A vida é movimento
Olá você,
Chegou mais uma edição da sua news favorita Não é Spam. 📧
Hoje quase escolhi dormir mais um pouco. Sem revisão, mas no horário.
Por que vendem tanto a ideia de vida estável?
A definição de estabilidade no dicionário é: firmeza, solidez, imobilidade.
Quem quer ser imóvel?
Independente da gente querer ou não, do que escolhemos como profissão e de como vivemos nossa vida, sempre haverá movimento. É fato.
Não há como evoluir estando sempre no mesmo lugar. Permanecer estável é uma utopia, dessas que nos vendem para acreditarmos que temos qualquer tipo de controle.
Então, para que serve essa ideia de emprego público, de permanecer num casamento mesmo infeliz, de se espremer para caber em lugares que claramente não são nossos pelo simples fato de pertencer?
A gente busca o familiar, o conhecido. Seria mais simples aceitar que vamos viver assim. Mas, então, por que todos os novos dias trazem novas possibilidades?
É a vida te convidando ao movimento. Seja do mais simples ao mais complexo, nada resiste a instabilidade bonita de estar vivo e poder escolher todos os dias fazer igual e diferente.
O movimento acontece todos os dias. Quer a gente queira ou não. É força da natureza. É instinto. É vida.
Nunca mais vai te faltar assunto no elevador...
Toda semana falo aqui de assuntos variados como trabalho, produtividade, descanso, feminilidade, liderança. Tem também a entrevista ping-pong.
Essa news é um complemento (talvez um espaço mais extenso) do meu instagram @clubebadass.
Ping-pong ☕
Juliana Ghazi: trabalha no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em Amman, Jordânia.
Ela é incrível. Daquelas que têm um trabalho que todos concordam que têm propósito. Daquelas corajosas. Daquelas que a gente vibra à distância.
Juliana é movimento e sabe disso.
Se liga nessa história!
1) Conta um pouquinho antes como é sua profissão, o que te fez escolher ela e como você chegou onde está hoje. Basicamente sua trajetória. Queria que você contasse um pouco também sobre a sua escolha de ir pra fora.
Eu trabalho no Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em Amman, Jordânia. Minha profissão pode ser entendida por alguns ângulos e nomenclaturas diferentes. Por um lado, sou o que chamam de “trabalhadora humanitária”. Por outro, no momento, trabalho em um escritório e não no “campo”, como dizemos. Estou um pouco mais afastada dos nossos beneficiários, por assim dizer. Ou seja, tenho um trabalho de escritório, onde reviso propostas, relatórios, mas claro que tudo isso com o cunho humanitário e com uma função: cumprir o nosso mandato, o mandato do ACNUR, que é o de proteção internacional dos refugiados, requerentes de asilo, deslocados internos, apátridas e retornados.
O que me fez escolher essa profissão? Bem, desde muito nova eu queria trabalhar para “ajudar os outros”. Parece que desde nova tinha um chamado, algo lá dentro que dizia que foi pra isso que vim ao mundo, basicamente. Sempre fui muito consciente dos meus privilégios – estudei em colégio particular no Rio, cursei faculdade particular, nada nunca me faltou – e me causava desconforto ver que muitos outros não tinham as mesmas oportunidades. Decidi, assim, aplicar meu conhecimento em prol daqueles que mais necessitam.
Minha trajetória acadêmica envolveu uma graduação em Relações Internacionais (PUC-Rio) e um mestrado em Antropologia com foco em estudos de migração forçada (IHEID- Genebra). Depois disso, trabalhei em algumas ONGs como a Care Internacional e a Anistia Internacional, ambas em NY. Ingressei na ONU como UNV (United Nations Volunteers), o nome do programa não faz jus pois na verdade é um trabalho remunerado. Passei dois anos em Luanda, Angola como UNV. Depois virei staff do ACNUR em Maputo, Moçambique, onde passei mais dois anos. Desde maio do ano passado, trabalho no escritório regional do ACNUR para o Oriente Médio, que fica em Amman.
Falando assim parece tudo bem linear, mas não é. Escolher essa profissão é também renunciar, por inúmeras vezes, de aspectos da sua vida pessoal, de conforto, estar longe da sua base familiar, dos seus amigos. É uma grande batalha interna, mas que eu decidi viver e da qual não me arrependo!
