dentesguardados #1 Obsolescência
Obsolescência
Me parece apropriado começar escrevendo sobre não conseguir escrever. Afinal, faz três anos que não consigo escrever, e a ideia de inaugurar essa newsletter tem entre seus objetivos seguir escrevendo em um momento no qual me parece impossível escrever e, quem sabe, se tudo correr como esperado, tornar a escrita possível de novo.
Pra pensar sobre por que a escrita se tornou impossível, preciso considerar que ela já parecia impossível nos anos de 2014 a 2016, quando escrevi Meia-noite e vinte. Uma forma de entender esse romance é tratá-lo como uma exploração do que ainda era possível escrever numa época em que eu já suspeitava que a escrita havia se tornado, ou pelo menos se tornaria muito em breve, impossível. A sensação ou intuição dessa impossibilidade veio antes da racionalização a seu respeito, e por muito tempo a impossibilidade tinha antes o caráter de uma grande dificuldade.
Escrever não é fácil, mas também não é difícil, ou pelo menos nunca pareceu difícil para mim. As dificuldades inerentes ao processo -- processamento introspectivo constante da imaginação, o confronto autoterapêutico das próprias angústias, a fé em que alguma verdade ou significado haverá de brotar da bagunça incoerente, a vontade de imitar escritores melhores sem fazer papel de palhaço e acrescentando algo particular ao que foi dado por eles, esforços de pesquisa, o trabalho alternadamente fluido e truncado no texto propriamente dito, a necessidade de refazer trechos, capítulos ou mesmo aspectos de um romance inteiro -- costumavam representar pra mim elementos transitoriamente penosos de uma atividade essencialmente prazerosa. Sempre se sobressaía algo agradável na maneira como essas dificuldades se conectavam, no movimento de atacá-las uma a uma.
Na escrita do meu último romance, já não foi assim. Eu tinha ideias em profusão, mas era como se entre o instante de pensá-las e o instante de escrevê-las, não importava se o intervalo era de meses, dias ou horas, elas já tivessem datado ou se tornado outra coisa. E se isso não ocorria, havia a sensação da existência de uma sobrecarga de informação a respeito de cada detalhe do que eu pretendia narrar. Pior ainda: quando era o caso de narrar memórias ou fatos históricos, como uma lembrança sobre os anos 1990 ou a chegada de imigrantes judeus no sul do Brasil, era como se os fatos quisessem se desgarrar de qualquer contexto anterior ou atual, quisessem ser narrados com pressa, desligados de significados e inter-conexões. O projeto do livro era constantemente invadido pelo noticiário político do Brasil e pelos problemas cotidianos de Porto Alegre, pelo aquecimento global, por cenários apocalípticos. A ficção quase desapareceu das minhas leituras naquele período. Ocuparam o lugar dela os artigos que se empilhavam às dezenas na minha timeline do Twitter, livros sobre superpopulação, autores antinatalistas e aceleracionistas.
Todo mundo sabe do que estou falando aqui. De com as redes sociais em específico e a internet como um todo afetaram o exercício da nossa atenção, dos impactos da globalização e da tecnologia em nossa vida material e em nossa sensibilidade. Da suspeita ora diluída e quase duvidosa, ora gritante, de que qualquer manifestação de estabilidade, da mais íntima à mais universal, se tornou insustentável. Há quem discorde de tudo isso, mas mesmo estes saberão do que estou falando. Escrever Meia-noite e vinte foi um pouco como agarrar o que ainda era possível na casa em chamas. A casa em chamas, no caso, era a capacidade de narrar a experiência do presente por meio de ficção literária de recorte realista. O que eu vinha tentando fazer há vinte anos.
O livro saiu, e vai bem. A meu ver, seus defeitos e limitações reproduzem as circunstâncias em que foi produzido e dialogam, numa inversão irônica e fortuita, com as ideias que pretende elaborar. De todo modo, bastou publicá-lo pra que eu pudesse efetuar a racionalização da dificuldade de escrevê-lo. E, é claro, as convulsões que eram pano de fundo do romance se desdobraram e intensificaram, culminando no neofascismo ignorante e suicida que agora nos governa. De lá pra cá, as questões do que escrever, de como e por que escrever, mais me confundem e paralisam do que fornecem alguma saída para a continuidade da ficção como minha alternativa de expressão e de trabalho.
