Gatos, Almas e 5 cents #03
Olá, pessoas!
Chegamos à terceira edição da nossa newsletetter que já é um sucesso!
Quer dizer, um monte de gente assinou mas eu não sei se alguém leu, então se for para escolher, prefiro pensar que está todo mundo curtindo e contando para os amigos, certo?
Certo.
Bom, a gente pode dar algum jeito nisso na real. O e-mail que eu uso para enviar a newsletter não é meu e-mail pessoal, foi feito só para este fim. O que a gente pode fazer é: escrevam dizendo o que estão achando, fazendo perguntas, sei lá. E aí, dependendo da quantidade, posso fazer um tópico na própria newsletter com o que eu achar legal, de acordo com os meus padrões particulares. O que acham? Se alguém quiser perguntar algo mais pessoal e não quiser ser identificado, é só avisar que eu dou um jeito.
Spo o que eu NÃO QUERO e, acreditem em mim, NÃO VAI rolar, é receber mensagem de cunho profissional.
Tipo, gente querendo que eu olhe trabalho ou arrume uma vaga em algum lugar ou qualquer coisa assim. SÉRIO, nem tentem.
Pode parecer um movimento esperto, mas não é. Para isso a editora tem seus próprios canais. Eu inclusive me reservo o direito de bloquear quem encher o saco, porque a vida é assim :)
(Mas nada disso vai acontecer, porque vocês são incríveis e eu sei disso)
A HISTÓRIA DO LADRÃO DE CARNES
Estava eu indo almoçar no Pampa Burguer (uma hamburgueria aqui do sul. Eles fazem coisas tipo hamburguer de costela, decoram o lugar com fotos de cavalos, gaúchos de bigode e dos pampas, e deixam tocando músicas típicas. A comida é ótima, a música nem tanto) quando ouvi uma gritaria na esquina.
Tinha um senhor na frente de um bar e um segurança de branco gritando na cara dele. O tiozinho tentava parecer ameaçador, mas o segurança era obviamente muito maior que ele. O cara avançou para cima do idoso e enfiou a mão por baixo da camisa dele, e tal qual um mágico de festa de aniversário (alguém ainda contrata mágicos para aniversários?) apareceu com uma badeja de carne.
2+2 = 4: o tiozinho tinha roubado a parada e o segurança era do supermercado que ficava ali do lado.
A partir daí, muita coisa aconteceu: o senhor atravessou a rua ainda tentando retrucar as ameaças (não teve agressão); um rapaz classe média parou de carro no semáforo na minha frente, botou a cabeça pro meu lado e falou “Por que não deixam o cara levar, porra? É só comida” e eu respondi “Pois é”, por baixo da máscara; do outro lado da rua, os garçons do bar riam: “Ele achou que ia sair sem pagar igual aqui”; na outra esquina o senhor ia embora, perseguido sem muito entusiasmo por dois motoboys a pé, que gritavam meio rindo, meio revoltados: “Velho ladrão!”.
Tudo isso em um espaço muito curto de tempo.
Eu não sei qual é a história do cara, se ele não tinha vergonha na cara, onde mora, ou se já tinha algum histórico, mas eu nunca tinha visto alguém roubar comida.
Não um Sonho de Valsa, um chocolate, alguma bobagem mais pelo esporte e adrenalina idiota. Coisa de moleque que eu já fiz quando era pirralho, inclusive. Eu nunca tinha visto ninguém roubar comida de verdade.
E, sei lá, na minha cabeça acho que ninguém arrisca enfiar uma bandeja grande de carne por baixo da camisa e passar vergonhaa na rua só para fazer graça. Quem tenta fazer isso é porque tá com fome ou não tem dinheiro, ou ambos.
Pode parecer só uma história besta, uma curiosidade, mas é muito mais que isso. É um retrato rápido de como as coisas estão realmente complicadas.
WAKE UP
Já esqueci por que, mas o Spotify resolveu me lembrar que o Arcade Fire existe, e eu devia muito agradecer.
Não vou dar o perfil completo da banda aqui, porque é 2022 e você pode correr na Wikipedia ou onde quer que seja e conseguir informações bem mais precisas que as minhas, então vou falar o que eu meio que sei, meio que lembro, assumindo cem por cento o risco de errar.
Arcade Fire é uma banda canadense, embora eu não tenha certeza se todo mundo lá é do Canadá, porque tem gente pra porra. Não sei se se encaixa no post-punk (eu não sei o que é post-punk até hoje) e eu conheci acho que por volta de 2003/2004, junto com Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Beirut e Clap Your Hands Say Yeah, na pista do Milo Garage.
