Tipo Aquilo #15 – @fabribeiro reage a tweets sobre o DiaTipo
A promoção da tipografia no Brasil sempre esteve em boas mãos; particularmente, acho difícil um aluno percorrer todo o curso de design gráfico ou publicidade sem ouvir falar do Tipocracia, do Henrique Nardi, e do maior evento anual de tipografia do Brasil, o DiaTipo. Realizado em todo fim de ano em São Paulo, e ao longo do ano em cidades de todas as regiões, o DiaTipo é o evento que celebra o ensino e produção tipográfica no Brasil, reúne velhos amigos e coloca todo mundo a par do que acontece de melhor na área.

Muita gente importante da tipografia brasileira já organizou do DiaTipo. Desde 2014, a Fabricia Ribeiro é uma das organizadoras do evento, além de membro do Conselho DiaTipo e dona da risada mais famosa da tipografia brasileira. Devido à espontaneidade dela e o tempo em que está nessa história (5 edições! =O), achei que o melhor jeito de fazê-la falar sobre o DiaTipo é… reagindo a tweets sobre o DiaTipo. =D
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“vamo naquele evento de design lá diatipo”
Fabricia: Bom, no press release do DiaTipo nós o citamos como um dos mais importantes eventos de design do país, então não tá 100% errado. Obviamente, o foco é tipografia, mas sempre acaba raspando no design.
Cadu: Estamos falando também de um evento internacional, certo?
Fabricia: Sim! Recebemos palestrantes e inscritos internacionais! Já trouxemos palestrantes da América Latina, EUA e Europa (pretendemos expandir mais!). Há uma certa “expectativa” sobre “qual estrangeiro o DTSP” vai trazer e tentamos corresponder a isso. Sabemos o quão complicado e oneroso isso pode ser, mas em 11 anos tentamos sempre fazer o possível sobre isso. Acreditamos que o ideal seria todo ano trazer também alguém da América Latina para contribuir com o ambiente que nos cerca, estreitar laços com os nossos vizinhos. Em contrapartida, o DiaTipo no Brasil acaba sendo mais acessível aos nossos amigos latinos que uma ATypI: trazendo algum desses estrangeiros americanos ou europeus, as pessoas têm uma chance maior de ver uma dessas atrações sem desembolsar grandes fortunas.
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“já tô vendo que vou gastar todo o meu dinheiro no DiaTipo SP mas aaaaaa quero tanto”
Fabricia: HAHAHAHAHAHAHAHAH por favor, gaste seu dinheiro conosco! A repercussão e o carinho que as pessoas têm com o evento é contagiante. O pessoal adora falar sobre o efeito “até amanhã” que rolou no TPC 10: as pessoas se encontravam, viam palestras incríveis, conheciam outras pessoas também incríveis e no dia seguinte tudo acontecia de novo. Se despediam com o “até amanhã” e a alegria de poder viver tudo aquilo de novo no dia seguinte. Aí o DiaTipo implementou 2 dias de evento, pra manter vivo o efeito, e deu certo. Sobre o preço, comparando com diversos eventos de design, considerando que São Paulo é uma cidade bem cara, que trazemos palestrantes de lugares longínquos e passagens de avião pesadas… O DTSP é até bem acessível. Sei que qualquer coisa mais cara que 100 reais é cara pra quem tá estudando, e desde o ano passado temos os Painéis de Discussão: uma versão mais intimista do evento, e bem mais barata, com valor quase simbólico de entrada.
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Fabricia: Essa é uma das ideias primordiais do DT: apresentar o trabalho de profissionais que movimentam a cena tipográfica brasileira, trabalhando e inspirando as pessoas. E ainda tem a chance de conversar pessoalmente com essas pessoas. Desde que eu comecei a ir no DiaTipo, eu tenho tido contato com os meus “ídolos”. Alguns até viraram amigos! Isso é foda demais. O evento une pessoas apaixonadas por tipografia e caligrafia, e também une apenas curiosos.
Cadu: Sim, conheci muita gente foda lá também. É um sentimento estranho de que essas pessoas que a gente admira estão lá pra ensinar e pra aprender também.
Fabricia: Rola um clima de desmistificação também (no bom sentido). De repente você olha pr’aquele fulano foda pra caraio e descobre que ele é gente como a gente, só que com muito estudo, prática e afinco. É inspirador, gera uma referência aspiracional, você sente que também pode chegar lá se trabalhar muito.