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Sou pai de uma menina desde outubro de 2017. Até o momento, não tive vontade de escrever sobre a paternidade, embora seja assunto fecundo, tanto do ponto de vista tradicional quanto das recentes transformações sociais. Não sei se estou pronto, e se algum dia estarei, pra abordar na ficção os aspectos mais perturbadores do assunto, que seria, pra mim, o único enfoque estimulante.
A ameaça que os filhos podem representar para a atividade criativa é tema cada vez mais comum na literatura. Para a tradição romântica e predominante de autores homens, integrantes de sociedades patriarcais e devotos da noção de gênio criativo, a questão dos filhos era quase uma não questão (à parte casos como o de J. G. Ballard, que exulta de alegria ao descrever, em sua autobiografia, o ânimo produtivo que sustentou enquanto criava sozinho os três filhos, após a morte prematura da mãe): os filhos são criados pelas mães ou outras mulheres, e se trancar no escritório ou abandonar a família pra seguir escrevendo não era nenhum grande sacrifício ou tema de reprovação social relevante. Pelo contrário, era heróico.
As coisas mudaram bastante. Em autores contemporâneos celebrados como Elena Ferrante e Karl Ove Knausgaard, encontramos retratos (auto)críticos de homens lidando com a necessidade de manter uma produção intelectual depois da paternidade. No caso da tetralogia napolitana de Ferrante, temos a assimetria do impacto da chegada dos filhos na atividade de Lenu e Pietro; basicamente, ele se tranca no escritório pra trabalhar e pronto, enquanto ela precisa, de um jeito ou de outro, dar conta das crianças pequenas; mais tarde, quando toma atitudes no sentido de priorizar a própria carreira no lugar dos filhos, fica à mercê de censuras e crises pessoais. Já em Karl Ove, sobretudo no segundo volume de Minha Luta, temos uma investigação autobiográfica que explora aspectos da emasculação e do desejo na vida paterna, ao mesmo tempo em que narra as medidas de isolamento e disciplina que decide tomar pra seguir escrevendo, custe o que custar.
É interessante também notar como existe uma nova onda de livros de não ficção sobre a maternidade escritos por mulheres que, por um caminho ou outro, decidiram não ter (ou não puderam ter) filhos. Exemplos são Contra os filhos, de Lina Meruane (li) e o aclamado Motherhood, de Sheila Heti (não li). No livro de Meruane, as questões centrais são a condenação histórica da mulher ao papel de mãe, a destruição que os filhos provocam na atividade criativa e a tirania contemporânea exercida pela prole, que exige cuidados e investimentos cada vez mais abrangentes e prioritários, ameaçando conquistas da emancipação feminina. Meruane faz menções apenas protocolares à existência de pais participativos, como se quisesse fazer o favor de registrar um fenômeno sem desviar o foco do assunto principal. Já no domínio da ficção, o potente romance Dept. of Speculation, de Jenny Offill (citada por Meruane) oferece uma visão implacável da experiência da maternidade e os danos que causa à vida de uma escritora.
Os filhos são tema constante da ficção literária realista, mas somente agora, que me tornei pai, comecei a perceber como as nuances devastadoras (pensei muito bem nesse "nuances devastadoras") dessa experiência raramente são desenvolvidas a contento. Mesmo escritores tidos como cruéis, francos e implacáveis costumam manter distância desse terreno, quando muito colocando os filhos como motor de sofrimentos derivados e catástrofes pessoais, mas raramente observando as minúcias -- as minúcias minuciosas, com o microscópio que o estilo realista dedica, por exemplo, aos relacionamentos amorosos, à amizade, ao erotismo, à morte, às roupas, à televisão, aos mastros de navios, à louça na pia et cetera) das dificuldades envolvidas. É seguro supor que, até há pouco tempo, os homens em geral simplesmente desconheciam tais dificuldades, tampouco tinham interesse em conhecê-las; as mulheres as conheciam muito bem, mas não lhes cabia entrar em detalhes. O romance de Jenny Offill é um lindo contra-exemplo. (E não me entendam mal, não quero pintar a paternidade ou a maternidade como catástrofes a serem evitadas. É só que, historicamente, há coisas que faltam no tratamento narrativo do tema. O quadro é incompleto. Os encantos, alegrias e recompensas existenciais dos filhos estão bem representados em toda parte, da literatura aos anúncios de supermercado, e não há por que falar deles no momento.)