O Milo, inclusive, merecia todo um tópico a parte, porque sempre foi uma daquelas baladas alternativas de verdade, onde você ia para ver os amigos e ouvir as músicas que gostava, sim, mas também ia para descobrir coisa nova.
O mais foda é que o lugar ainda existem e eles ainda cobram 15 reais a entrada.
Mas enfim: Arcade Fire.
O som deles é muito particular porque, como eu disse, tem uma pá de gente tocando ao mesmo tempo às vezes, e rola um lance meio nostálgico e ao mesmo tempo moderno. Numa hora tá rolando uma parada meio oitentista, e ai de repente quebra tudo, entra um coral e a coisa cai pra um Roy Orbison (que gravou Pretty Woman, mas gravou também I Drove All Night) sessentista total. Ou surge um órgão de igreja do tamanho do mundo. Ou umas batucadas da américa central. É coisa de louco, mas nem é a maior qualidade.
O que me pega de verdade é que as músicas têm, na maior parte das vezes, a qualidade de te pegar fundo. Ou a letra te faz traçar um paralelo com algo que rolou com você há muito tempo e tava soterrado no fundo do cérebro, ou o ritmo te carrega para o alto e te faz flutuar, ou te injeta uma carga de adrenalina vinda sei lá de onde, que te faz querer sair correndo até o ar faltar. Se não faz sentido, ok, porque se fosse fácil explicar esse tipo de coisa, a música enquanto arte não existiria.
A grande amostra de tudo isso para mim é Wake Up, principalmente ao vivo. É um hino, no sentido real, antes dos fãs de divas pop e bandas indie banalizarem o termo. A letra, inclusive, é ótima. No Cars Go é outra que também vai bem.
Se você não gostar, não há nada errado. Provavelmente alguma outra coisa te toca do mesmo jeito, e tá tudo certo.
Ah, se for ouvir a discografia, comece em ordem cronológica porque parte disso acaba sido deixado um pouco de lado em álbuns mais recentes. Faz tempo que eu não tento ouvir o último, mas lembro que não gostei muito porque me soou oitentista demais. De repente foi birra minha. Talvez eu tente essa semana.
ONE BOURBON, ONE SCOTCH, ONE BEER
Se você me acompanhou na época da Dragão Brasil impressa, sabe o quanto eu me vangloriava de ser um nerd frequentador de balada, que enchia a cara e deixava o trabalho para o último segundo. Era parte personagem, parte molecagem, parte problemas não diagnosticados gritando sem ninguém ouvir.
Se você me acompanha de alguns muitos anos para cá, sabe que eu parei de consumir qualquer tipo de bebida alcoolica. É uma parada que não faz mais parte da minha vida, sem que eu tivesse que entrar para alguma igreja (graças a Deus! Hahaha) nem nada assim.
Parei de beber primeiro porque descobri que tenho Transtorno Afetivo Bipolar e precisava me medicar. E quando eu falo “descobri” quero dizer “fui a um psiquiatra e ele me diagnosticou”.
Dependendo do médico que você vai, se você pergunta “Doutor, posso beber?”, ele responde “Pode, mas no dia que beber, não tome o remédio”. Ou seja, bebe mas vai na manha, porque se você beber todo dia, vai deixar de tomar o remédio todo dia e ai não vai funcionar merda nenhuma.
Cada um sabe como leva sua vida, e eu não só não vou pagar boleto de ninguém como não tenho diploma de medicina, mas minha regra foi (e continua sendo): se você toma remédio psiquiátrico, beber é contraproducente. Você curte, mas a ressaca no ânimo dura dias. O remédio tenta te levantar e o rebote da bebida te da uma rasteira. Não faz sentido.
Eu sei porque testei. No começo continuei bebendo, depois parei por 4 anos, aí voltei por um ano porque achei que tinha aprendido a lição. Surpresa: não aprendi, basicamente porque não há lição a ser aprendida. Você tem só que aceitar que a bebida não funciona mais para você e ponto final.
Nos primeiros quatro anos eu ainda tinha uma certa mágoa, do tipo “merda, eu queria muito beber, mas sei que não posso, por isso não vou”, e ficava me corroendo. Quando parei de novo, eu já tinha aceitado, e sigo assim até hoje. E tá ótimo.
“Pô, Trevisan, então você é contra a bebida?”
Eu? Não. Inclusive nunca enchi o saco de ninguém bebendo do meu lado. Meus amigos inclusive tem carta branca para trazer suas próprias bebidas quando vêm aqui em casa. Eu sou contra o modo como a bebida e o alcoolismo são vistos e tratados na sociedade.
Mas essa parte vai ficar para outra hora, porque isso aqui já tá gigante! :)
Por hoje é só, galera!
Cheers!
J.M.Trevisan