Começando com uma errata: eu tinha outro texto para a quinzena passada, mas não consegui fechar a ideia que eu comecei. Escrevi a edição passada com um tema surgido de repente e esqueci de refazer a numeração. Qualquer coisa, esta sim é a 12ª edição. :D
Inclusive, correria com prazos foi um de vários motivos que me fizeram ter medo de publicidade por trabalhar num lugar em que todo mundo está voando pra lá e pra cá com prazos apertados. Depois, a gente descobre que isso não é só em publicidade, mas isso é discussão pra outra hora. Por ora, o tema desta edição é celebrar campanhas que renderam fontes para anunciar empresas e produtos, sem se preocupar (tanto) com aspectos técnicos e formais da fonte em si. ;)
Começando pelo caso mais recente, da Soffa Sans, lançada pela Ikea junto com a Proximity London pegando carona no meme do seu aplicativo planejador de sofás. Como eu disse, esqueça por um momento tudo que você sabe sobre legibilidade e composição, e concentre-se apenas na Ikea rindo de si mesma enquanto diz “sim, nossa linha de sofás é tão modular assim”.
Quando a ideia é vender um carro facilmente manobrável e ideal para a vida urbana, que tal se ele fosse tão manobrável que ele possa fazer trajetos complicados como as curvas de letras redondas e os encontros com hastes e traços? Eis o caso premiado em Cannes do Toyota iQ, concebido pela Happiness e desenvolvido pela PLMD e Zach Lieberman.
Falando em ganhadores de Cannes, trago mais dois premiados na roda. The Fading Font é uma fonte Hanzi com traços pontilhados para alertar a população chinesa sobre o mal de Alzheimer. Como no Hanzi, há diversos caracteres que são compostos por outros caracteres primários, os tracejados representam memórias se apagando. Ainda sobre memória, a Universal Typeface é campanha da DDB para a Bic que resultou numa fonte feita com a memória coletiva da escrita de milhares de pessoas.
Ainda trago para esta edição a Nana Serif de Yomar Augusto, produzida para uma série especial de etiquetas da Chiquita, e a Optician Sans, de Fábio Duarte Martins, para o rebranding da Optiker-K. O importante nesses casos não é se as fontes terão vida longa ou serão as próximas Helveticas. São, na verdade, uma forma modesta das marcas se comunicarem diferente do comum, mostrarem quem são, como se posicionam e o que podem fazer pelo modo de vida das pessoas.
Posicionamento, aliás, é um assunto tão importante em branding que não existe mais a chance de uma marca não assumir posicionamento. Não falamos mais de um público que só compra produtos, mas que também se orienta pelo posicionamento das marcas que consome ou não, mesmo que uma marca não saiba o posicionamento dela (o pior dos mundos). Mais ou menos como se você fosse um jogador que tenta posicionar-se como alegre e ousado, mas acaba caindo mais do que jogando. Ele não se posiciona como quer, mas a Internet posiciona ele. Não do jeito que ele não gostaria.
Recomendações:
Escrito em 97123.44