Entre os pais escritores contemporâneos, cito dois casos: um deles é Pedro Mairal com seu A uruguaia, já célebre entre meus amigos pais-escritores por descrever o filho pequeno como um "anão bêbado". Mairal aborda de frente as agruras da conciliação de paternidade e vida criativa, principalmente no primeiro terço do romance. A devastação financeira e rotineira causada pelo filho do casal detona uma crise matrimonial seguida de jornada de liberdade individual do protagonista (adultério, naturalmente). O esquema é clássico. Mas a história é realmente divertida e a voz de Mairal é mais franca que a média, o leitor tem a sensação de que algo precioso lhe está sendo confiado pela narrativa, que tem um tom entre o amargo e o bem-humorado.
O outro caso é o de Michael Chabon, que publicou alguns artigos sobre filhos que viralizaram na internet. Um deles é intitulado "Os filhos são inimigos da escrita?". Fui ler esse artigo cheio de expectativa, esperando encontrar nele, por exemplo, alguma ressonância para o meu desespero em relação ao novo regime de tempo da paternidade, à exaustão que atingia níveis de tortura e à dificuldade de sustentar qualquer exercício de imaginação pelo tempo necessário para conceber histórias. Mas o texto de Chabon é mais anedótico. Ele dedica muitos parágrafos a descrever uma conversa que teve com um autor consagrado e não nomeado, que lhe advertiu contra ter filhos com base no argumento de que cada pirralho equivale a um romance não escrito. Chabon se contenta em revelar que, mesmo sendo pai de quatro crianças, escreveu e publicou catorze romances, e que não sente falta daqueles quatro que supostamente poderia ter escrito mas perdeu, pois a posteridade prometida pela literatura é incerta, enquanto a riqueza e a intensidade da relação com os filhos é real e imediata. Há uma frase boa: "Meus livros, ao contrário dos meus filhos, não me amam de volta." O que está ausente no artigo de Chabon é qualquer menção ao que representou, na prática, cuidar e criar dessas quatro crianças, e que tipo de arranjo ou circunstância familiar, material e financeira permitiu que ele seguisse trabalhando em seus romances por décadas. A escolha ou necessidade de Chabon não foi a de abandonar ou não a escrita em favor dos filhos, não se tratou de simplesmente não conseguir mais escrever por causa deles ou de ser forçado a buscar outro trabalho com mais segurança e remuneração. Pelo texto, fica a impressão de que o amigão sempre esteve em situação relativamente confortável. Está dado, no argumento de Chabon, que o escritor segue tendo inspiração e condições materiais de elaborá-las no tempo que resta, e que o fruto desse trabalho, subtraído de um ou dois romances em potencial, se traduzirá em alguma medida de sucesso e remuneração. Enfim, o negócio todo é meio Pollyana. Mas fiquei feliz por ele.
Encerro essa incursão algo digressiva no tema dos filhos informando que concluí, há muito tempo, que minha incapacidade de escrever não está diretamente ligada à paternidade, embora a falta de tempo não ajude. Começou bem antes do nascimento da minha filha, e duvido bastante que a escrita teria se tornado possível de novo nesse meio tempo caso ela não tivesse nascido. Posso apenas especular, mas o faço baseado em fartos indícios. A questão essencial é outra.
