Crescer dói e ponto.
Olá você,
Chegou mais uma edição da Não é Spam.
Em algum momento da vida, você já sentiu dor de crescimento? E não tô falando da dor física que sentimos na infância. Quando os ossos estão crescendo. Estou falando daqueles momentos de dor que temos ao perceber e enfrentar coisas de gente grande.
Cara, como crescer e evoluir é complexo. Não tem data para terminar né? Estamos em eterno aprendizado.
E por vezes isso é muito gostoso de perceber porque nos sentimos orgulhosos de todo nosso progresso. Mas às vezes dá aquela preguiça do tipo "pqp, mais uma decisão foda para tomar, mais uma coisa para pensar, mais uma ação para ajustar, mais uma conversa delicada pra ter."
Sim, o trabalho não acaba. E tudo bem que nem sempre parece trabalho, porque crescer também traz novas perspectivas e liberdade. Mas como tudo que temos que lidar, há os dois lados sempre.
Não é sempre gostosinho. Às vezes dá vontade de pedir licença pro mundo e voltar pro quentinho do útero, né?
Eu sei. Eu também me sinto assim. Estar disposto a crescer não é nada fácil e nem sempre é prazeroso. Nem as decisões acertadas são fáceis de serem tomadas, imagina as difíceis?
TUDO TEM DOIS LADOS.
Mas tudo (absolutamente tudo) é aprendizado.
Nunca mais vai te faltar assunto no elevador...
Toda semana falo aqui de assuntos variados como trabalho, produtividade, descanso, feminilidade, liderança. Tem também a entrevista ping-pong.
Essa news é um complemento (talvez um espaço mais extenso) do meu instagram @clubebadass.
Ping-pong ☕
A entrevista de hoje é com a Marcela Franco (@mmfosorio).
Jornalista, doula e mãe. Conheço a Marcela há alguns anos e sempre acompanhei sua trajetória. Sou fã da sua força visceral de mulher.
Além de ser uma profissional super competente, Marcela é luz. Ela divide dores, dias bons, sombras. E essa vulnerabilidade exposta é uma fortaleza quando pode nos ajudar e ajudar os outros. Obrigada, Marcela, pela entrega nesse convite. Você é simplesmente incrível!
Vem comigo conhecer mais dessa mulher <3
1) Conta um pouquinho antes como é sua profissão, o que te fez escolher ela e como você chegou onde está hoje. Basicamente sua trajetória.
Eu sempre gostei de escrever. Era o meu refúgio, meu momento de prazer e de conexão comigo mesma, desde criança. Também sempre gostei de me apresentar, de falar em público, de ser vista, filmada, fotografada (gastava todo o filme da câmera tirando foto minha, quando nem existia o termo “selfie” kkkk). Vem da minha alma mesmo, sabe? Então, com 17 anos (em 2010) e me vendo na obrigação de escolher um curso superior, eu optei por “Comunicação Social”. No segundo semestre e já estagiando na TV Band, eu decidi que o meu lugar era, de fato, o Jornalismo. Depois estagiei também na Rádio BandNews FM, me formei e comecei a fazer frila na produção do SBT. Logo no primeiro mês o apresentador à época, Álvaro Pereira, já me contratou como produtora na empresa dele, que fazia o programa Interesse Público, do Ministério Público Federal. Fiquei dois anos na produção e, assim que tive oportunidade, fui pra reportagem. Nessa época eu ainda fazia frila no SBT eventualmente, mas também como repórter. Até que, em 2017, a produtora em que eu trabalhava perdeu a licitação do MPF e toda a equipe foi desligada. Aí eu decidi empreender, criei uma marca chamada Manteighee e, quando menos esperava, me vi grávida. Gestei, pari, passei o primeiro ano do meu filho 100% voltada à maternidade (por escolha mesmo) e acabei surtando. Eu precisava voltar a trabalhar fora! Faz parte de quem eu sou. Eu ADORO trabalhar e comecei a sentir muita falta do jornalismo. Joguei essa energia pro Universo, comecei a me movimentar nesse sentido e, em 2019, fui contratada como apresentadora do mesmo programa que eu fui produtora e repórter naqueles anos – o Interesse Público. É aqui que estou até hoje e eu adoro fazer isso! Adoro escrever os roteiros, me conectar e sintetizar cada história que eu chamo quando vou pro estúdio e, claro, ADORO as gravações. Também me sinto muito realizada porque é um trabalho que me permite conciliar bem com a maternidade e outros projetos. Pra mim, isso é sucesso – e não necessariamente estar na Globo ou na CNN, como uma galera me cobra ao dizer que eu sou tão boa no que faço, que deveria estar em algum desses veículos rs.
2) Um dos principais debates sobre trabalho é: dizem que a gente pode escolher um trabalho (que tem um propósito) ou um emprego (para pagar as contas). Como você enxerga o seu lugar profissional no meio disso?
