitter.com/cesarfavacho/status/1213506833761128449?s=21
- https://whyevolutionistrue.com/2013/01/16/endless-flies-most-beautiful/
- https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/margaret-cavendish/
- https://espeluznante.substack.com/p/continente-de-espectros-politica
- https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/vida-sustentavel-e-vaidade-pessoal-diz-ailton-krenak/
- https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2022/11/01/%E2%80%98Precisamos-de-um-projeto-de-futuro-que-encante-as-pessoas%E2%80%99
- https://www.youtube.com/watch?v=rqBFIzBrQ0c
- https://poncle.itch.io/vampire-survivors
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ⓒ Daniel Galera
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