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Em agosto de 2017, o teórico australiano McKenzie Wark (autor, entre outros, de Gamer Theory, um dos meus livros favoritos sobre videogames, além de livros como The Hacker Manifesto e Molecular Red), publicou no site da editora Verso Books um texto chamado "Sobre a obsolescência do romance burguês no Antropoceno". O texto é um comentário sobre uma coletânea de ensaios do escritor indiano Amitav Ghosh, intitulada The Great Derangement: Climate Change and the Unthinkable. Não li o livro de Ghosh, mas a análise de Wark é um texto fascinante em si. Wark, um teórico marxista, elabora, a partir de Ghosh, o argumento de que o romance burguês (podemos chamá-lo também de romance literário realista), com seu recorte que enfatiza o sujeito psicologicamente bem construído, os detalhes da vida cotidiana e a ordenação da natureza, não é um gênero apto a descrever os tempos atuais, marcados por fenômenos como o aquecimento global.
O romance burguês/realista/moderno (não estamos falando de Ulysses ou do cut-up de Burroughs, e sim das formas mais convencionais e predominantes, que fique claro) é adequado a um fluxo de tempo constante, previsível, que segue na direção de um progresso e esclarecimento cada vez maiores. Não há espaço para incoerência, mistérios, para uma acomodação estrutural do imprevisível. Diante de fenômenos complexos e desestabilizadores como o aquecimento global, a internet e a energia nuclear (fenômenos que o filósofo Timothy Morton chama de "hiper-objetos" em seu instigante livro Hyperobjects: Philosophy and Ecology After the End of The World), que nos forçam a lidar com noções de tempo e espaço muito mais imprevisíveis, as estratégias de representação do real no romance realista deixam de funcionar. Wark cita Ghosh: "Eis, portanto, a ironia do "romance realista": os gestos de que se vale para construir a realidade acabam, na verdade, escondendo a realidade." Em outras palavras, o romance realista já não dá conta. Hoje ele precisa sobretudo maquiar o fato de que sua estratégia de representação do real se tornou anacrônica. Reformulando Ghosh, Wark escreve: "O romance burguês é um gênero de fantasia ficcional que foi recheado de detalhes naturalistas -- enchimento -- para que pareça outra coisa". Wark apela para um retorno do fantástico, do estranho e do misterioso às narrativas. Declara que a chamada ficção de gênero -- ficção científica, horror, fantasia, gótico, melodrama -- tem mais recursos para descrever o mundo atual do que o romance realista. A ficção científica, em especial, tem a vantagem de poder criar um outro mundo completamente diferente para descrever indiretamente o nosso mundo. O artigo vai além, e quem se interessar pode ler o texto completo.
A leitura desse artigo, um ano e meio atrás, me fez pensar melhor sobre as dificuldades que tive pra escrever Meia-noite e vinte, e acho que ele fornece uma chave para investigar também isso que estou chamando de minha impossibilidade de escrever. Toda minha escrita até hoje foi, grosso modo, realista no sentido descrito e criticado por Ghosh e Wark, e eu já intuía, antes de ler o artigo, um certo esgotamento desse estilo. Muitas vezes tenho a impressão de que nada pode descrever melhor a vida formatada pela globalização e pela internet do que as próprias redes sociais. Não há como escrever sobre aquilo. Imaginar um romance realista sobre um homem de 30 anos engolfado por memes e regido pelos algoritmos de seu smartphone parece uma ótima ideia, até que nos deparamos com a insuficiência ou mesmo redundância do esforço, pois todo leitor sabe, está em contato com isso neste exato momento, no Whatsapp.
Outros autores a meu redor estão se dedicando a escrever poesia, ficção científica, narrativas experimentais em que a linguagem busca dar conta da experiência da realidade no presente. Ainda outros estão apresentando vozes e experiências até há pouco invisíveis ou mal representadas na literatura, em geral baseados em suas próprias vivências. Minha vivência não carrega essa relevância. Não me creio capaz de escrever poesia, e acho improvável que eu consiga escrever ficção científica, horror ou experimentos de linguagem radicais. Sou capaz de imaginá-los, mas não de escrevê-los. Nem todo autor tem ferramentas versáteis. Ao contrário, a maior parte deles está condenado ao próprio estilo, talvez com uma pequena margem de manobra. A impossibilidade da escrita tem a ver, portanto, com essa sensação de impotência diante do desafio de modificar ou abandonar um estilo e um enfoque que vim desenvolvendo por vinte anos. Existe um olhar dentro da ficção realista que me permitirá seguir escrevendo com motivação? Serei capaz de migrar para outro tipo de olhar, outro tipo de estilo? É possível, mas não há garantias. Talvez o melhor fosse esquecer tudo isso e escrever o que consigo, sem nenhuma ambição ou rigor. O impasse segue.