Essa é uma reflexão super importante e necessária! E é também uma cansativa busca que eu faço desde sempre na minha vida rs. Eu sei que tenho muito talento como comunicadora, mas não me sinto 100% realizada nesse lugar hoje. É, sem dúvidas, o que me permite pagar as contas (e que bom que eu gosto de fazer isso também). Mas sinto que falta alguma coisa, sabe? O tal do propósito sempre esteve no meu radar, desde os testes vocacionais na escola rsrs.
Com muita terapia, tenho entendido que o que faz minha alma brilhar (e que eu faria mesmo que tivesse todo o dinheiro do mundo) é ajudar as pessoas.
No meu trabalho como jornalista, apresentadora e atriz (faço uns trabalhos de publicidade eventualmente), eu sinto que não alcanço esse propósito como gostaria, então minha alma sempre dá um jeito de criar alguma outra coisa. Olha só: como comunicadora que sou, eu compartilho um pouco da minha história com quem me acompanha no Instagram (fazia isso desde o fotolog kkk), como mulher e mãe que sou eu decidi acolher (enquanto doula holística) outras pessoas que gestam e, como escritora que sou, eu comecei a esboçar o meu primeiro livro e espero, a partir da minha dor, ajudar muitas pessoas!
3) Você ama o que você faz? Como lida com dias ruins?
Vou usar a pergunta anterior pra responder essa aqui, tá? O meu emprego (para pagar as contas) eu posso dizer que adoro! Não tenho dificuldade em realizar as tarefas, flui com naturalidade e eu posso (dentro de um limite) me expressar de alguma forma. Mas é claro que existem dias ruins e, quando eu me vejo meio desanimada, sempre me lembro das coisas boas que esse emprego me possibilita – no caso o tempo, a flexibilidade e a possibilidade de conciliar com outros projetos. Me lembro que eu sou muito mais do que isso que eu faço aqui, sabe? Lembro que eu me movimento em busca do que eu acredito, lembro que eu me conecto e ajudo as pessoas, lembro que eu me permito olhar pros meus sentimentos e não escondo isso de ninguém. Aí eu choro ou reclamo um pouquinho se precisar, converso com quem eu preciso conversar no trabalho (sempre sendo sincera sobre o que eu sinto e me dispondo a ouvir o outro sem julgamento), respiro, agradeço, recupero minhas forças e volto com tudo pra bater o ponto e fazer o que tem que ser feito! Não há absolutamente nada que não possa ser resolvido com uma boa conversa. Muitas vezes o problema parece muito maior na nossa cabeça e, quando conversamos com clareza, percebemos que nem era tudo aquilo e chegamos, juntos, às soluções necessárias.
4) Como você enxerga essa nossa cobrança adulta por sermos os melhores, querermos abraçar o mundo e estar sempre produzindo? Como você lida com isso também?
(Paulinha, sério, você andou ouvindo minhas sessões de terapia?) Rsrsrs Gente, esse tem sido um dos temas principais das minhas reflexões ultimamente. Eu sou muito intensa e me entrego de corpo e alma pro que eu acredito, só que também tenho essa sede absurda de abraçar o mundo, de fazer milhões de coisas ao mesmo tempo e isso muitas vezes acaba me levando a lugar nenhum, sabe? Eu vou com tudo no início, me cobro muito, acabo desequilibrando os pratos (porque além de produzir intelectualmente temos a realidade, a rotina e, no meu caso, a maternidade) e abandono vários projetos, aí me sinto um fracasso e depois fico pensando como estaria se eu tivesse dado continuidade. É bem frustrante e tem várias camadas aí pra refletirmos, né? Mas, pra não me estender muito, já vou compartilhar com vocês o que eu tenho aprendido com minhas experiências e com a terapia.
Temos a demanda da alma, do espírito (aquela que faz brilhar os olhos e acelerar o coração, sabe?) e temos a demanda da matéria (o tal do emprego que paga as contas, a roupa no varal, a louça na pia, a comida que precisa ser feita, as crianças pra quem tem criança...). Nós somos tudo isso, e o segredo é encontrar uma forma de equilibrar as coisas.
Pra mim, funciona muito colocar no papel essa demanda do espírito, sabe? Tentar entender de onde vem, olhar pra isso. Ajuda a tirar aquela sensação de angústia de quando temos 1000 ideias embaralhadas na cabeça. Olhando pra isso, eu percebo o que é prioridade, qual é o primeiro passo que eu preciso dar pra alcançar esse objetivo maior e o que é viável agora. Porque se focamos muito lá na frente, acabamos desistindo antes mesmo de começar. Tenho tentado (tô aprendendo também) organizar essas ideias e ver quantas horas por semana eu posso me dedicar a elas – lembrando que o descanso precisa estar nesse planejamento, hein? Encaixo o que é possível na rotina (porque nem tudo vai ser, e talvez não seja o momento mesmo) e vamos lá! Uma frase muito importante que eu ouvi esses dias e não posso deixar de passar pra vocês: “É muito injusto comparar o palco do outro com o nosso bastidor”. Sejamos gentis conosco e respeitemos os nossos limites. Isso é ser forte de verdade!
