Se você fosse uma mulher desempregada em Londres, 1860, e tivesse algum apego às artes gráficas, haveria um lugar pronto para você na 9 Great Coram St. Bastava dedicar-se ao ofício e prestar atenção nas lições de tipografia da impressora Emily Faithfull.
Naquele ano, Emily adquiriu o espaço que abrigaria sua futura gráfica, conseguiu algumas máquinas e gavetas de tipos móveis, e posteriormente treinou outras 16 compositoras responsáveis pelos trabalhos da Victoria Press. Dentre vários trabalhos, a gráfica produziu algumas das maiores publicações voltadas para o ativismo de direitos das mulheres: English Woman’s Journal (1858–1864) e Victoria Magazine (1863–1881). A despeito da forte oposição da London Typographical Society, predominantemente masculina, Emily e a Victoria Press lograram prestígio e reconhecimento da Rainha Vitória.
Emily, além de ativista pelos direitos das mulheres, também foi inovadora nos direitos de trabalho de seus funcionários. Ao perceber que outros impressores morriam em média aos 48 anos por problemas respiratórios, ela providenciou instalações ventiladas e iluminadas apropriadamente, além de outras melhorias nas condições de trabalho.
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No outro lado do Canal da Mancha, em 1896, Marguerite Durant foi a jornalista designada pelo jornal Le Figaro para cobrir o Congresso Feminista Internacional. A expectativa é que ela escrevesse um artigo humorístico; o resultado é que ela abraçou as causas do congresso, largou seu emprego e, em 1897, fundou o primeiro diário feminista da história: o La Fronde.
(Para a sorte dos editores do Le Figaro na época, Durand só teve sua leoa de estimação em 1910. Sim, ela tinha uma leoa.)
Também operado apenas por mulheres, da redação à composição, o La Fronde produziu periódicos diários de 1897 a 1903, quando produziu a tiragem recorde de 200 mil cópias. No entanto, por problemas financeiros, o jornal passou a ter periodicidade mensal até 1905, quando deixou de ser publicado. Durand reviveu o La Fronde anos depois, com uma redação mista, mas as novas edições também tiveram uma vida curta.
Assim como as publicações de Emily, o La Fronde de Durand tem um papel fundamental para os movimentos feministas, que proporcionaram às mulheres a conquista de vários direitos com o passar dos anos, mas ainda tem muito a conquistar. Também legado de Durand, a Bibliothèque Marguerite Durand, na 79 rue Nationale, reúne atualmente um acervo de 45 mil volumes sobre o feminismo e a presença das mulheres na sociedade francesa.
Recomendações:
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- 🎥 Vídeo: A Letra Dela Live #2 – Ensino de Caligrafia e Lettering, com Lygia Pires e Aline Kaori conversando com Andréa Branco e Juliana Moore sobre o ensino do ofício caligráfico no Brasil.
- 🔗 Link: Alphabettes, uma coletivo internacional de tipógrafas destinado a promover pesquisas, trabalhos e projetos de mulheres type designers e pesquisadoras.
- 🇧🇷 Fonte brazuca: várias fontes de type designers brasileiras que você tem que conhecer. ;)
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