2) Um dos principais debates sobre trabalho é: dizem que a gente pode escolher um trabalho (que tem um propósito) ou um emprego (para pagar as contas). Como você enxerga o seu lugar profissional no meio disso?
No meu caso, acho que eu tive sorte de escolher um trabalho que me traz propósito, e ao mesmo tempo paga as contas. Não acho que precise ser ou uma coisa ou outra, acho possível trabalhar em algo que nos traga alegrias e prazer. Mas, como disse, eu sei que tenho muita sorte de fazer algo que amo.
3) Eu enxergo o seu trabalho com muito "propósito". Você sente isso? Isso te gera pressão?
Eu sinto que meu trabalho tem sim um propósito, e me sinto honrada em poder fazer parte disto. Não me gera pressão, mas ao mesmo tempo me traz um certo incômodo quando vejo que algumas pessoas diminuem o trabalho que fazem quando se comparam ao meu – não fazem isso de propósito, claro, fazem para elogiar.
Mas eu sou da opinião de que qualquer trabalho pode ter propósito, desde que façamos com amor, cuidado, respeito. E claro que meu trabalho, por ter um cunho humanitário, grita “propósito” com mais clareza, mas não é por isso que outros trabalhos não possam ter o mesmo efeito.
Uma vez, meu tio, que é um cara que admiro muito, me disse assim: “tá vendo esse cara consertando a escada rolante aqui no aeroporto? Ele está permitindo que várias pessoas se locomovam de um andar para outro do aeroporto. Tem noção de quantas pessoas usam a escala rolante por dia?”. Nunca esqueci disso, me fez pensar que de fato todos nós temos nossa importância no mundo, nosso tão sonhado “proposito”, desde que façamos o bem, independente da profissão que exercemos. Não se iludem, existe muita gente que eu não admiro que trabalha na ONU… e muita gente que faz algo completamente diferente e não necessariamente humanitário e que eu admiro muito mais.
4) Você é feliz hoje com o que você trabalha? Qual ponto alto e o ponto baixo?
Eu sou super feliz e realizada com meu trabalho. O ponto alto é sentir que meu trabalho gera um impacto positivo na vida de tantas pessoas. No meu caso, eu trabalho com doadores e mobilização de recursos, então saber que o dinheiro que minha equipe mobiliza é investido diretamente na melhoria das condições de vida dos refugiados, é extremamente gratificante. O ponto baixo, sem dúvidas, é a distância física das pessoas que amamos, principalmente da minha avó, que está no Brasil e do meu namorado, que está em Moçambique. Acaba sendo uma vida um pouco solitária, muitas vezes distante da família, e sempre em movimento. Tive a sorte de fazer grandes amigos em todos os lugares que morei, mas eventualmente a hora da despedida chega, e nunca é fácil.
5) Como lida com os dias difíceis? Porque no fundo a gente não consegue se desassociar quem somos e quem vai pro trabalho, ne?
Haja terapia! Bem, eu tendo a acumular bastante e empurrar a tristeza lá pra dentro, esperando que um dia desapareça, sabe? Mas é claro que sabemos que não é assim. Então a terapia me ajuda bastante a lidar com minhas frustrações, medos, etc. Um grande problema é que, no meu trabalho, principalmente quando estou mais perto dos beneficiários – em uma missão a um campo de refugiados, por exemplo, conversando com eles – eu preciso ter muito cuidado para que a emoção não tome conta, preciso conseguir analisar o caso sem me envolver completamente, mas também sem deixar de demonstrar empatia. É um equilíbrio difícil de ser alcançado. E aí a volta pra casa se torna um desafio, porque somente quando estamos sozinhos temos a chance de refletir sobre a história que ouvimos naquele dia, e por vezes sentimos que nossos esforços nunca serão suficientes para resolver todos os problemas. Surge, juntamente a isto, uma tendência a não nos permitirmos sofrer pelas nossas questões, que muitas vezes se tornam pequenas perto do que assistimos. Por isso mesmo, a terapia, os momentos de lazer (eu amo ver série!) são essenciais.
Geradores de assunto no elevador 🧊
Eu amo acompanhar o @bandaidforheart. Tem posts com reflexões incríveis. Sabe aquilo que precisamos ler em alguns dias?
Tô curtindo muito esse podcast do The Summer Hunter, Desenrola.
Tem dias que dá mesmo vontade de fugir pra uma ilha. Sem celular, então. O verdadeiro detox existe.
Para refletir 🧠
O que te consome?