5) Mãe, jornalista, doula. Mulher foda. Como você concilia tudo?
Que honra! Fiquei emocionada! Recebo e agradeço muito, Paulinha! Todas nós somos!
Bom, preciso começar falando que meus filhos já vão pra escolinha e ficam por lá umas boas horas. O Antônio tem 5 o e Bernardo tem 2 anos. Já houve um tempo em que eu me sentia muito mal por deixá-los na escolinha, mas depois de passar MUITO perrengue, me sentir extremamente sobrecarregada e surtar quase todos os dias, percebi uma coisa: eles ficam MUITO mais felizes e se divertem MUITO mais na escola do que trancados em casa pedindo atenção enquanto eu tento trabalhar e cozinhar com eles ali. Qual é a qualidade de presença que a gente tem quando tenta dar conta de tudo ao mesmo tempo? Isso é uma ilusão, gente! Precisamos nos libertar (e libertar os nossos filhos) de toda essa cobrança. Hoje a minha maternidade é muito mais leve e temos muito mais tempo de qualidade juntos. Porque quando estou com eles, estou REALMENTE com eles e deixo todo o resto de lado! Além disso, o pai deles é pai e, assim como eu, faz tudo o que tem que ser feito. Se eu sinto que tá pesando muito pro lado de cá (ou ele pro lado de lá) a gente conversa, alinha e segue criando os nossos filhos e cuidando da casa juntos.
Dito isso, eu busco sempre organizar a minha rotina de acordo com a previsão de compromissos que eu tenho pra cada semana (Oi, Google Agenda! Anoto TUDO lá!). Como jornalista eu trabalho meio período, então separo minhas tardes pras outras funções. Na segunda-feira eu cozinho uma boa base de comida pra semana (e aí ao longo dos dias vou inventando uns mexidões e outras receitas com o que já tem na geladeira), agendo meus atendimentos com as gestantes sempre pros outros dias à tarde e tento encaixar no mínimo dois dias de treino, porque eu AMO, me faz bem demais e não abro mão. Quando tá puxado demais eu corro na casa da minha sogra pra pegar alguma coisa pros meninos jantarem e é isso. Não dou conta de tudo e tô aprendendo a pedir ajuda! Querem mais uma frase que eu amo? “Uma lista interminável de coisas para fazer é uma tática infalível para aprisionar uma mulher”. Priorizemos!
6) Você mantém projetos paralelos né? Como é isso pra você?
Aiii, sim! Tô nessa vibe agora! Hahahah
Brincadeira, mas tenho incluído um espaço pra exercer aqueles pedidos da alma nos últimos tempos. Semana passada eu comecei a colaborar como voluntária no Instituto do Luto Parental (não falamos sobre isso ainda, mas eu também sou mãe do Bento – um bebê que teve uma breve passagem por aqui, mas que é filho assim como os outros) e tenho escrito textos e criado conteúdo pra acolher outras famílias que já passaram por perdas gestacionais, neonatais e infantis. Ao mesmo tempo (tudo acontece como tem que ser, né?) comecei a escrever o meu primeiro livro, que tem tudo a ver com isso. Minha alma tá gritando, eu tô tentando conciliar com as demandas da matéria, tô respeitando meu ritmo e minhas possibilidades e sei que o que tiver que nascer vai nascer na hora certa. A terapia tem sido minha âncora, meu incentivo e o resgate da minha essência!
Posso indicar um podcast pra vocês? Talvez Seja Isso – um projeto das amigas Barbara Nickel e Mariana Bandarra. Juntas, a cada episódio elas conversam sobre um capítulo do livro Mulheres que Correm Com Os Lobos, da psicóloga Clarissa Pinkola Estés. E, na segunda temporada, trazem reflexões MUITO transformadoras com as Premissas da Mulher Selvagem. Uma delas é a frase que eu citei na penúltima pergunta. Mergulhem nessas 11 premissas e levem pra vida!
Geradores de assunto no elevador 🧊
A indicação ficou por conta da Marcela hoje. Vou correndo ouvir!
Olha que amor esse insta de lugares para ler.
Para refletir 🧠
O que você faz por você no dia a dia? Uma vela no banho, um café no meio da tarde, uma conversa com amigos, um cineminha matinê... anota ai! Quem segue a Marcela no insta sabe que ela faz o #meumerecidomomento ao final dos dias com banho a luz de velas e momentos de autocuidado.
Vale a pena investir tempo na gente :DDD