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Esses dias, li o feroz editorial da revista n+1, The best of a bad situation, a respeito da atual enrascada da civilização. Superpopulação, esgotamento de recursos e aquecimento global são fatos. O editorial apresenta claramente as duas alternativas que temos, enquanto indivíduos e coletividade, diante desses fatos e suas consequências previstas ou já em curso. Ou fazemos um esforço conjunto, enquanto civilização, ao estilo Projeto Manhattan, de investir massivamente no desenvolvimento e implementação de energias limpas, com simultâneo abandono de energias baseadas em carbono, para minimizar o estrago já causado e tentar enfrentar as décadas que nos aguardam com preocupações legitimamente humanitárias, ou deixamos que a carruagem siga no caminho atual até que bilhões de pessoas morram e o problema se resolva sozinho, por assim dizer. A segunda alternativa pode ser colocada de outro modo: trata-se de buscar maneiras de garantir a própria sobrevivência, a do indivíduo e sua família, num quadro de luta global por sobrevivência darwinista como a humanidade mal pode imaginar ocorrendo consigo mesma.
Estou mencionando esse texto agora porque penso muito nessas coisas. Parece que esse tipo de raciocínio penetrou em todas as frestas do meu cotidiano. É difícil operar o meu iPhone sem dedicar alguma fração do meu processamento mental ao custo energético, material e humano de possuir e usar diariamente um desses dispositivos. (Se querem entrar nesse vórtice, e não sei mesmo se recomendo isso, leiam esse estudo sobre os custos e cadeia de produção do Echo, caixa de som "inteligente" da Amazon, é uma das coisas mais fascinantes que li ultimamente; podem ler também o livro New Dark Age, the James Bridle, no qual aprendi, entre outras coisas, que os servidores que processam a criptomoeda bitcoin estão prestes a ultrapassar o consumo de energia dos Estados Unidos inteiros). Isso é uma maluquice cognitiva, viver dessa maneira, mas ao mesmo tempo não é maluquice, são fatos que se pode conhecer, e uma vez que os conhecemos, podemos ignorá-los estrategicamente ou tentar agir pra melhorar as coisas. Estamos falando de um futuro próximo, que viveremos pra ver, mas cuja realidade afetará pra valer mesmo nossos filhos e netos. O cinismo calculado e a ignorância pura e simples, que ganham feições monstruosas na extrema direita eleita de Trumps e Bolsonaros, talvez sejam igualmente abomináveis. Mas quão moralmente superior é o esclarecimento passivo em que eu e minha geração vivemos? Quero acreditar que é pelo menos um pouquinho superior. Mas a que resultados leva? Terão os vitoriosos remanescentes do massacre populacional daqui a décadas ou séculos -- talvez uma curiosa combinação de super-ricos flutuando em colônias espaciais e brutos armados em bunkers e regidos por uma seleção idiossincrática, pouquíssimo cristã, dos valores judaico-cristãos -- o direito de rir da nossa cara? Rir de ideias como dar bolsas de estudo e métodos contraceptivos para mulheres carentes, mudar legislações sobre matrizes energéticas e preservação de ecossistemas? A ficção literária realista pode me ajudar a pensar nisso agora?
Enquanto a escrita permanecer impossível, vou seguir tentando escrever qualquer coisa pra sentir que ainda posso, crendo também que a teimosia em plena impossibilidade pode ser o caminho para novas possibilidades. Não sei qual será a frequência desses e-mails e muito menos o tipo de conteúdo que se poderá esperar deles. Vou descobrir junto com os leitores que decidirem ir ficando. Esperem alguns textos mal-acabados, alguns equívocos. Talvez eu possa responder perguntas. Obrigado de coração a todo mundo que assinou.
DG
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