Gatos, Almas e 5 cents #04
Hey. Hi.
Faz tempo que eu não venho aqui e não vou me desculpar.
Era parte do trato, certo? Fazer quando desse vontade, com o que eu quisesse fazer, não era por aí? Ok. A gente fez um trato: vocês não ficariam chateados e eu não me sentiria culpado. Vamos manter assim.
Vai dar tudo certo.
INSPIRAÇÃO
Deve ser meio surpreendente para vocês, mas nem sempre eu sei o que fazer criativamente falando.
Quer dizer, quando você TRABALHA usando a criatividade, existem as coisas que você TEM que fazer, independentemente de se sentir criativo ou não. É o seu trabalho.
Aqui entra o RPG, a Dragão Brasil e Tormenta e tudo mais. Não é uma divisão exata, um corte seco. Ter que fazer não quer dizer não se divertir fazendo. Às vezes é uma obrigação e você é profissional. Na maioria das vezes você faz sua obrigação e se diverte. Muito. É a vantagem de trabalhar com o que você gosta. Como é que dizem? "Trabalhe com o que gosta e você nunca mais terá que trabalhar um segundo na vida?". É bobagem na maior parte das vezes, mas de vez em quando não é.
Enfim, I digress.
Nos momentos em que não estou pensando em Tormenta (e são raros, porque vou dizer, praticamente tudo o que eu penso pode de algum jeito se transformar em algo a ser usado em Tormenta. Tudo.) eu fico um tanto encurralado com o que fazer. Muitas vezes eu queria algo que fosse o inverso do que faço quando trabalho, mas é raro saber exatamente o que. Tão raro que fico perdido. Pior quando algo me inspira num nível visceral. E aconteceu isso hoje.
Estava assistindo à terceira temporada de Love, Death + Robots -- que tá com um nível muito alto, inclusive -- e fiquei impressionado com o último epísódio, Jibaro. Quando isso acontece, eu sigo a estrada de tijolinhos dourados e vou atrás de tudo o que for relacionado.
Fui ver quem era o autor principal: se trata de Alberto Mielgo, espanhol pintor e animador. Se o nome não lhe traz nada, ele foi o autor também de The Witness, episódio muito marcante na primeira temporada de Love, Death + Robots. Pesquisei mais e descobri que é dele The Windshield Wiper, ganhador do Oscar de Melhor Curta de Animação em 2022. E esse aí bateu. Forte.
São 15 minutos mais ou menos, compostos de vinhetas em vários estilos, respondendo parcialmente a pergunta "O que é o amor?". Nada é longo, nada é entregue de bandeija e a maior parte do que compõe cada história é preenchida pelas experiências, vivências e expectativas de quem assiste. É, na minha avaliação (e na de gente muito mais entendida no assunto que eu) brilhante.
E aí bate aquela coisa no peito: "É isso que eu quero fazer. É esse tipo de sensação que eu quero causar nas pessoas". Como? Esse é o problema.
A primeira vez que isso me aconteceu foi no fim da exibição de SEVEN no cinema, em sei lá, 1995. Até hoje não descobri um jeito, ou se tenho capacidade para tanto. Esse labirinto de vontade me causa angústia, e a angústia nitidamente sufoca meu poder criativo. Ou seja: sobra a admiração pela obra e o desespero de não conseguir nem tentar chegar perto. Soma-se a isso a tirania de uma cabeça que não permite sequer a ideia de errar, e temos uma paralisia criativa que é, na falta de qualquer outra palavra melhor, torturante.
Enquanto isso, o que existe de criativo em mim continua fervendo. É como se eu consumisse, consumisse, consumisse e não conseguisse botar para fora. Como se alguém enchesse uma Coca-Cola de Mentos (lembram disso?) mas tivesse descoberto a tampa mais resistente já feita pela humanidade. E o que tá lá dentro não encontrasse por onde sair.
Um dia, espero, a garrafa explode.
BÔNUS TRACK (literalmente)
No finzinho de The Windshield Wiper toca uma música do tipo que eu gosto: cantora cantando letra triste acompanhada de violão.
Obviamente fui procurar no créditós e achei. A artista chama Soka e a música é We Might Be Dead By Tomorrow. Para ver o clip super fofinho é só clicar aqui.
Por hoje é só, galera!
Cheers!
J.M.Trevisan