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Fabricia: Que profundo! É muito legal para o DT ter essa fidelidade do público, de ser um evento “obrigatório” no ano. Como diria o Haroldinho, “é a festa da firma que a gente escolhe ir”. Acho que isso sintetiza bem: reencontrar amigos, aprender algo, vivenciar algo que agrega profissionalmente, mas também se divertir. Quando se deixa de ir, você perde uma oportunidade de ver alguém que você admira, de conhecer pessoas, de ter um dia no ano focado num assunto que já foi mais difícil de encontrar material dedicado. Para mim, pessoalmente, tem um plus a mais: eu não falo inglês fluentemente. O DTSP é a única oportunidade que tenho de ver pessoas de fora com palestras traduzidas e poder aproveitar 99% do conteúdo passado. É mais inclusivo pra mim e várias pessoas que ainda não conseguiram se aprofundar em outra língua.
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“@mizanzuk Depois de eu fazer um diatipo todo com comic sans, ta apoiadíssimo seu aluno.“
Fabricia: Isso me lembra duas citações: 1) Para quebrar as regras, é preciso conhecê-las bem; 2) Se você odeia a Comic Sans, não entende de tipografia. Mas se você ama a Comic Sans, também não entende tanto assim (Vincent Connare). Usaram até de olho na entrevista dele pra Folha no ano em que veio palestrar no DTSP (2013).
Cadu: Eu adorei a resposta, mas esse eu deixei na minha anotação “é só pra ver a reação da Fabricia mesmo”.
Fabricia: HUAHAUAHAUAHAUHAUAHAUAHAUAHAUAHAUHAUAHA Eu levo o DiaTipo muito a sério.
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“depois de um dia todo de #diatipo estou mais do que nunca inspirado a fazer minha fonte”
Fabricia: O DiaTipo cumpriu sua missão: informar, educar, inspirar, fazer algo pela comunidade. Esse tipo de mensagem também incentiva os organizadores a continuar com esse trabalho, voluntário, pro-bono, sem lucro pessoal financeiro. O DTSP é feito por pessoas para outras pessoas, mas também é feito dessas histórias.
Cadu: E tem mais alguma coisa que você considera importante a gente falar? Fala mais da Fabricia Ribeiro também.
Fabricia: DiaTipo é muito difícil, mas também é muito bom. Trabalhar de forma voluntária em algo tão grande gera várias perdas na minha vida pessoal, e ainda não me trouxe um baita retorno profissional. Mas tem as coisas maravilhosas: eu conheci muitas pessoas desde que comecei a organizar o evento, consegui algumas amizades, pessoas incríveis como DJR e Fiona Ross sabem que eu existo. É um sentimento gratificante; mais gratificante ainda é ver mais de 200 pessoas felizes e curtindo uma parada que eu organizei o ano todo. Algumas pessoas escrevem seus nomes em muros para não serem esquecidas. Eu organizo um evento de design que mexe com paixões. Um dos meus maiores orgulhos na vida foi, uma dia, convidado o Fabio Haag para palestrar num DTSP. Um dia, alguém lá em Manaus assistiu o vídeo dessa palestra, se apaixonou por tipografia, elegeu o Haag como seu novo ídolo e decidiu fazer o DT Manaus. Qual a chance de eu, indiretamente, tocar a vida de outra pessoa do outro lado de um país com dimensões continentais como o Brasil? Isso é foda demais. Isso não tem preço, e eu me realizo um pouco nos trabalhos dos outros também. É isso.

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Recomendações:
- 🎧 Podcast: Visual+Mente #108, com o Conselho DiaTipo falando sobre a história do DiaTipo.
- 🎥 Vídeo: Canal do DiaTipo: não apenas um vídeo, mas um canal com quase TODAS as palestras já transmitidas pelo evento, atualizado de acordo com a disponibilidade dos organizadores.
- 🔗 Link: Instagram do DiaTipo SP, um dos canais de comunicação do evento, atualizado com mais frequência: fiquem de olho nas novidades por lá.
- 🇧🇷 Fonte brazuca (escolhida pela Fabricia): Foco, de Fábio Haag.
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Agradecimentos:
Nada mais justo do que terminar essa edição com um grande agradecimento à Fabricia, pelo tempo e dedicação que dispôs, por ter topado essa ideia maluca, pela escolha das fotos no Flickr oficial do evento e pela contribuição de vários anos à tipografia brasileira. =D
Escrito em 97273.96