Se um asteroide de um quilômetro de extensão se aproximasse da Terra em rota de colisão em qualquer outro momento da história da humanidade, ele teria matado quase todos os humanos. No entanto, vivemos numa era de segurança sem precedentes, em que podemos nos defender de um evento tão catastrófico que acontece a cada 250 mil anos.
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Relaxa, agora voltamos a falar de tipos. Foi com um parágrafo assim, composto em fontes diferentes para cada novo leitor, que Errol Morris conduziu um teste na versão online do New York Times. A ideia dele não era ver o quanto as pessoas conheciam de astrofísica, mas sim de avaliar qual fonte desperta maior credibilidade entre as pessoas. Resultado: Baskerville.
Ignoremos fatores óbvios que causariam um resultado diferente, pois não é disso que quero falar agora. Tipografia, como manifestação cultural, também é carregada de significados dos nossos costumes e valores que conferimos a tudo que construímos. Além de traços mais retos ou curvos, métricas mais ou menos acentuadas, dentre outros aspectos formais, as letras ganham personalidade — alegres, sóbrias, sisudas, imponentes, amigáveis, críveis, e até corajosas. ;)
Um exercício comum para enxergar essa personalidade é o de comparar fontes com alguma outra coisa com a qual a gente tenha mais familiaridade. Funciona bem para treinar o olhar, perceber funções estéticas e simbólicas de cada família tipográfica e, segundo Carson, distinguir a mera legibilidade de comunicação. Spiekermann, no “A Linguagem Invisível da Tipografia”, introduz esse pensamento analógico com o exercício de relacionar fontes a sapatos.
Parece bobo, mas esse é um ponto em que tipografia e marketing se encontram. Para o branding, o conjunto de fontes que uma marca utiliza para comunicar-se em seus pontos de contato precisa ser alinhado com seus valores. Quando a marca possui logotipo, a atenção tem que ser ainda maior, para que as letras sejam capazes de contar, em seus contornos, a história de uma marca e tudo que ela acredita.
Finalizando com um lado lúdico: o estúdio Grafisches Büro produziu uma série de pôsteres comparando fontes com raças caninas; Boris Müller, por sua vez, fez algo semelhante, comparando fontes com atores famosos. São coisas pequenas, mas que reforçam a questão da personalidade das letras ao desenhá-las e entendê-las.
E um beijo no coração de quem entendeu o trocadilho.
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Escrito em 96824.53